O sessentão Renato Portaluppi foi padeiro ainda na infância. Montador de móveis adolescente. Ídolo máximo do Grêmio aos 21. Mistura de jogador com astro pop dos anos 1980 do Flamengo e despertou paixões em todo lugar por onde passou. O quasi, diriam os tifosi italianos.
Em entrevista no Abre Aspas do ge por quase 1h30 em Alcatraz, como chama carinhosamente a “prisão” de luxo que é o hotel onde vive em Porto Alegre, o treinador do Grêmio falou da vida, contou vantagens e falou de métodos particulares. Declarou-se ao Rio de Janeiro e prometeu, quando parar de trabalhar, ser mais um velhinho de 70, 80 anos na praia de Ipanema jogando futevôlei.
Nome: Renato Portaluppi, 61 anos. Atual técnico do Grêmio
Nascimento: 9 de setembro de 1962, em Guaporé (RS), criado em Bento Gonçalves
Carreira de jogador: Esportivo, Grêmio, Flamengo, Roma, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Fluminense e Bangu. Fez 42 jogos pela Seleção, com cinco gols.
Principais títulos: Pelo Grêmio, campeão Brasileiro (1981), da Libertadores e Mundial (1983) e Gaúcho em 1980, 1985 e 1986. Pelo Flamengo, Copa União (Brasileiro) em 1987, e Copa do Brasil (1990). Pelo Cruzeiro, Supercopa Sul-Americana e Mineiro (1992). Pelo Fluminense, Carioca (1995). Na Seleção, Copa América (1989).
Carreira de treinador: Madureira, Fluminense, Vasco, Bahia, Grêmio, Athletico e Flamengo.
Principais títulos: Duas Copa do Brasil (2007, pelo Fluminense, e 2016, pelo Grêmio). Libertadores da América, com o Grêmio, em 2017, além da Recopa Sul-Americana de 2018. Títulos Gaúchos com o Grêmio em 2018, 2019, 2020 e 2023.
ge: Você começou a trabalhar criança numa padaria. Como chegou o futebol na sua vida?
— Eu trabalhei dos 12 aos 14 anos como padeiro. Não era da família. Era de um desconhecido. Um dia ele me viu na rua, com a minha mãe, e disse que precisava de um garoto para trabalhar. Com 12 anos, pensei que minha mãe não fosse deixar. Insisti: “me deixa para poder ajudar em casa”.
— Dos 14 aos 17 para 18 anos trabalhei numa fábrica montando móveis. Mas nesse tempo sempre jogava pelada no colégio. Jogava o torneio entre as fábricas que tinha. Jogava vôlei, basquete, futebol de salão, futebol de campo. Eu participava de tudo. Era bom em tudo (risos). Numa dessas competições, no campo, um olheiro do Esportivo me pediu para fazer um teste. No primeiro dia agradei, era 1979. Fiquei uns 4 meses na base. O (Valdir) Espinosa, que era o treinador do profissional, pediu para treinar entre os profissionais. Falei que não podia porque eu jogava só no final de semana na base e durante a semana eu trabalhava pra ajudar a sustentar a família. Eram tempos difíceis.
Eram 14 irmãos. Você é o penúltimo dessa escadinha. Como era essa casa com tanta gente?
— A gente rezava para alguém casar para sair de casa (risos). Torcia muito. As minhas irmãs casaram e saíram de casa. Aí sobrava mais comida, sobrava mais espaço na casa. Um dos 14 irmãos morreu logo, mas são todos da mesma mãe e do mesmo pai. Nossa família sempre foi bastante unida. Todo mundo tinha que trabalhar, ajudar de uma forma ou de outra. Os meus irmãos foram saindo de casa, foram casando e fui ficando. Sempre falei que não queria casar tão cedo, porque queria ajudar meus pais. Por isso botei na minha cabeça que com o futebol eu ia conseguir.
A sua infância te remete a sacrifício pelo trabalho ainda criança? Ou você tem saudade?
— Minha infância foi dura porque não tive, por exemplo, oportunidade de poder começar a trabalhar com 16, 17, 18 anos. Comecei com 12 anos porque eu tinha necessidade de ajudar minha família. Estudava num período, trabalhava no outro. Por isso que digo que minha infância foi muito sofrida. Então não tive muito tempo...
— Parei de estudar praticamente na 1ª série. Tive que largar os estudos para trabalhar o dia todo. Aí quando saí da fábrica de móveis e queriam que eu fosse jogar… mas precisava trabalhar. Aí falaram: “a gente te dá um salário”. Aí fui jogar. Não é aquela infância que todo garoto gostaria de ter, entendeu? Foi sofrida assim, mas ao mesmo tempo amadureci cedo.