O custo de R$ 2,8 milhões mensais do elenco está longe de ser dos mais altos do Brasil, o que não significa que a vida esteja fácil para o Vasco. A saída de Fernando Prass, Nilton, Felipe e Alecsandro enxugou a folha, mas a partir do mês que vem, o clube começará a pagar o parcelamento de salários e direitos de imagem atrasados de quem nem está mais em São Januário. Essa é apenas uma das dificuldades que fazem parte da rotina do diretor executivo René Simões. Mas, com otimismo, o diretor enxerga na vinda de Paulo Autuori uma virada.
Precisávamos de um treinador com peso, do tamanho do Vasco. Jamais teríamos condição de contratá-lo pela questão salarial. Seria como contratar o Messi. Eu acho que contratamos o Messi dos técnicos. Gosto muito do trabalho dele vibrou.
Tem sido na conversa franca que René tem encarado os vários abacaxis para descascar. Foi assim que confrontou torcedores que tentaram entrar no vestiário de São Januário para enquadrar jogadores, semana passada. Foi assim também que demitiu Gaúcho, ainda no vestiário após a derrota para o Nova Iguaçu, o que quase custou a perda de Ricardo Gomes. Pela primeira vez, René admite que o diretor técnico chegou a pedir para sair do clube:
Ele ficou incomodado. Falou com o Roberto (Dinamite): vou atrapalhar. É melhor eu ficar fora. Eu liguei para o Paulo (Autuori). Eles haviam conversado a tarde inteira. O Paulo disse: se ele sair, eu não vou. Ricardo foi fundamental para a vinda do Paulo Autuori, que foi determinante para o Ricardo enxergar que não atrapalharia.
Sem recursos, os planos de reforços para a Taça Rio foram praticamente abortados. Para o Brasileiro, a expectativa é melhor. René Simões aposta as fichas na força do fator Paulo Autuori.
Creio que teremos pouca coisa na Taça Rio, mas para o Brasileiro será diferente. A vinda do Paulo nos dá outro peso, serve de exemplo. Torcedor, entre na briga e seja sócio. Grandes empresas, venham, vamos unir forças convocou, à espera de dias menos difíceis pela frente.
Confira a entrevista com René Simões, diretor executivo do Vasco:
Ainda se sente treinador? Pensa em voltar à função?
De manhã, eu acordo, tiro o uniforme de treinador e coloco o de executivo. Acho que não volto a ser treinador. A função de executivo é muito legal. O vestiário está controlado. As coisas estão funcionando como eu gostaria que funcionassem quando eu era treinador.
Quais são as maiores dificuldades neste começo?
Elas são diárias. Os jogadores que saíram, não fui eu que mandei embora. Eles já estavam liberados. Tivemos de montar um time da noite para o dia que não fosse ridículo. E não é. Conseguimos chegar à final da Taça Guanabara. Não acho o time horroroso como tem sido dito. Ele foi montado dentro de um orçamento. Estamos brigando agora com outras ferramentas, com parcerias, investidores, para melhorarmos a equipe.
Houve alguma saída de jogador que tenha doído mais?
A do Juninho. Conversei com o Alecsandro, tenho boa relação com ele, mas ele me disse que não dava mais. O Prass foi completamente educado. Mas o que doeu muito foi o Juninho. Eu sabia que ele queria ficar, tinha certeza. Alguma coisa que eu não sabia o que era, mas que hoje mais ou menos tenho ideia, fez com que ele saísse. Gostaria muito de ter trabalhado com ele.
E quanto ao Felipe, hoje, você agiria da mesma maneira, quanto à saída dele?
Quando li as declarações dele, vi que não poderia deixar que a anarquia tomasse o lugar. Não tenho nada contra o Felipe. Não me arrependo, acho que tomei a atitude correta. Passei uma imagem de organização com aquela decisão. O que acontece no Brasil é que os ricos, os famosos e os poderosos acham que podem tudo. Temos de passar a mensagem de que o rico, o famoso e o poderoso têm de obedecer as leis.
Pensa em escrever um livro sobre o trabalho no Vasco, como fez no caso do Coritiba e da seleção feminina?
Tenho tudo anotado sobre o trabalho aqui. Mas não sei. Eu não planejo essas coisas.
Como vê o futuro do Vasco?
Vejo o Expresso da Vitória voltando. Vejo as conversas, os treinamentos. Um trabalho desse não dá errado.