A partida contra a Chapecoense pode ter sido, simbolicamente, a última do futebol vascaíno sob comando do Club de Regatas do Vasco da Gama. Na reestreia de Alex Teixeira. A reunião da Assembleia Geral que decidirá a venda da SAF para a 777 Partners está agendada para o próximo domingo, 7 de agosto, e o jogo seguinte será no dia 9. Fora a possibilidade de liminares e decisões judiciais, este momento histórico nos leva à questão: por que vender?
Alguns poréns precisam ser levados em consideração para evitar desapontamentos. A começar pelo que mais importa. Não existe nenhuma garantia de que o time, sob nova direção, será vencedor. Mesmo que tenha mais dinheiro. Se quem estiver no comando não tiver conhecimento em gestão de futebol e alguma sorte, pouco adiantam as centenas de milhões de reais. A 777 ainda tem muito a provar, pois acaba de chegar ao mercado futebolístico.
Também não existe garantia de boa administração. Cuidados podem ser tomados ao formatar a governança da futura empresa, desde a composição de seu Conselho de Administração e de seu Conselho Fiscal, até a montagem de seus controles e procedimentos internos. Ainda assim, nada garante que decisões estabanadas não sejam tomadas, entre profissionais despreparados e decisões estratégicas equivocadas. Mais um ponto em que a 777 precisará ser vigiada.
Há, ainda, certa irreversibilidade na opção. O Vasco não está entrando numa parceria, como fez com o Bank of America no fim dos anos 1990. A associação civil está vendendo o controle da empresa que administrará seu futebol, e só poderá retomá-la, em teoria, se comprá-la de volta. O modelo associativo tem suas várias vulnerabilidades, mas algo é certo: presidente ruim um dia cai. Imagine se o Vasco tivesse sido propriedade formal de Eurico Miranda.
Se não há certeza de vitória ou boa administração, nem dá para pegar de volta com facilidade, qual é a vantagem? A realidade é que esse Vasco associativo falhou miseravelmente. Não só hoje. Faz mais de duas décadas que o clube vem sendo apequenado. Jorge Salgado, Alexandre Campello, Eurico Miranda, Roberto Dinamite. Todos que tentaram gerir o clube, de 2000 para cá, fracassaram. Sem falar nos ratos e nas baratas que infestam seus porões.
A 777 se dispõe a arcar integralmente com a dívida do Vasco, hoje para lá dos R$ 700 milhões. Os americanos também prometem investir outros R$ 700 milhões em três anos. Significa que haverá reforços e aposta em infraestrutura, como estádio e centros de treinamento. Foram muitos planos econômicos frustrados até aqui, de gente que achava que conseguiria chegar a esses números por vias ordinárias. Acabou a paciência para crer nesses mesmos políticos.
A venda do futebol cruz-maltino para americanos não bate com a vocação do clube. O Vasco deveria ter sido do povo e para o povo, alavancado por sua enorme torcida, exemplo de administração com raízes democráticas. Tomado por indivíduos tacanhos e apegados aos seus pequenos poderes, não foi e improvavelmente será. Então que seja assim. Uma empresa de propriedade e capital estrangeiros, sem oba-oba sobre o que será o futuro sob seu comando, mas com a esperança de recolocar o gigante em seu lugar. Enfim, para o povo.
O Vasco associativo falhou miseravelmente. Não só hoje. Faz mais de duas décadas que o clube vem sendo apequenado