Futebol

Ricardo Sá Pinto comenta sobre Rio de Janeiro e o Vasco

Na semana em que completou um mês de Vasco, o português Ricardo Sá Pinto bateu papo com o Esporte Espetacular. Em pouco mais de 30 dias, o treinador viveu a fundo a beleza e o caos do Rio de Janeiro, cidade que já havia visitado três vezes antes de se tornar morador e pela qual nutre uma velha paixão. Comeu bem, visitou praias turísticas, mas também se deparou com um tiroteio próximo ao CT do Almirante, vizinho da Cidade de Deus.

Antes mesmo de desembarcar em terras cariocas, em 15 de outubro, já conhecia Cristo Redentor, Pão de Açúcar e outras cartões-postais do Rio, mas uma novidade em sua vida mexeu com o coração de Leão de Sá Pinto: São Januário. O treinador acredita que a chegada ao estádio pela rua principal o transporta para Portugal. E, sobre a característica de caldeirão, revela ansiedade em vê-lo pulsar com a torcida vascaína dentro dele.

- Adoro São Januário, adoro aquela fachada. Me faz lembrar Portugal e a colônia portuguesa. É lindíssimo (a fachada), e estou curioso para ver como ficará quando reformularem o estádio. Vai ficar um estádio lindíssimo. A entrada me lembra o estádio do Mônaco, que também tem uma fachada emblemática. É um estádio lindíssimo, e é uma pena que esteja vazio. Estou à espera de ver esse estádio cheio. Cuidado, quando vierem a São Januário vai ser complicado saírem vivos de lá (risos). É uma brincadeira, logicamente, mas será a nossa força.

Se conheceu de perto as belezas naturais do Rio e os encantos do Vasco, Sá Pinto também vivenciou, em pouco tempo, os perigos da cidade. Há poucos dias, um tiroteio próximo ao CT do clube, na Zona Oeste, assustou comissão técnica e jogadores, que tiveram de trocar de campo por receio de uma bala perdida.

O desagradável episódio deu-se na última terça-feira. Ainda assim, Sá Pinto disse que em nenhum momento se sentiu em perigo no Rio de Janeiro, apenas lamentou o fato de situações como estas mancharem a imagem da cidade.

- Sei que tenho que ter alguns cuidados, não só em termos do Covid, mas também em termos de segurança. Estávamos a treinar e houve à volta do CT alguns tiros e algumas intervenções policiais. A certa altura essas balas perdidas podem acontecer, infelizmente, aconteceu aqui. Nós tivemos que ter algum cuidado. Sair de uma zona do CT. Logo na entrada há dois campos, e tivemos que ir para outro lado por uma questão de segurança. Mas nunca nos sentimos inseguros porque a intervenção policial foi boa, não houve nada de especial. Entre nós lá dentro ficou tudo bem.

- Preocupa a todos. A vocês também. Ao povo brasileiro, que me acolheu maravilhosamente. Me preocupa da imagem que possa causar do povo brasileiro. O Rio é uma cidade maravilhosa. Não me senti inseguro em nenhum momento, fico com pena por isso, em manchar o turismo. É mal para todos, principalmente com a economia como está.

Apesar do ocorrido, Sá Pinto, durante a longa entrevista cuja duração ultrapassou uma hora, deixou claro que pretende ficar em São Januário por bastante tempo. Evita projetar futuro ou próximas temporadas e concentra suas forças em livrar o Vasco do perigo no Brasileiro, competição que prioriza. É bem direto, porém, quando questionado se deseja seguir no clube.

- Claramente o interesse é continuar, me sinto muito bem no clube e nessa altura minha preocupação não é o futuro, é o imediato. É querer ajudar o Vasco a sair de uma situação desconfortável para uma situação confortável. Para se fazer um campeonato tranquilo, tentar ir o melhor possível no Brasileirão em termos de classificação e o mais longe possível na Sul-Americana. Claramente a maior preocupação é o Brasileirão pela competitividade que existe. Muitas boas equipes estão lá embaixo, como o Botafogo que é forte. Todos com boas equipes e com história. Vai ser uma luta muito dura, e esta é a minha preocupação a esta altura.

