Política

"Resgate da credibilidade" e recado para a torcida... Jorge Salgado, ao ge

Com origem no mercado de investimentos, Jorge Salgado faz críticas à situação financeira e do futebol do Vasco. Candidato na eleição de 7 de novembro, ele diz ser o mais capaz de promover mudanças dentro e fora de campo, inclusive "destruir o projeto de futebol" existente no clube hoje.

- Do ponto de vista financeiro, o Vasco é um clube médio para pequeno na Série A. Temos que modificar isso radicalmente, reduzir a dívida e aumentar nossas receitas. Precisamos ter um pouco mais de inteligência na locação de nossos recursos - afirmou.

Salgado é o segundo entrevistado na série do ge com os candidatos à presidência do Vasco. De sexta a terça, será publicada uma por dia, sempre no início da manhã. As conversas também são gravadas em áudio. É só dar o play acima para ouvir o podcast com o candidato. A série começou com Alexandre Campello. Leia a entrevista dele no link abaixo.

Leia a entrevista

O senhor concorreu à presidência uma vez, em 1997, quando o Vasco foi campeão brasileiro. Por que decidiu se candidatar novamente, depois de mais de 20 anos, em um cenário tão diferente?

- Depois de 1997, o Vasco recebeu uma injeção muito forte de recursos, do Nations Bank, de 70 milhões de dólares. Na época, o clube tinha uma dívida de 10, 15 milhões de dólares. Havia 50 milhões de dólares para construir o maior clube do Brasil na época, deixar um legado para o torcedor, para o sócio. O que aconteceu foi que o pavio ficou aceso por muito pouco tempo. Se gastou essa grana toda em despesas correntes, não foi feito nenhum tipo de investimento relevante, nenhum legado.

A única coisa planejada, mas sem nenhum tipo de retorno, foi o projeto olímpico, que nos deu um prejuízo enorme e nenhum tipo de retorno. Até hoje tem jogadores daquele projeto com ações trabalhistas. O Vasco conseguiu a proeza de torrar 50 milhões de dólares e não deixar legado de planejamento e patrimônio. Conseguiu deixar algum legado no campo esportivo, foi campeão brasileiro e da Libertadores, mas acho que foi muito pouco para o tamanho dos recursos que o Vasco conseguiu.

Passado esse momento, na virada do século, o Vasco entra em um processo meio imperceptível de decadência. A gente desconfiava desse processo, mas os sinais ainda não eram evidentes. Começaram a ficar evidentes com três rebaixamentos, queda de receita, desempenho pífio do futebol. Eu assisti a tudo isso do lado de fora, pensei em voltar à cena política, mas sempre achando que encontraria resistência nas eleições fraudulentas e viciadas.

Este ano, depois de pensar muito, não poderia ficar fora. O Vasco numa posição muito ruim, não é mais protagonista, antes recebíamos a mesma cota de televisão dos nossos principais rivais. Hoje recebemos um terço do que recebe o nosso maior rival. Para se ter uma ideia do buraco que há entre o Vasco e nosso maior rival, nós recebemos mais ou menos R$ 100 milhões por ano da TV. Nosso rival recebe R$ 300 milhões. Uma diferença de R$ 200 milhões. Isso em cinco anos dá R$ 1 bilhão que o adversário recebe a mais. Tudo isso me motivou a voltar. Mas para voltar, eu precisava de tempo, estar num bom momento profissional e ter uma equipe de profissionais que me dessem segurança para fazermos um planejamento de médio a longo prazo para resgatar nosso clube nos pontos de vista de credibilidade, finanças e de desempenho esportivo. É por isso que me coloquei novamente como candidato.

Questão de atraso salarial é um problema de anos no clube. Quais são seus planos para tentar equacionar essa questão? Tanto para o elenco quanto para os funcionários...

- Perguntinha fácil (risos). O que precisamos é de dinheiro em caixa. Mas como vamos fazer isso? Hoje o Vasco está mais ou menos equilibrado no ponto de vista de despesa e receita, mas tem um déficit de caixa de mais ou menos R$ 100 milhões por ano. Sou uma pessoa oriunda do mercado de capitais, tenho uma empresa de investimentos há 37 anos. Tenho um grande relacionamento no mercado. Pretendo resgatar a credibilidade do Vasco. As instituições financeiras vão me ver lá dentro e olhar para o Vasco de um jeito diferente, com seriedade.

