Onze das 12 vítimas do atirador Wellington Menezes de Oliveira, 24, durante o massacre de ontem na escola municipal Tasso da Silveira, foram enterradas nesta sexta-feira (8) nos cemitérios Jardim da Saudade, em Sulacap, e Murundu, em Realengo, ambos na zona oeste do Rio de Janeiro. O corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, liberado hoje pelo IML (Instituto Médico Legal) será cremado nesse sábado (9) no Memorial do Carmo.
O último enterro do dia foi de Igor Moraes, 13, no cemitério Jardim da Saudade, que terminou por volta de 17h. O sepultamento do garoto, que chegou a ser internado no hospital de Saracuruna, mas não resistiu, foi marcado por uma chuva de rosas. Fã de futebol, Moraes sonhava em se tornar jogador. Uma bandeira do Flamengo foi colocada sobre o seu caixão. O presidente e ídolo do Vasco, Roberto Dinamite, compareceu ao enterro de Igor, já que o garoto treinava futebol na escolinha do ex-atacante.
Durante o sepultamento, a mãe de Igor, Inês Moraes da Silva, teve que ser amparada por para-médicos. Muito abalada, ela acompanhou o enterro sentada e saiu sem falar com a imprensa. Igor vivia junto com o irmão de 11 anos, a mãe e uma avó de criação, Dalva de Oliveira Schluckebier, 60. Ela lembra com carinho dos oito anos que Igor viveu em sua casa. Ele era tudo para gente.
Após ser atingido no ataque, p garoto foi operado no tórax e no cérebro e tinha apenas 10% de chance de sobreviver. Igor não tinha contato com o pai José Moraes da Silva, que foi visto rapidamente no velório, mas não permaneceu para o enterro.
Nathan Lourenço, 14, mora no mesmo condomínio de Igor e estudava na mesma sala que a vítima - no 8º ano (7ª série). Ele estava numa aula de português no momento em que o atirador entrou e disparou contra três meninas que estavam ao seu lado. Ele entrou e disse bom dia. Só mirava nas meninas. É difícil, não gosto nem de lembrar, disse Nathan.
Ele apontou a arma na minha cara. Só sei que eu abaixei a cabeça. E todo mundo começou a correr, afirmou o garoto, que estava sentado na segunda fileira e só parou de correr para ajudar um amigo ferido.
Centenas de amigos e familiares acompanharam os velórios e enterros nos dois cemitérios. Por volta de 15h, o corpo de Samira Pires Ribeiro foi sepultado no cemitério de Santa Cruz, também na zona oeste.
No cemitério Jardim da Saudade, o primeiro corpo a ser enterrado foi de Larissa dos Santos Atanázio, 13, por volta de 11h20. \"Ai minha filha... , exclamava aos prantos a avó Sônia Atanázio, que criou Larissa. Ela teve que ser amparada por paramédicos durante o enterro.
Segundo relatos do pai, Robson Atanázio dos Santos, 35, Larissa tinha o sonho de ser modelo e dançarina e já estava ansiosa preparando a festa de aniversário de 15 anos em dezembro de 2012.
Deus está ao lado dela e cuidará dela. Não tinha razão para o que ele (Wellington Oliveira) fez isso. Eram só crianças com um futuro brilhante pela frente. A Larissa era uma pessoa doce, amiga, saudável, gostava de brincar, tratava as pessoas bem, afirmou Robson.
Karine queria ser atleta
O segundo enterro foi o de Karine Lorraine Chagas de Oliveira, 14. Ainda no velório, a avó Nilza da Cruz, 63, com quem Karine morava também passou mal. Aos gritos chamava pela neta. Eu quero a minha neta, chama ela de volta.
Os familiares estavam visivelmente comovidos e abalados. Já Karine tinha o sonho de ser atleta. Seus amigos de treino carregavam faixas com os dizeres, Karine Lorraine participava do projeto desportivo de atletas do Ideal Brasil.
A paixão pelo esporte aproximou Karine do atletismo. A adolescente começou a treinar atletismo no Instituto Ideal no começo do ano e, segundo explicou uma colega de treino Olga Amaral, ela estava começando a conhecer as suas potencialidades.
Era uma menina sempre alegre que treinava com a gente todo dia, disse Jéssica da Silva Augusto, 17, que também estudou no colégio Tasso da Silveira há dois anos. Eu sempre estudei no colégio e ontem à tarde eu iria ao colégio treinar. Quando soube da notícia eu fui para lá. Moro a dez minutos da escola.
Para Jéssica, vai ser difícil visitar de novo o colégio em Realengo após o massacre. Não sei se vou ter coragem para voltar. Eu tenho acesso livre ao colégio. Assim como eu, ele, o Wellington, um ex-aluno, entrou. Liberaram para que ele entrasse e aconteceu isso.
Jéssica conta que fez bons amigos no seu período de estudante, e, além de Karine, conhece alguns estudantes que foram feridos.
Luiza Paula da Silveira, 14, foi a terceira vítima a ser enterrada, ao lado de Karine. As duas eram amigas e estudavam na mesma sala. Ela estudou comigo, era inteligente e estudiosa, disse Vitor Prates, 15, da 8ª série, amigo de Luiza.
Ele não tinha aula de manhã e só iria à escola no período da tarde, mas assim que soube pela televisão, ele foi correndo para a escola. Estudo numa das salas do primeiro andar. Pelo que meus colegas relataram, os alunos achavam que o barulho era de bombinhas que estavam sendo jogadas no corredor.