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Balanço do primeiro mês junto ao elenco

- Já tenho o conhecimento quase total do time. Individual e coletivo. Mais individual porque não tinha acesso a todos porque muitos jogaram e outros não jogaram tanto. O comportamento da equipe em relação às minhas expectativas tem sido muito bom no sentido de eles quererem aprender, melhorar e entender o que eu e minha comissão técnica pretendemos para o jogo do Vasco nos diversos momentos. Ou seja, na questão ofensiva, defensiva e na estratégia.

Tenho sentido uma equipe muito disponível, dedicada e focada. Temos tido uma grande contrariedade para passar toda a informação que é o tempo. Muitos jogos, muita situação de Covid-19 infelizmente nos tem acontecido também (foram 14 casos no elenco desde sua chegada). Várias contrariedades não têm nos deixado trabalhar normalmente.

Já percebi que numa competição como o Brasileirão é muito importante que tenhamos um elenco muito equilibrado, porque realmente exige muito fisicamente de uma equipe jogar de três em três dias de forma consecutiva, principalmente quando se está em outras competições. Nós estamos na Sul-Americana. Aqui não se para nem quando as seleções jogam, portanto é muito difícil. Na Europa, para sempre.

Além da paralisação nas Datas Fifa, Sá Pinto lamenta não ter feito pré-temporada

- Também acho que seriam muito importantes aquelas sete ou oito semanas que temos na pré-temporada para preparar a equipe. É muito importante porque depois é praticamente ajustar e recuperar os jogadores jogos após jogos. E tendo duas soluções do mesmo nível para cada posição será sempre mais fácil para se ter sucesso num campeonato tão exigente como o Brasileiro.

No entanto, tenho tido uma boa resposta da parte deles. Logicamente falta muito trabalho. Essa mudança de estrutura tática também requer trabalho, continuidade e repetição. Requer entendimento, inteligência e adaptação dos jogadores a essa estrutura, principalmente em termos defensivos. E em termos ofensivos também, logicamente. Sem lhes tirar a criatividade, que é o que pretendo.

Temos uma equipe que mistura jovens e mais experientes, com muito potencial para crescer, mas estou satisfeito até agora pelo que eles têm me dado e pelo que vamos conseguindo pouco a pouco na equipe.

Enfim, existe muito trabalho a fazer, mas estou muito satisfeito não só com a equipe, mas também com as pessoas que trabalham conosco. Conseguimos inaugurar um CT, que foi importante para dar outra estabilidade em termos de trabalho, temos bons campos para trabalhar e temos a nossa privacidade também. Estamos no caminho.

Já se sente um carioca?

- Sou um grande fã do Brasil, há carioca na minha família, conheço quase todo o Brasil, daqueles sítios (lugares) mais conhecidos, obviamente, turísticos. E gosto muito de vir para cá. É a minha primeira experiência a viver, tenho me sentido muito adaptado, não tenho tido tempo pra conhecer a cidade ainda, mas já estive cá três vezes. Não tenho casa ainda, não tenho carro, a única coisa que preciso ter e não tive é tempo. Ainda estou no hotel. Mas estou completamente adaptado à liga, ao Brasileirão, aquilo que envolve o jogo, do calendário, da exigência e do dia a dia do que é viver aqui.

O explosivo ambiente político provocado pelas eleições atrapalha?

- Todos temos grande preocupação em nos focarmos no trabalho e no dia a dia. Não somos alheios porque sabemos ver notícias e o que se diz. Mas tentamos nos concentrar no que é importante. A essa altura o Vasco precisa ganhar jogos, somar pontos, avançar na tabela de classificação. Já temos com o que nos preocupar, mas logicamente seria se melhor que essas situações se estabilizassem e se definissem. É bom pra todos. Mas temos tentado blindar e a equipe tem feito esse esforço. Do lado eleitoral ainda vai se falar muito, há muito a se resolver. Temos que estar mais focados em nossa tarefa.

