Puxei Romário num canto do camarote da Unimed, cheio de jogadores do Fluminense. Era o segundo dia de desfile e tudo o que eu queria era marcar uma entrevista para o jornal. O Baixinho mandou recado para um parceiro meu de trabalho:
\"Pede pra ele parar de pegar no meu pé. Não quero guerra com ninguém. Respeito as opiniões de todo mundo, mas só quero fazer meus gols e estou trabalhando pra isso\".
Prometi dar o recado. E Romário deu de desabafar. Parecia agora mais preocupado com as críticas do que com o milésimo gol, obsessão que tomou conta de sua vida nesse fim de carreira.
\"Marluci, o que você está achando?\", perguntou.
Respondi, sem censura, o que sempre pensei:
\"Admiro quem tem sonhos e trabalha para realizá-los. É um sonho seu e, trabalhando, vai acançá-lo. Só não pode ser uma preocupação do Vasco. O sonho é seu. Só seu\".
Romário, por fim, perguntou:
\"Como você acha que está repercutindo agora esse negócio dos mil gols?\"
E, eu:
\"Depois dos três gols no Voltaço, você queria o quê?\"
Romário:
\"Mas, ainda vou levar um tempo para chegar aos mil. Depois daqueles três, vou voltar a minha média... Vai seu um golzinho aqui, outro ali, e olha lá...\"
Deu uma gargalhada por ter esculhambado a si próprio, despediu-se do carnaval e foi embora. Ficou a impressão de que, nesse fim de carreira, Romário está mais preocupado com as críticas. É hora de deixar boa impressão.