A relação de amor e ódio entre o craque Romário e o técnico do Vasco, Renato Gaúcho, tem um capítulo decisivo na noite de hoje. Caso Romário marque um gol, alcançando o tão sonhado milésimo na carreira, e o Vasco vença, o atacante ajudará a equipe a se classificar para a final da Taça Rio. De quebra, prorrogará a permanência do treinador à frente do time da Colina. Porém, se o clube não obter a vitória, a arrogância de Romário - que, em vez de curtir sua folga com a família no domingo de Páscoa, preferiu ir à Região dos Lagos polemizar a situação do clube durante o jogo contra o Cabofriense - poderá colocar um ponto final na história escrita por Renato em seus dois anos de São Januário.
Romário e Renato se dizem amigos, mas a relação entre os dois sempre foi conturbada. Um sempre se achou melhor que o outro. Renato ganhou tudo por clubes; Romário, pela Seleção. Ambos disputavam de mulheres na noite à participação em novelas. Agora, travam um duelo particular dentro do próprio clube.
A primeira desavença entre os ídolos ocorreu na final do Carioca de 1988, quando o Vasco de Romário derrotou o Flamengo de Renato. Logo após o gol do título, marcado por Cocada, Romário tentou tirar do sério Renato, que, não aceitando provocações, deu início a uma briga. O vascaíno tentou reagir, mas foi contido por companheiros. Os dois acabaram expulsos.
No ano seguinte, na despedida de Zico da Seleção, em Udine, Romário reclamou do técnico Sebastião Lazaroni, que o deixou no banco para que Renato iniciasse o jogo.
- Seleção não é INPS, para ajudar amigos - disse, seco, Romário, que brilhava pelo PSV enquanto Renato não se acertava pelo Roma.
Na disputa da Copa América, em 1989, e do Mundial da Itália, em 1990, Renato e Romário uniram forças. Mas voltaram a duelar em 1995. Melhor jogador do mundo, o Baixinho chegou com pompas ao Flamengo, o que mexeu com os brios de Renato , que tentava dar a reviravolta na carreira pelo Fluminense.
- No Maracanã e na areia o Romário vai ver quem é o Rei do Rio - disse o ex-ponta-direita, que levou a melhor, marcando, de barriga, o gol que sepultou o sonho de um título rubro-negro no ano do centenário.
A relação se estremeceu. No aniversário de 20 anos de uma churrascaria, Romário faltou à festa porque Renato, o principal garoto-propaganda da casa na época, tinha chegado antes ao local.
Em 1997, amizade aparentemente refeita, Romário, assim que foi vendido pelo Flamengo ao Valencia, ridicularizou a contratação de Renato para o seu lugar. Porém, em 2002 Romário levou Renato para dirigir o Fluminense. Juntos, chegaram às semifinais do Brasileiro.
Em 2005, Renato assumiu o Vasco e bancou Romário, que foi o artilheiro do país aos 39 anos. Mas, no ano passado, o Baixinho, desmotivado, atrapalhou tanto o Vasco que chegou a ser impedido por Renato de enfrentar o Flamengo, fato que provocou a saída de Romário do clube para o futebol norte-americano.
Este ano, Renato ajustava o time quando a Fifa liberou Romário. A contragosto, o técnico aceitou o parceiro, desde que se dedicasse em treinamentos especiais. Tudo ia bem; Romário aceitava até ficar no banco. Mas, desde que fez seu gol 999, Romário, egocêntrico, esqueceu a ajuda que o técnico lhe deu e bateu de frente com Renato no último domingo. Hoje, a novela segue. Talvez, em seu capítulo final.