O esquema 3-5-2 lhe agradou, e o elenco se adaptou a esse esquema. Pretende seguir com ele?

- Sim. É uma estrutura tática que temos trabalhado e que estamos a utilizar nessa altura. Temos outras. O 4-2-3-1 e o 4-4-2 já minimamente trabalhados e podem ser possibilidades a qualquer altura.

Ainda não sabemos como você procede antes do jogos por não termos as coletivas que aconteciam pré-pandemia. Gosta de esconder o time? Se incomoda quando a escalação vaza?

- Nenhum treinador gosta de ver sua equipe na imprensa, assim já não se consegue ter estratégia, esconder nada. Eu também não gosto, mas é impossível muitas vezes. Com toda essa informação, percebemos que às vezes não se consegue, nesse lado estratégico, esconder a equipe. Eu gostava sempre de esconder. Utilizar às vezes algumas estratégias em relação a isso. Às vezes funciona, outras não. Todo treinador usa suas estratégias. Hoje em dia também percebemos no futebol global que no acesso à informação, o que se estuda sobre o adversário, os softwares que se usa, de scouts, não há segredos.

Aposta na continuidade dos sistemas e na repetição do time

- Quem faz muita mudança acredito que faz mais no apoio ao jogo individual e não no coletivo. E não vai ter sucesso no meu ponto de vista. Eu acredito muito no trabalho e na repetição e não na mudança de sistemas a todo momento e também não na alteração de jogadores a toda hora, a todo momento. Acredito numa alteração por circunstância.

-Tenho três critérios e deixo isso claro aos jogadores. O primeiro tem a ver com rendimento em treinos, o segundo a rendimento nos jogos e o terceiro a estratégias de cada jogo. Acredito no trabalho, na repetição e na consolidação. E não em acordar hoje e escolher um esquema pra enfrentar esse adversário, ou treinar a semana toda com um time e mudar dois jogadores no dia do jogo. Sou religioso, católico praticante, mas não acredito em milagre (risos).

Como avalia a dupla Cano e Benítez?

- O Cano é claramente um finalizador, claramente também dentro daqueles jogadores que eu acho que são os melhores da nossa equipe e que eu acho que devem jogar estando em boa forma. Uma das minhas mudanças do sistema tático tem a ver muito com as características dos jogadores e de tirar o melhor de cada um. Isso não quer dizer que o Cano não possa jogar em um 4-4-2 logicamente, mas o que eu acho, em termos ofensivos, que pra ele é melhor neste sistema. E, para mim, é melhor estar ofensivamente mais frescos para estarmos em zona de finalização. Não é jogador de pressão, de roubar a bola, mas pode fazer aqui ou ali e levar o adversário ao erro, mas não é a sua característica. Ele é um jogador de apoio frontal, combinado e área, não é de fazer a diagonal, nós sabemos. Portanto temos que ajudar nossos jogadores a tirar o melhor rendimento deles e está é a minha preocupação a esta altura.

O Beni também esteve parado e esta à procura da melhor forma pra poder durar os 90 minutos no ritmo e na intensidade que eu quero. Porque na minha intensidade os meus jogadores que jogam nos corredores têm que ser capazes de ligar os dois lados no 4-2-3-1, 4-4-2 ou mesmo no 3-4-3. Têm de ser capazes de chegar, de preparar, criar o jogo e finalizar.

Como também quando não temos a bola, estar inteiro para reagir, não faltar perna e também reorganizar com a equipe e defender. Claro que eles ainda não são capazes de fazer os 90 minutos, e não é porque não queiram, têm sido dedicados, mas percebe-se claramente que, fisicamente, ainda falta para a equipe chegar à intensidade que eu quero e no nível que eu quero.

