Acostumados a frequentar a elite do futebol nacional tanto como jogadores quanto como técnicos, Jorginho e Renato Gaúcho foram recrutados por Vasco e Grêmio para ajudar a tirar os clubes da Série B. E, de cara, se veem numa situação inusitada. Os dois estrearão justamente um contra o outro, neste domingo, às 16h, em Porto Alegre. Será a primeira vez que se enfrentarão na segunda divisão.
Ao contrário do que pode achar o torcedor mais jovem, o próprio fato de estarem em lados opostos do campo é incomum para a dupla. Mesmo com Renato já tendo completado duas décadas como treinador e Jorginho caminhando para esta marca (são 17 anos na função), os histórico dos dois trabalhando lado a lado é maior do que como adversários.
Como jogadores, Jorginho e Renato só se enfrentaram duas vezes. Foi no longínquo Brasileiro de 1986, quando o lateral defendia o Flamengo e o atacante disputava sua última temporada na primeira passagem pelo Grêmio. Ninguém saiu vencedor. No duelo pela primeira fase, empate sem gols. Na etapa seguinte, nova igualdade, mas desta vez por 1 a 1.
Com a ida de Renato para o Flamengo na temporada seguinte, a dupla se tornou companheira de equipe. Uma convivência de dois anos e meio que uniu dois jogadores de personalidades muito diferentes.
— A gente tinha um relacionamento muito bom, de muito respeito. As brincadeiras que ele fazia eu levava na boa, sem problema algum. Porque ele sempre teve muito respeito por mim. Ah, era sacana. Sabe como é, né? Ele era um cara mais saído, gostava mais da noite. E eu, tranquilo. Casei em 1987 com minha mulher, era fiel... Ele encarnava muito. Mas nada que ultrapassasse os limites — afirmou Jorginho ao GLOBO, ao lembrar a parceria em campo que lhe rendeu o primeiro de seus dois títulos brasileiros como atleta: a Copa União, em 1987.
— A gente se dava super bem. E éramos muito bem entrosados por aquele lado direito. Ele estava numa fase excepcional e foi fundamental para as nossas conquistas. Principalmente de 1987.
Eles ainda dividiram vestiário pela seleção nas Eliminatórias e na Copa de 1990, quando Jorginho já atuava no Bayer Leverkusen. Como o lateral emendou a experiência na Alemanha com uma passagem pelo futebol japonês, no Kashima Antlers, ao retornar para o Brasil, em 1999, não teve tempo de jogar mais uma vez contra Renato. O atacante se aposentou logo após jogar o Carioca pelo Bangu.
Já como treinadores, foram oito confrontos. A vantagem é do atual comandante gremista, que levou a melhor em quatro (houve ainda dois empates e dois triunfos de Jorginho). No último embate, pelo Brasileiro-2021, o Cuiabá do ex-lateral segurou o favorito Flamengo, de Renato. Deixou o Maracanã com um 0 a 0.
Uma curiosidade: no único duelo entre Grêmio e Vasco com os dois à frente das equipes, melhor para Jorginho. Pelo Brasileirão de 2018, o time cruz-maltino venceu por 1 a 0.
— Estou sempre na torcida por ele. Claro que, desta vez, não. Mas tenho certeza que as duas equipes alcançarão seu objetivo final — projetou Jorginho.