O Vasco viveu um ano de emoções dentro e fora de campo. Se na bola conseguiu um dramático acesso à elite após duas temporadas na Série B, na parte administrativa o clube passou por uma das maiores mudanças de sua história, com a constituição da SAF e a venda de 70% para a 777 Partners.
Foi uma temporada em que o clube plantou para colher frutos no futuro, e o torcedor termina 2022 cercado de expectativas. O Vasco está de volta à Primeira Divisão e com recursos para fazer boas contratações e montar um bom time.
Foi, também, um ano especial na relação com a torcida. Apesar de o time, por vezes, não corresponder, os vascaínos compraram a ideia e carregaram o elenco no colo. São Januário lotou jogo após jogo, assim como o Maracanã, nas poucas vezes em que foi utilizado.
Campanhas
Venda para 777
O Vasco iniciou o ano buscando investidores para o projeto da SAF. Em fevereiro, o clube assinou um acordo com o grupo americano 777 Partners, que previa a injeção de R$ 700 milhões no futebol, além da dívida de R$ 700 milhões, por 70% da SAF e, consequentemente, o controle do futebol vascaíno.
Os ajustes na negociação e o tramite interno de aprovação durou quase seis meses. A venda foi aprovada e concluída em agosto. Em setembro o grupo assumiu o controle do futebol, com a promessa de um Vasco forte dentro de campo nos próximos anos.
O início de 2022
O início do ano não foi animador. Sem recursos, o Vasco reformulou o elenco, fez mais de 15 contratações, mas poucos nomes conhecidos. Zé Ricardo foi o comandante no início do Campeonato Carioca e conseguiu, ao menos, dar um padrão para a equipe.
O Vasco conseguiu voltar às semifinais do Campeonato Carioca após dois anos, mas perdeu os dois jogos para o Flamengo e deu adeus à competição. A campanha no estadual teve pontos animadores, com a goleada sobre o Volta Redonda logo na estreia e as boas atuações de jogadores que haviam terminado a última temporada em baixa, como Juninho e Gabriel Pec, por exemplo.
Os primeiros jogos também serviram para que o recém-contratado Raniel se firmasse como dono da camisa 9. O atacante emprestado pelo Santos fez cinco gols e terminou a competição empatado com Nenê na artilharia do Vasco.
Série B e a saída de Zé Ricardo
O início na Série B foi cambaleante, com a primeira vitória sendo conquistada apenas na quarta rodada, sobre a Ponte Preta - àquela altura, o cargo de Zé Ricardo já estava ameaçado. Mas logo foi possível notar que o futebol de resultados da equipe, com placares magros e sem espetáculo, poderia ser o suficiente para conquistar o acesso. A partir da vitória sobre o Bahia, na sétima rodada, o time entrou no G-4, e a torcida esgotou todos os ingressos em jogos em São Januário e empurrou o time.
O Vasco quase terminou o primeiro turno sem sofrer derrotas: a primeira aconteceu apenas na rodada 15, para o Novorizontino. Mas um fato ocorrido nesse meio tempo fez as coisas desandarem: no início de junho Zé Ricardo aceitou uma proposta do futebol japonês, deixou o clube e pegou todos de surpresa.
Time sai dos trilhos
Sem Zé Ricardo, o Vasco foi dirigido interinamente por Emílio Faro em dois jogos (vitórias sobre Náutico e Cruzeiro) até a chegada de Maurício Souza, que estreou na vitória fora de casa sobre o Londrina, no dia 18 de junho. O ex-treinador do sub-20 do Flamengo, com muita experiência em futebol de base, recebeu sua primeira oportunidade à frente de um time profissional e foi uma aposta pessoal do gerente Carlos Brazil.
Maurício tentou implantar um sistema em que o time valorizasse a posse de bola e se impusesse nas partidas, mas acabou não funcionando. Em oito jogos, ele venceu três, empatou dois e perdeu três - a última derrota, a que sacramentou seu desligamento, foi para o lanterna Vila Nova, em Goiânia. Emílio Faro foi novamente convocado para comandar a equipe enquanto a diretoria pensava numa solução.
