Roberto Monteiro está no olho do furacão de um dos momentos mais importantes da história do Vasco. Presidente do Conselho Deliberativo, tenta emplacar uma mudança estatutária que pode alterar consideravelmente a forma de se fazer política no clube. Dia 8, entre as alterações no texto que rege o Cruz-maltino, está o voto direto do associado para eleger o presidente administrativo.
O novo modelo do estatuto está pronto e prevê mudanças nos critérios de elegibilidade do sócio. E também no tempo necessário para que um integrante do quadro social tenha condição de votar. Em suma, os beneméritos, que sempre tiveram a maior parte do poder na escolha do presidente administrativo, abrem mão desse poder, mas em contrapartida aumenta-se as exigências de tempo de vida política para um sócio estar apto a participar da Assembleia Geral.
- Isso foi chamado pelos beneméritos de cláusula de segurança, de pesos e contrapesos. De certa forma, há um entendimento de que isso é justo - afirmou Monteiro.
O texto está pronto, mas ainda não foi batido o martelo sobre como será essa transição do formato atual - de sócios que elegem membros de conselho, que votam posteriormente na escolha do presidente - para o alterado.
É justamente nesse ponto que os ânimos políticos podem novamente se exacerbar, como aconteceu na reunião da última quinta-feira, quando um bate-boca generalizado fez com que a sessão do Conselho Deliberativo que votaria as contas do primeiro ano de gestão de Alexandre Campello fosse suspensa antes do fim. A Sempre Vasco, por exemplo, defende a votação direta já em 2020 e faz campanha massiva por isso. Outros grupos são mais conservadores e esperam postergar a mudança para 2023. Roberto Monteiro desafia as diferentes correntes do clube a se posicionarem diante da pauta.
- Eu acho que ninguém vai ter coragem de dizer que vai trabalhar contra as diretas. Vamos votar e acho estará todo mundo muito envergonhado, quem tentar trabalhar contra. Essas pessoas não querem ficar com essa mancha no currículo. Isso serve para o conselho inteiro, todos estarão sendo vistos, inclusive eu. Vamos ver como as forças políticas do clube vão se posicionar - afirmou.
Na reunião sobre as contas de 2018, o posicionamento foi beligerante. Alexandre Campello e Euriquinho, filho de Eurico Miranda, por pouco não chegaram à agressão física. Monteiro se defendeu das acusações de que teria tentado atrasar o andamento da sessão para que conselheiros favoráveis à aprovação das contas fossem embora - ele é da ala que, baseada no parecer do Conselho Fiscal, defende a reprovação dos números apresentados por Campello.
Caberá a ele, como presidente do Conselho Deliberativo, determinar uma nova data para a votação das contas. Mas antes, se preocupa com a reforma estatuária:
- Eu acho que se infelizmente levarem torcida organizada para tumultuar do lado de fora, como foi visto quinta-feira, ou uma determinada segurança desqualificada, para atuar no plenário, isso pode atrapalhar. Se essas pessoas acham que não devemos ter diretas, vão prejudicar a sessão. Mas eu espero que não aconteça isso no dia 8. Estamos indo para lá votar algo que é mais uma vez do interesse do clube.
Destaques do novo estatuto
- Aumento de um para três anos no tempo de associação para um sócio poder votar na eleição do clube
- Aumento de cinco para oito anos no tempo de associação para um sócio se tornar elegível ao cargo de presidente, além de ter sido ao menos um vez eleito conselheiro
- Definição da eleição direta: "Art. 51 — São eleitos pela Assembleia Geral, na forma e condições estabelecidas neste Estatuto: o Presidente e o Vice-Presidente da Assembleia Geral; 150 (cento e cinquenta) membros do Conselho Deliberativo, o Presidente, 1º Vice Presidente e 2º Vice Presidente da Diretoria Administrativa".
A transição ainda vai ser definida
Primeira proposta: o novo Estatuto entra em vigor na sua totalidade a partir do momento de sua aprovação pela Assembleia Geral.
Segunda proposta: o novo Estatuto entra em vigor a partir do momento da sua aprovação pela Assembleia Geral, inclusive com a eleição direta, com exceção das novas regras para o sócio eleitor e elegível. Essas passariam a valer somente depois da eleição de 2020.
Terceira proposta: o novo Estatuto entra em vigor a partir do momento de sua aprovação pela Assembleia Geral, com exceção do artigo que institui a eleição direta e as novas regras para o sócio. Neste caso, a eleição do ano que vem seguiria nos moldes atuais - indireta - e a mudança para direta passaria a valer para o pleito de 2023.