Estamos construindo uma captação de cerca de R$ 150 milhões, em duas fases. Vamos testar o mercado, não é uma coisa fácil um clube na atual situação do Vasco ir ao mercado buscar crédito. Mas é uma coisa que teremos que fazer. Temos que tentar. Vamos insistir. Já fizemos quatro reuniões com investidores do Rio de Janeiro e de São Paulo. São investidores que têm uma identidade com o Vasco muito grande, e estamos colocando todo nosso planejamento financeiro para os próximos seis anos. É um produto de renda fixa, que vai render mais ou menos 7% ao ano, terá uma carência de um ano e meio e prazo de resgate de cinco anos. Com esses recursos vamos usar uma parte para socorrer o caixa atual, uma vez que provavelmente encontraremos o clube com atraso de pagamentos. Pretendemos colocar em dia esses atrasos. O restante será para derrubar a dívida. O Vasco não pode ter uma dívida de R$ 600 milhões e ter uma arrecadação de R$ 200 milhões.

O Vasco virou um clube médio. Do ponto de vista financeiro, o Vasco é um clube médio para pequeno na Série A. Temos que modificar isso radicalmente, reduzir a dívida e aumentar nossas receitas. Precisamos ter um pouco mais de inteligência na locação de nossos recursos e aumentar nossas receitas. Vamos aumentar, com diversas ações de marketing que estão sendo desenvolvidas.

O senhor tem pré-acordos com esses fundos? Como vai funcionar isso?

- Temos esses dois produtos para captar. A captação inicial é de R$ 70 milhões. Já captamos cerca de R$ 25 milhões. Primeiro estamos testando somente investidores qualificados, que vão colocar o mínimo de recursos. Testado esse primeiro produto, achamos que vamos conseguir. Não posso assegurar que vamos captar os R$ 70 milhões imediatamente, mas na sequência temos tudo para conseguir. É um produto que vai competir de igual para igual com o título e renda fixa. Hoje, se você for aplicar no CDI ou num CDB, vai render aproximadamente 2,5% ao ano. Um título de crédito um pouco mais arriscado vai render entre 5% e 8%. Nosso produto vai ter um pagamento de juros de 7% ao ano, que é bastante competitivo. Agora, para oferecer isso, você tem que oferecer boas garantias. É o que estamos fazendo.

O senhor falou em aumentar a folha mensal do futebol em R$ 2 milhões. Como será feito isso?

- A ideia em prática é a seguinte: primeiro temos que ter mais eficiência no futebol. O futebol do Vasco é muito mal administrado, os resultados comprovam isso. Não é falta de recursos. É gastar mal os recursos. Vou dar um pequeno exemplo. O Vasco inscreveu 45 jogadores na Sul-Americana, mas certamente tem mais do que isso. O Vasco não para de contratar jogador, todo dia anuncia alguma contratação. Daqui a pouco teremos um elenco com 60 jogadores. Só jogam 11 e outros 11 ficam no banco. Você está pagando 35, 40 jogadores que não jogam.

Não vou citar nomes. Mas temos por baixo R$ 2 milhões de salários para jogadores que não jogam. Isso multiplicado por 12 meses dá R$ 24 milhões no ano jogados fora. Ou seja, isso em três anos dessa atual administração dá R$ 72 milhões jogados na lata do lixo. Isso é uma boa gestão?

Outra coisa: você acha que trocar de treinador toda hora melhora o desempenho? Você não tem nenhum time campeão da Série A que tenha trocado três, quatro vezes de treinador por ano. Você não chega na metade do trabalho de um treinador. Eu sei que vou sofrer, mas vou tentar modificar essa situação. Eu quero mais inteligência na alocação de recursos, quero ter um plantel mais enxuto e quero tentar bancar um treinador por mais tempo.

Então, se eu conseguir aliviar esses R$ 72 milhões, esse dinheiro não vai sair do futebol. Vão sair os jogadores que não estão performando para receber esses recursos. Vou trocar por menos jogadores, com mais qualidade. Isso é trazer um pouco mais de inteligência para o futebol. É uma total irresponsabilidade o que estão fazendo.

Nosso presidente está em final de mandato, vai ter uma eleição daqui a uma semana, e ele está contratando jogador. Isso vai ficar na conta de quem entrar. É no mínimo insano. Se o elenco fosse reduzido, talvez ele pudesse conversar com outros candidatos sobre a situação. Mas não é isso que acontece. Vou te contar, é dose.