Por isso eu digo que é importante ter semanas de trabalho para ganhar condição física e na questão fisiológica. Não quero que façam quatro ou cinco ataques, quero que façam 10. E que defendam do mesmo jeito. Quando se fala de intensidade é isso, é o número de repetição que eu quero que eles façam mais vezes. Isso requer no processo ofensivo e defensivo. Claro que, para mim, é difícil, muitas vezes posso segurar comportamentos, mas não dá pra mudar características. O mais difícil é tornar um jogador que não tem proposta defensiva e fazê-lo começar a defender muito.

Vasco melhorando na questão da profundidade

- Profundidade é algo que faltava pra nossa equipe, chegar com mais gente na área de finalização, com mais pessoas para finalizar e criar mais na parte final do campo. Mas se constrói de trás pra frente. Uma das minhas grandes preocupações era que a equipe não se expusesse tanto defensivamente, estamos sempre mais perto de fazer um gol do que sofrer. Acho que no processo defensivo estamos no caminho certo, mas ainda conseguimos disfarçar algumas coisas neste sistema que nós vimos porque tem muita gente. Às vezes em uma falha ou outra termos muita gente permite um ajudar ao outro, e isso ainda vamos resolver. Em nível tático individual também, inter setorial e ofensivamente precisamos trabalhar muito porque não temos jogadores muito rápidos ou de profundidade entre os nossos mais talentosos.

Temos meninos com talento e com esta capacidade, como é o caso do Vinícius, que é muito rápido, mas está no processo de crescimento, tem que tomar melhores decisões e ainda não é tão regular. Há outros que também querem.

Gustavo Torres

- Acabou de chegar agora o Gustavo, que ainda está a entrar no nosso processo e a entender a nossa forma de jogar. Vê-se que é rápido, ágil, que tem capacidade e que é mais vertical, mas ainda precisa aprender o nosso processo.

Você conhece a riqueza da comunidade portuguesa aqui no Rio de Janeiro?

- Aqui eu não sabia, no Rio eu não sabia, sei que existe uma grande comunidade portuguesa aqui da qual eu felizmente faço parte agora, mas desconhecia essa parte dos grupos folclóricos, muito engraçado. Eu próprio cheguei a tentar dançar, tem os gestos, mas me faltam nos pés uma coordenação. É uma dança típica portuguesa e que é muito tradicional, não só como o fado, mas também temos música cantada, é realmente tradicional e é muito giro (bonito).

Quais as contrariedades que você citou na última coletiva que estão atrapalhando o Vasco?

- São as contrariedades normais de um clube grande quando não está no nível que quer estar. Normalmente tendo uma capacidade financeira boa, o Vasco estaria lutando por outros objetivos, pelos lugares de cima ou por títulos. É isso que todos os torcedores e a família vascaína pensam para um dia voltar a ser o grande que foi e lutar por títulos. Eu ambicionava um dia treinar o Vasco pra lutar por títulos, e isso que um dia pode acontecer. E acredito que possa ser enquanto eu aqui estiver. Onde estou, tento ser o mais profissional possível também e adquirir o máximo de informação possível do que envolve o jogo. Para mim, é importante perceber o que acontece não só em nossa casa, mas contra quem vou jogar e o que está acontecendo.

Desde que você chegou, chegaram também alguns reforços no Vasco. Jadson e Léo Matos foram indicações suas.

- O Léo Matos e o Jadson realmente são dois jogadores que indiquei pela situação, pelas possibilidades do Vasco contratar nessa altura dentro, pela capacidade que nós temos. São jogadores experientes, muito habituados a jogar em alta intensidade e com a pressão por resultados. Apesar de o Jadson não estar em uma das grandes equipes de Portugal, ele é um jogador acostumado a jogar com a intensidade alta e competitiva, com muita exigência e com organização.

