Ontem, quando Fabiana Beltrame disse que contava com Camila Carvalho para, juntas, disputarem as Olímpiadas de Londres-2012 no double skiff leve, nem imaginava o efeito que suas declarações teriam na remadora do Vasco.
Ainda se recuperando de uma cirurgia no joelho esquerdo, a brasiliense de 29 anos, que está contando nos dedos a hora de poder voltar a treinar no barco, recebeu as palavras de Fabiana como um estímulo.
Eu até liguei para agradecer a ela por lembrar do meu nome. Quando o médico disse que eu não podia disputar a seletiva nacional, fiquei muito chateada, porque tinha certeza que apareceria alguém para tomar o meu lugar. Na hora, pensei: pronto, agora acabou conta Camila que, em seguida, demonstra seu alívio.
Mas, no fim, nenhuma menina conseguiu uma boa colocação. E eu sabia que poderia ter ido bem se tivesse participado.
Camila sofreu o acidente emjulho do ano passado, quando estava indo para o treino e um skate bateu em sua bicicleta na ciclovia. Ela ganhou várias hematomas e o rompimento do ligamento cruzado do joelho esquerdo há dez anos, quando ainda jogava basquete em Brasília, ela rompeu o mesmo ligamento. Depois disso, desistiu do esporte e resolveu se dedicar ao remo.
Disputa de vaga no leve
Embora tenha tentado escapar da cirurgia dessa vez, não conseguiu. Em novembro do ano passado, teve que ser operada. A volta ao remo será em maio. Até lá, mantém a forma física com muito musculação e bicicleta ergométrica.
Semana que vem, começo a dar umas corridinhas. Estou treinando muito e faço fisioterapia duas vezes por dia. Quando voltar a treinar na água, quero só ter que me preocupar com a parte técnica explica.
Enquanto Fabiana Beltrame é recém-chegada à categoria leve, Camila pode se considerar uma veterana. Com a paulista Luciana Granato, ela conseguiu a primeira classificação de um barco leve para as Olimpíadas, terminando em 14º lugar em Pequim-2008. Um pouco antes do acidente, em março do ano passado, a dupla conquistou a prata no Sul- Americano de remo, em Medellín, na Colômbia, no double leve. Ao perder peso, Fabiana tornou mais acirrada a briga por vaga na categoria leve.
Como Fabiana foi muito bem no Mundial (terminou em quarto lugar, a apenas 13 centésimos do pódio), eu já sabia que uma vaga seria dela. Então, se eu quisesse remar, teria que ser com ela, já que a Luciana não foi bem na seletiva afirma a remadora. Prestes a voltar, Camila anda repetindo a frase só faltam dois meses como um mantra.
Otimista e dedicada, ela acredita até que será possível ir ao Pan-Americano de Guadalajara, no México, em outubro. Para os Jogos de Londres, ela aposta até em um primeiro pódio inédito para o remo feminino do país.
Do jeito que Fabiana está forte, acredito mesmo que agente possa ter chance de medalha em Londres afirma ela, que diz não se incomodar com as expectativas.
Eu gosto disso. Quando você fica fora de todo o processo, dá um certo desânimo. Então, essa responsabilidade, essa pressão, acabam me motivando. É claro também que dá um pouquinho de medo, mas acho que tudo vai dar certo.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal O Globo)