Nesse ponto, o senhor faria o investimento que o Campello está acenando fazer no Benítez, algo em torno de R$ 20 milhões?

- É uma pergunta difícil de responder. Como torcedor, eu contrataria o Benítez. Como presidente do Vasco, tenho sérias dúvidas se contrataria. É um final de mandato. Eu não tenho o planejamento financeiro do clube em mãos. Não sei se ele pode gastar isso. Se ele não consegue pagar os salários, como é que vai fazer uma despesa dessas?

O Benítez performou, entrou, teve um bom desempenho, agrada à torcida. Talvez seja um bom investimento. Mas eu não tenho dados do clube para saber se é possível fazer isso.

Fica claro que sua maior crítica à atual gestão é o futebol. Quais são seus planos para o futebol? O senhor ainda não anunciou seu VP para a pasta ou executivos. Há chance de seguir com alguém da atual gestão?

- Vão ter três janelas no futebol do Vasco. Futebol profissional, base e feminino. E aqui vai ter outra caixinha da medicina. Acima deles o VP do futebol. Estou amadurecendo a ideia de ter um gestor profissional de futebol. Terá de ser um ex-jogador de seleção, com bom trânsito na mídia, conhecido internacionalmente, e que queira assumir uma profissão um pouco diferente da atual que existe no futebol. Ele vai ser o responsável pelo futebol do Vasco. Já sei mais ou menos quem seria a pessoa ideal. Não posso revelar, já tive contato, a pessoa levou um susto, achou que seria muita responsabilidade. Mas eu disse que ele não estaria sozinho, todos estariam trabalhando juntos.

Vamos ter um comitê gestor no futebol. Qual é o processo de contratação? Qual é o processo hoje? Alguém sabe dizer? É da cabeça do Campello? Da cabeça do José Luís Moreira? Da cabeça do treinador? Ninguém sabe responder. Eu vou criar um comitê ao lado da presidência. Teremos o presidente, o vice de futebol, o gestor e o VP de Finanças. Eu sou a palavra final. Mas vai haver um debate.

E o nome do VP de futebol?

Esse nome vai surgir. Não é fácil encontrar. Eu acho que vou ganhar a eleição, mas não tenho essa certeza. Não quero pagar mico. Vamos ganhar a eleição e resolver isso.

Pode ser o Carlos Roberto Osório, seu VP geral?

Você já começa a querer precipitar as coisas. Estamos num processo de eleição. Eu acho que vou ganhar a eleição, mas não tenho essa certeza. Não quero pagar mico. Vamos ganhar a eleição e vamos resolver isso. Futebol é isso: vamos usar recursos com mais inteligência e vamos aumentar os recursos. Vai sobrar mais fluxo de caixa. A gente vai ter uns R$ 100 milhões para alocar no futebol. A única coisa é que conto com esses R$ 72 milhões de economia em três anos. Mas já estou desconfiado que não vou ter esse dinheiro todo, porque o Campello está contratando muito jogador.

Indo para outro assunto: o Roberto Monteiro disse que sua dívida não está no balanço, que não tem assinatura. Eu queria que você explicasse essa questão. Tem uma confissão de dívida do Campello?

Engraçado como as pessoas se preocupam com meu empréstimo. Em 2013, na gestão do Roberto Dinamite, fui procurado em um momento de extrema dificuldade de fluxo de caixa do Vasco para emprestar recursos. Eu receberia esse empréstimo 15 dias depois, com o patrocínio da Nissan. Cobrei o Roberto, mas não me pagou. Depois veio o Eurico, reconheceu minha dívida, levei a documentação, mas pediu um tempo para vender jogador.

Quando venderam o Douglas Luiz, o clube recebeu mais de R$ 60 milhões. Fui lá receber, e já não existia mais o dinheiro. Foi usado para pagar folhas atrasadas, fornecedores, bancos, não recebi. Aí veio o Campello em 2018. Ele disse que resolveria quando tivesse uma folga. Nunca pressionei. Só emprestei porque tinha para emprestar e não precisaria desses recursos. Não sou irresponsável. Esse dinheiro paga uma boa casa.