Ele era o capitão do Portimonense, assim como o Leo Matos era o capitão do PAOK (Grécia). É um jogador que enfrentei (na Grécia) quando eu treinava o Atromitos, eu o conhecia bem. Ele traz qualidade e personalidade. É o perfil de jogadores ganhadores e com experiência. É importante para os mais jovens terem jogadores que eles possam admirar e seguir. Esse é o perfil de jogador que quero no Vasco: comprometido, focado, trabalhador, exigente e ambicioso.

E como você avalia o Toko Filipe, um jovem angolano que estava no futebol português e é uma aposta do Vasco?

- Vou ser muito sincero. O Toko Filipe ainda sequer treinou conosco. É um jovem que eu quero ver, mas ainda não teve a oportunidade de treinar comigo e ainda não consegui avaliá-lo. Estou à espera de uma semana mais tranquila. E não é só ele (Toko Filipe) que quero ver. Quero ver os jogos do sub-20, vi o empate com o Flamengo (pelo Brasileiro). fala-se muito do MT, do Artur, do João Pedro e de outros meninos. Ainda não tive tempo. Mas quero ver porque são jovens talentosos, com boas referências.

Nesse primeiro mês de trabalho você tem mantido contato com os seus colegas em Portugal, especialmente com Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus?

- Não tenho tido contato com eles. São duas grandes referências do nosso futebol em Portugal. São grandes treinadores. O Jesualdo, inclusive, foi meu treinador na seleção sub-21 de Portugal. O Jesus estivemos em lados opostos como treinadores, é uma pessoa que estimo muito e tenho como grande referência. Mas não tenho falado com eles. Não sou muito de incomodar, de ligar. Até mesmo minha família, minha mãe sempre diz que às vezes ligo pouco. E ela tem toda razão. Meus amigos também dizem isso.

Tenho muito carinho pelos meus amigos e por minha família. Mas é que estamos dentro de uma cúpula e vivemos muito os nossos problemas, nossas dúvidas e angústias muito sozinhos. Obviamente, sempre que posso, compartilho. Mas não gosto muito de chatear ligando sempre.

Infelizmente você ainda não conseguiu encontrar a torcida. Quando você foi contratado, ouvimos de jornalistas portugueses que logo você se tornaria um vascaíno ferrenho. O que mais te encantou no Vasco até agora?

- Sou uma pessoa que vive muito emocionalmente as nossas amizades. Me envolvo muito com meus amigos, gosto de conviver com eles, sou muito transparente, tenho meu lado também que às vezes fico muito chateado. Sou muito transparente. Isso com todas as minhas relações. Se estou em um clube, não consigo estar só 50%. Estou sempre 100% ou 200%. Se confiam em mim e me contratam, é porque esperam que eu tenha resultados e ajude. Portanto, se torna parte da minha vida, eu visto a camisola e somos um só, somos uma família. Se estou aqui é para levar o clube para o lugar que ele merece e gosto de me envolver. Se não tiver paixão, não sou eu.

Por isso adoro o que eu faço. Não consigo de fazer outras. Tenho capacidade para fazer muitas coisas, a nível acadêmico sou licenciado, sou mestre em marketing. Mas o futebol é o meu mundo, é o que eu gosto de fazer. Adoro treinar. Tenho essa felicidade. Eu tive a felicidade de viver duas vezes a minha paixão. A primeira vez como jogador e a segunda como treinador. E em uma só vida. Sou um privilegiado.

Agora, sem dúvida nenhuma, tenho recebido mensagens carinhosas dos torcedores nas redes sociais. São muitos "treinadores" (risos), me sugerem muitas coisas, "joga com esse, joga com aquele, esse não joga nada" (risos). Faz parte da emoção do torcedor.

E também o dia a dia com as pessoas do Vasco. Todos eles têm sido fantásticos, não deixam que falte rigorosamente nada daquilo que precisamos para trabalhar e nos sentirmos bem. Portanto, estou super feliz e adaptado. Só falta mesmo a família. De resto, estou em casa.