Ainda sem o dinheiro da 777, o Vasco fez algumas contratações pontuais, como as chegadas de Alex Teixeira, Paulo Victor, Fábio Gomes e Bruno Tubarão. O time conseguiu algumas vitórias (contra Tombense e Guarani, por exemplo), mas ao mesmo tempo passou a sofrer muitas derrotas (para Ponte Preta, CSA, Bahia, Brusque...) e viu a vantagem para os clubes fora do G-4 despencar.
Fé na garotada
Em meio a vários problemas durante a campanha na Série B, os garotos da base do Vasco seguraram o rojão e deram conta do recado. Não apenas nomes que surgiram este ano, como Andrey Santos, Marlon Gomes e Eguinaldo; mas também jovens que já estavam no time, casos de Figueiredo e Gabriel Pec.
Andrey foi o vice-artilheiro da equipe na Série B, com oito gols. Figueiredo marcou quatro e foi importante em diversos momentos, como na vitória sobre o Bahia no primeiro turno e contra o Novorizontino, no segundo. Marlon Gomes foi o nome do jogo na vitória sobre o Tombense, em São Januário. Sem os crias da base, o Vasco dificilmente teria conseguido conquistar esse acesso.
Andrey, grande revelação e principal nome do Vasco na temporada, está de saída para o Chelsea.
Chegada de Jorginho e acesso dramático
Depois de uma derrota para o Brusque fora de casa, no início de setembro, a situação de Emílio Faro ficou insustentável no comando do Vasco, e a diretoria precisou agir. O escolhido por Paulo Bracks e Luiz Mello, que àquela altura já estavam à frente do futebol, foi o técnico Jorginho. Ele chegou com a missão de não deixar o acesso escapar nas 10 últimas rodadas da Série B.
Foram três derrotas nesse período: as duas primeiras para Grêmio e Cruzeiro, ambas fora de casa. Mas a mais dolorida e inesperada se deu na penúltima rodada, quando o Vasco precisava de uma vitória simples sobre o Sampaio Corrêa, em São Januário, para selar o acesso. A equipe perdeu de virada por 3 a 2, o gol da vitória dos maranhenses marcado praticamente no último lance, frustrando a festa de milhares de vascaínos no estádio.
O Vasco, então, precisou buscar o acesso contra o Ituano, em Itu, na última rodada. Antecipou a viagem para se concentrar em um resort e conseguiu a vitória por 1 a 0, o gol marcado por Nenê, de pênalti. A missão de Jorginho estava cumprida.
Alex Teixeira: a decepção
De todos os jogadores contratados em 2022, certamente o que causou mais expectativas em sua chegada foi Alex Teixeira. O cria da Colina rejeitou várias outras propostas e aceitou reduzir seu salário para jogar no clube do coração, mas acabou não correspondendo dentro de campo e virou reserva no decorrer do segundo turno.
Os únicos dois gols marcados pelo meia-atacante de 32 anos foram na vitória sobre o Operário fora de casa, no dia 4 de outubro. Com o fim do contrato com o Vasco, ele tem proposta para renovar, mas não respondeu e sua permanência é improvável.
Salários em dia
Diferente dos anos anteriores, graças à injeção de dinheiro da 777 Partners, o Vasco vai terminar 2022 sem qualquer dívida com seus funcionários. Os salários estão em dia pela primeira vez em muito tempo, e os encargos de fim de ano (13º, férias, FGTS...) foram regularizados pela atual gestão.
Mercado quente
Também graças ao poderio financeiro do grupo americano que comprou a SAF vascaína, o Vasco está agindo no mercado de uma maneira com a qual os torcedores há anos não estão acostumados. Até o momento, três jogadores foram contratados, todos eles com 100% dos direitos econômicos adquiridos pelo clube: o atacante Pedro Raul, o zagueiro Léo e o volante De Lucca. O clube investiu cerca de R$ 27 milhões na chegada do trio.
E outros jogadores estão por vir: o Vasco tem acordos com Luca Orellano (Vélez), Lucas Piton (Corinthians) e negocia com outros jogadores, como o goleiro Ivan (Corinthians) e o meia Zanocelo (Santos).