Sete anos depois, agora em 2020, o Jose Luís Moreira me telefonou e me chamou para ir ao Vasco a pedido do Campello, pois a situação estava crítica, estava indo para o quarto mês de atrasos, o Castan dando declarações, o Vasco tinha que renovar com o Marrony para fixar o passe dele por um valor maior para não sair quase de graça. O Campello me fez um apelo. Eu disse que o Vasco já estava me devendo desde 2013. Ele atualizou a dívida de 2013, pediu para eu colocar mais recursos e disse que me pagaria no final de dezembro com a venda de jogador, com direitos de televisão ou com a premiação do Brasileiro. Ele tem esse compromisso comigo.

Quando repactuei a minha dívida, corrigi pelo contrato e deu um valor muito alto. Fiz uma redução para receber o valor só pela taxa Selic no fim do ano. Qual é a confusão? Qual é a narrativa mentirosa que circula por aí? Dizem que sou agiota. Piada de mau gosto. Nosso clube infelizmente não tem crédito e não pode recorrer a banco.

O Roberto Monteiro deu uma entrevista e disse que o Vasco não me deve mais, que a dívida prescreveu. A dívida só termina quando ela é paga. O que prescreveu foi o meu direito de protestar o Vasco. Eu não tive a intenção de protestar o Vasco. Se eu tivesse feito isso, teria deixado para o último dia, pois prescreve em cinco anos. Sabe o que teria acontecido com o Vasco? Teria que me pagar três vezes mais do que o meu dinheiro corrigido do acordo que fiz com Campello.

Não consigo entender também como é que o Vasco tirou a minha dívida do balanço. Ela não pode sair. Pelo amor de Deus. Ela só pode sair quando for paga. De qualquer jeito, eu repactuei e tenho um contrato novo, em que o Vasco reconhece a dívida antiga, além do empréstimo deste ano.

É no mínimo desrespeitoso o jeito que as pessoas falam sobre essa dívida. Eu não gostaria de estar falando publicamente sobre ela. Teve inclusive uma repercussão familiar. Um dia minha mulher disse que não acreditava que eu tinha emprestado dinheiro para o Vasco, disse que eu estava surtado. É um assunto ruim para mim. Mas como estou nessa empreitada, tenho que esclarecer. As pessoas deviam elogiar o fato de eu ter socorrido o Vasco e poderia ter ganho muito mais com a execução. Como dizia o Romerito, eu só quero receber o meu. Cadê o meu dinheiro? (risos)

A sua chapa tem vários representantes que participaram da gestão do Campello até certo momento. Sua chapa representa a continuidade?

Acho que vai ser uma continuidade do ponto de vista de terminar os projetos. Quero terminar os projetos do CT, do CT de Duque de Caxias, do estádio. Mas o Vasco tem um projeto de futebol que, se possível, eu quero destruir. Não quero continuar nada do futebol. O futebol é a nossa razão de ser, o nosso carro-chefe e está pessimamente administrado.

As pessoas que lá estiveram na administração do Campello deram uma margem de contribuição absurda ao Vasco no ponto de vista de governança, balanço, trouxeram a auditoria da KPMG. Hoje o Vasco tem um balanço em que pode confiar graças às pessoas que estão na minha campanha. Elas entregaram um trabalho espetacular e não ficaram por divergências.

Onde essa gestão foi muito mal foi no futebol. Conheço o Campello há muitos anos, nunca fui íntimo, o reencontrei agora como presidente. Respeito o trabalho dele, não quero polemizar, mas não tenho nada a ver com ele no ponto de vista de gestão. Ele é médico e eu sou um cara de finanças. Eu fui vice-presidente de futebol e finanças do Vasco e ele era médico. Fui diretor da CBF e ele era médico. Sou gestor de uma empresa de investimento e ele é médico. Tem uma distância no ponto de vista de conhecimento e também em relação a outros candidatos.

Assim como pessoas da gestão do Campello, muita gente que apoiou a Sempre Vasco na última eleição veio para a sua chapa nessa campanha. O que o senhor diria para quem está na dúvida entre a Sempre Vasco e a Mais Vasco?

Se está na dúvida, vem para a Mais Vasco (risos). Não pode ter dúvida. Nossa chapa é a mais bem estruturada, com projeto viável de acontecer. As outras chapas têm muita historinha, mas não têm números e consistência. São inviáveis. Qual é a experiência dos outros candidatos? Fora o Campello, que agora ficou três anos, qual é o conhecimento do Vasco dos outros candidatos? Qual é o conhecimento de futebol que esses caras têm? Um (Leven Siano) foi piloto de navio e advogado. E algumas vezes processou o Vasco, advogou contra o Vasco, tirou dinheiro do Vasco. Eu coloquei dinheiro no Vasco. A minha história é mais consistente, mais real, mais palpável.