Como é sua ligação com a Formentera (ilha na Espanha onde tem uma empreendimento imobiliário)? Que lugar é esse que toca seu coração?

- Esse lugar... Eu e um amigo temos sete casinhas lá. É a nossa paixão. Todos que puderem ir devem ir. Há 16 anos vou para Formentera. O mar em Portugal é bonito, mas não é como no Caribe. É um mar mais escuro. Mas Formentera tem esse mar caribenho. É uma ilha em frente à Ibiza, pequenininha, a 20 minutos de barco de Ibiza, mas em Formentera não precisamos de barco. Geralmente nessas ilhas paradisíacas você precisa de um barco. Em Ibiza, são poucas praias, mas fica impossível, porque tem muito turismo e está sempre cheio de gente.

Formentera é uma ilha e é um paraíso. É como no Brasil, andamos de chinelos, calções, sempre com temperaturas boas, um mar espetacular, seguro, comida fantástica e vou sempre para lá há 16 anos, desde que conheci através de um outro amigo. Meu sonho e deste amigo era termos uma casa em Formentera. Há alguns anos compramos essas casas, agora reformamos e começamos a alugar. São casas pequenas com dois quartos, mas muito acolhedoras e simpáticas. Aquilo é o paraíso, tem uma mágica. Você consegue esquecer de tudo, pode andar de bicicleta, a pé, de moto. Todas as praias ficam a cinco minutos.

E sobre a saudade da família. Tem planos para trazê-la para morar no Brasil?

- Estamos casados há mais de 25 anos, a minha mulher (Frederica) já se adaptou à minha forma de trabalhar e viver. Portanto já temos isso bem solidificado. Ela está comigo não digo em todas as semanas. Quando é mais perto, ela está comigo a cada semana. Quando é mais longe, de duas em duas semanas ela vem e vai. Minhas filhas já são mais crescidas. Uma, com 23 anos (Leonor), já exerce a medicina dentária (dentista). Já não dá preocupações, já fiz o papel que tinha de fazer. A outra está em Marbella, tem 18 anos (Constança), e está no primeiro ano ainda.

Estamos um bocadinho espalhados, mas somos muito unidos. Falamos muito por Skype, nos falamos por Facetime a toda hora. Consegue se estar presente. O Natal será aqui e a passagem do ano também, se Deus quiser. Portanto a família vem toda para cá.

O que mais gostou do Rio?

- Sobre o Rio, além do Cristo Redentor, São Conrado, Pão de Açúcar, estive em Santa Tereza, já fiquei num hotel lá em cima. Em todos os locais mais históricos já estive, fiz as visitações históricas. Desde que cheguei, tive poucas oportunidades. Fui à Prainha e à Praia de Grumari, almocei um dia. Ali na Barra, perto do hotel, pude comer qualquer coisa e beber uma bebida qualquer perto da praia.

- Vou fazer uma propaganda do Fratelli (risos). Me recebem lindamente todo dia. Durante o dia, normalmente passo no CT até uma certa hora, depois trabalho no hotel mais um pouquinho... Mas tem sido analisar adversários, ver o que a nossa própria equipe fez bem, o que ela tem de melhorar. Perdemos muito tempo em análises e na preparação de treinos, mas vai dando para conhecer alguma coisa. Mais lá para frente, vou ter tempo para fazer turismo. Já tinha estado aqui no Rio por três ou quatro vezes.

Quantos idiomas você fala?

- Espanhol, Francês, Inglês e Português. Num nível normal, não de excelência (risos). Consigo conversar e que me compreendam no Inglês. Joguei na Bélgica e treinei lá, portanto aprendi a falar Francês. Também já tinha a base da escola e do Inglês também. Espanhol também porque é mais fácil e falo fluentemente por conta da fronteira.