O senhor passou por Vasco e CBF há muito tempo. Muita coisa mudou nos últimos 30 anos. Se sente atualizado para retomar o caminho dentro do futebol?

Estou bastante atualizado, nunca deixei de acompanhar futebol, vejo os programas na TV, vou a São Januário, vou ao Maracanã, acompanho a Seleção aqui e lá fora. O futebol está no meu sangue, fui jogador de futebol de praia, acompanho o Vasco há 50 anos. Eu me preparei para ser presidente do Vasco. Estou fazendo o dever de casa. Viajei, fui lá fora visitar os clubes, levantei a bunda da cadeira, estou me atualizando, o que não vejo as pessoas fazendo aqui. Todo mundo olha para o umbigo aqui. Me sinto atualizado e em plenas condições

Ainda falando sobre sua experiência: uma coisa que se escuta muito em São Januário é que o senhor tem uma personalidade de fugir de conflitos e evitar brigas. Até pelas eleições em que decidiu não entrar. Quão real é essa descrição a seu respeito? É possível ser presidente do Vasco, um cargo tão complexo, sem bater de frente com adversários?

Acho que essa definição tem a ver comigo. Gosto de resolver problemas com diálogo. Nunca me meti em confusão, nunca briguei com ninguém. Mas isso não quer dizer que eu seja uma pessoa omissa. Pelo contrário. Vou pelo diálogo. Mas, quando não conseguimos um consenso nesse diálogo, tomo decisões. Você vai para um lado ou vai para o outro.

Comecei a minha história no Vasco apoiando o Calçada e o Eurico. Depois me afastei deles. Brigar para mim é um sinal de incompetência. Inteligência é resolver na conversa. É preciso haver um entendimento para avançar. Essas brigas no Vasco não acrescentam nada. Mas acham que tem que brigar, dar esporro... Não precisa nada disso.

O senhor está falando em diálogo, mas o Conselho Deliberativo do Vasco tem sido marcado por discussões e brigas. A quantas reuniões foi nos últimos anos? Não seria melhor ter participado mais ativamente da vida política do Vasco?

Não fui a muitas reuniões, mas estive presente nas mais importantes. A maioria das reuniões desse triênio foram pautadas pela política rasteira, reuniões de desacordo. O que aconteceu? Um candidato (Julio Brant) ganhou as eleições no voto, ele tinha um vice-presidente (Alexandre Campello). A eleição no Vasco tem que ser referenciada pelo Conselho. Dias antes da reunião do Conselho, o vice-presidente rompeu com o presidente.

Teoricamente, rompendo com o presidente, o vice deveria ter se afastado do processo. Mas ele resolveu se unir à oposição. Esse acordo o trouxe para ser presidente do Vasco. Acordo feito com o ex-presidente (Eurico Miranda) e o atual presidente do Conselho Deliberativo (Roberto Monteiro). Teoricamente, ele seria um presidente vinculado a essas pessoas. Surpreendentemente, passado algum tempo, ele rompe com essas pessoas, e a partir daí ele não tem mais sossego, porque não tinha controle do Conselho. Como ele não foi o votado, teve menos gente na chapa do Conselho. Ficou fracionado, e pessoas da oposição se aproveitaram disso.

Como vai ser a situação agora? Eu vou fazer 120 conselheiros, e quem ficar em segundo, não sei quem vai ser, acho que vai ser o Julio ou o Leven Siano, vai ter 30. De qualquer maneira, eu vou ter 120 mais 50 ou 60 beneméritos. Vou ter ampla maioria no Conselho, vou fazer o presidente do Conselho. Você vai ter um clube pacificado, vocês não vão ver mais notícia de briga no Vasco, pode escrever e me cobrar.

Fui o primeiro candidato a registrar a chapa. Minha chapa é puro-sangue. Não fiz acordo com nenhuma facção, todos que estão ali apoiam minha chapa 100%. Outras candidaturas estão fazendo arranjos políticos. Se algum outro candidato ganhar a eleição, pode ter problema no Conselho. Quem o apoiou pode deixá-lo na mão.

Uma pergunta que estamos fazendo a todos os candidatos: quais são seus planos para o CT, a reforma de São Januário e o relacionamento com o Maracanã?

Nós vamos terminar o CT. É um compromisso de campanha. Em relação à reforma de São Januário, tenho que conhecer melhor o projeto. Participei de duas reuniões, mas quero voltar a participar. Também quero ouvir o torcedor, é importante. Quero que ele tenha um ambiente favorável para ele ir ao estádio. Não quero que o estádio tenha somente cadeiras e camarotes. O torcedor vai participar do debate. Mas somos favoráveis à reforma.

Quanto ao Maracanã, o Vasco tem todo interesse de voltar a jogar lá. Até porque, se fizermos a reforma, o Maracanã será nosso estádio, é o nosso plano B. Independentemente disso, queremos usar mais o Maracanã, já conversei com pessoas ligadas ao estádio e houve uma ótima recepção. Está tudo encaminhado.

Candidato, o Carlos Roberto Osório, primeiro vice geral na sua chapa, chegou a ser citado em delação da época do governo Cabral. Vocês estão tranquilos com essa candidatura nele na sua chapa? Como está a situação dele?

Não sei como está a situação dele. Vou ser sincero, não converso com ele sobre esse assunto. Conheço o Carlos Roberto de muitos anos do Vasco. Ele é de uma família super tradicional de vascaínos, tem uma vida profissional de respeito, pessoa corretíssima, totalmente confiável e séria. Essa questão é dele e ele vai se defender.

Essa tem sido uma eleição marcada pelo custo alto das campanhas. Como a Mais Vasco tem arcado com esses custos?

Dividimos nossos custos com nossos apoiadores. A Mais Vasco tem seis grupos, mais ou menos 80 pessoas planejando a campanha e temos mais ou menos 200 ou 300 pessoas envolvidas no dia a dia da campanha. Cada grupo é responsável por fazer uma determinada captação, de acordo com o potencial dessas pessoas. Mas nossa campanha não é cara se comparada às outras. Tem uma campanha que se sobressai muito.

Qual é a que se sobressai?

Vocês sabem, todo mundo sabe qual é. Carro bonito (refere-se a Leven Siano).

Sua campanha tem a iniciativa de promover datas e tomar ações de cunho social, como por exemplo o combate à homofobia, parecido com o que fez o Bahia. Quais são as ideias sobre isso?

Nós temos uma declaração de compromisso. Teremos uma vice-presidência Social e de História que vai cuidar dessa parte. O Vasco tem uma história de inclusão, a história mais bonita do futebol. Queremos todos dentro do Vasco, não queremos separar em grupos. Queremos agrupar todo mundo. O que importa para mim é o ser humano. Nossa campanha está aberta, a gente quer aumentar a quantidade de sócias mulheres. A gente tem muito poucas mulheres. Tenho participado de algumas palestras, a participação das mulheres no Vasco é muito pequena. A gente tem que incentivar as mulheres a participar.

Qual é sua posição sobre direito a voto do sócio-torcedor?

Sou totalmente a favor.

O senhor defende reforma do estatuto do Vasco no próximo triênio?

Defendo fervorosamente. A gente tem um estatuto muito antigo, ultrapassado. Houve um avanço muito grande da nossa sociedade, a gente precisa trazer isso para o nosso estatuto. Vamos trazer o sócio-torcedor para dentro do clube no ponto de vista de votação. Se ele contribuir durante três anos como sócio-torcedor, ele pagará metade da joia de sócio-proprietário e terá todos os direitos. O Vasco tem mais ou menos 70% dos sócios off-Rio, a gente é muito cobrado que o sócio fora do Rio não é assistido, não tem voz. Vamos trazer esse sócio para dentro do clube, a próxima eleição será virtual. E a gente deve atingir 20 ou 30 mil sócios na próxima eleição.

Para finalizar, gostaríamos que o senhor definisse os candidatos com uma palavra ou uma frase. O primeiro é Jorge Salgado.

Credibilidade.

Alexandre Campello

Médico.

Julio Brant
Em progressão.

Leven Siano

Não posso falar, não conheço direito.

Sérgio Frias

Radical.

O senhor tem algum recado final para a torcida do Vasco?

Quero que o sócio compareça em massa, analise as propostas dos candidatos, pense bem antes de votar. Essa eleição é emblemática, é para tirar o Vasco do atraso, colocar na modernidade, numa direção de melhora em todos os aspectos. Para assumir o clube, o candidato tem que estar muito preparado, tanto do ponto de vista de gestão, futebol, finanças... Meu desejo é que o sócio vote com bastante consciência no candidato que ele achar melhor e que o sócio compareça para votar.

Fonte: ge
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