Há alguma palavra do português brasileiro que você goste?

- Bacana, legal. Bacana já não posso dizer porque não dá (risos). Já estou casado e não dá para paquerar, não (risos). Vocês têm expressões espetaculares. Aquela "de graça até ônibus errado" é espetacular (risos), vocês têm coisas realmente muito criativas. O marketing e a comunicação brasileira são muito criativos. Do nada vocês fazem tudo, é espetacular.

O que você está comendo no Brasil?

- Restaurante italiano, restaurante brasileiros de churrasco, de carne. E bons. Tenho comida muito carne aqui, eu adoro carne vermelha. Adoro massas, mas engordam em demasia. Gosto de japonês também. E outro também de peixe, mas os frutos do mar aqui são um bocado diferente dos nossos. Marisco, lagosta e camarão são diferentes da forma que se confecciona e como comemos lá.

Já comeu pratos da culinária portuguesa aqui no Brasil?

- Já comi bolinhos de bacalhau aqui até mesmo no restaurante do Vasco, já comi também um arroz de polvo, que lá fazemos muito bem. Um bacalhauzinho quero comer em breve. Se eu sentir saudades dos pratos típicos portugueses, mas que vou ter oportunidade em breve de ir a um bom restaurante português. Só pude ir ao restaurante do Estádio de São Januário.

Você falou que gosta de carne. Cano e Benítez fazem churrascos sempre, e dizem que Cano faz um churrasco maravilhoso...

- Ainda bem que me dissestes isso. Quando tivermos uma grande vitória, vão ter que fazer churrasco para todos (risos). Falamos muitas coisas diferentes.

Vocês dizem camisola, nós, camisa. Dizem época em Portugal, e nós tratamos como temporada. Sabe se os jogadores riram dos seus termos nas palestras?

- Isso é fácil de identificar. Quando saem de uma palestra, eles começam a rir e dizem: "Vocês ouviram o que ele disse? (risos)." É só bater a porta, e eles ficam lá atrás de tic, tic, tic (risos). É normal, já passei por isso, já sei que tenho alguma alcunha (apelido) dentro do balneário (vestiário). Já sei, pois gozam muito com as minhas palavras quando às vezes digo uma daquelas palavras mais típicas portuguesas, aquelas palavras bonitas que não podemos dizer aqui (risos).

Existe esse espírito, mas é normal. Gosto de ter uma boa relação com os meus jogadores, uma relação próxima, logicamente com a devida distância pelo cargo que ocupamos e pela idade que eles têm e que eu tenho. O respeito tem que existir, mas gosto de conhecê-los, de estar perto deles, de brincar com eles. E eles já perceberam isso, temos uma relação muito saudável.

Tenho pena de perceber que às vezes alguns estão mais tristes por não jogarem tanto, por não serem relacionados. É a parte que mais me dói como treinador, é a parte que mais mata. É não poder satisfazer a todos, e infelizmente um treinador tem que fazer escolhas.

Quem são os mais brincalhões?

- Está tudo identificado. Coisas do balneário ficam no balneário.

Aqui a gente fala "vestiário"...

- Vestiário, vestiário (risos)... Mais uma para o livrinho.

Você diz que com certeza os jogadores já lhe deram um apelido. Já ouviu algum?

- Não sei, talvez. Quando eu era jogador, era normal darmos apelidos a treinadores. Passa de geração para geração (risos).

Teve algum apelido engraçado que vocês deram a um treinador que tenha saído na imprensa portuguesa?

- Não saiu na imprensa, mas havia um que era muito rabugento. O apelido dele era rabugento porque estava sempre indisposto. Outro tinha a voz mais fininha, parecia uma boneca. O meu deve ser alguma palavra que utilizo muito, algum gesto. Mas é tudo muito saudável. Adoro o time que tenho, os jogadores e o ambiente que tenho. Todos têm sido exemplares, e eu gosto muito de brincar.

Fonte: ge
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