RIO - A maior revelação do Vasco no Campeonato Brasileiro é um rapaz tímido, de poucas palavras, que aos 21 anos já é casado e pai de uma menina de três anos. Nasceu em Picos, interiorzão do Piauí, e até abril morava com a família num pequeno apartamento alugado em São Cristóvão, pago com a ajuda do empresário. Em campo, Rômulo é incansável na proteção da defesa; joga com calma e categoria surpreendentes. Acaba de ser indicado para o prêmio Craque Brasileirão-2011, e está atuando tão bem que o técnico Cristóvão Borges já não tem receio de afirmar: em breve, estará nos melhores clubes da Europa.
Rômulo é um jogador de alto nível, vai evoluir muito mais e vai jogar num grande clube do cenário mundial elogia o técnico. Não tenho a menor dúvida disso, pelas consultas que a gente recebe sobre ele, pelos elogios. É um jogador fundamental no esquema. Quando jogamos com Felipe e Juninho, ele se torna mais importante ainda, pois dá equilíbrio ao time.
Rômulo chegou ao Vasco nos últimos meses de 2009. Veio do inexpressivo Porto de Caruaru, Pernambuco, para jogar nos juniores. Só ganhou sua primeira oportunidade no time profissional no segundo semestre do ano passado. Até hoje, jogou apenas duas vezes no Maracanã, e quarta-feira disputará sua primeira partida no exterior. Hoje, terá pela frente a dura missão de marcar, entre outros, um craque com perfil oposto ao dele: Deco, dono de longa folha de serviços prestados ao Barcelona e à seleção portuguesa.
Deco é espetacular
Mesmo confiante em sua boa fase, o volante mostra respeito e admiração pelo adversário:
Deco é um jogador espetacular, sua própria carreira diz, já ganhou vários títulos. Esteve machucado, mas tem muita qualidade para tirar isso de letra. O Fluminense é uma equipe muito boa, está na briga pelo título, não vou poder vacilar.
Rômulo reconhece que o Vasco está cansado com a maratona de jogos por diversas competições. Mas diz que, na reta final do Brasileirão, não há nenhum time inteiro. É verdade que o meio-campo do Vasco tem dois jogadores com 34 anos ou mais, e a idade pesa em fim de temporada. Mas o volante diz que Felipe e Juninho compensam com a experiência e com o toque de classe que dão ao time:
Eles correm menos, mas sabem o que fazer com a bola, onde se colocar em campo. Aprendi muito, principalmente, com o Felipe, que sempre dá bons conselhos. É o momento da superação. Durante o ano, nossa equipe superou vários momentos difíceis, e agora não vai ser diferente.
Poucos vascaínos sabem que o clube deve ao diretor-executivo Rodrigo Caetano a função de olheiro que descobriu o futebol de Rômulo. Em 2007, o garoto de 17 anos disputou, pelo Porto de Caruaru, a Taça São Paulo de Juniores. Caetano estava lá e viu. Na época, não conseguiu levar o rapaz para o Grêmio, onde trabalhava. Mas não perdeu o contato com o empresário, e foi quem trouxe Rômulo para São Januário, no fim de 2009.
Na época, ele ainda jogava mais adiantado, como segundo volante. Foi assim que ganhou sua primeira oportunidade no time principal, com o técnico PC Gusmão. Ricardo Gomes, que chegou este ano, tem o mérito de ter recuado Rômulo para a função de primeiro volante, posição em que chegou à seleção brasileira (jogou na vitória sobre a Argentina) e em que está disputando com Ralf e Arouca o título de melhor do Brasileirão.
Ricardo me deu uma posição à frente da zaga e eu me adaptei muito rápido, graças a Deus. Este ano foi muito proveitoso. Estou vivendo um belo momento e espero, daqui a alguns jogos, festejar ainda mais.
Rômulo acha que tem chances de ganhar a disputa pelo título de melhor volante do Brasileiro. Mas garante, sem falsa humildade, que já está muito feliz por estar concorrendo no prêmio da CBF. Afinal, para um garoto que saiu de casa aos 14 anos, e que na concentração do Porto de Caruaru escondia-se para chorar de saudades da família que deixou em Picos, não há como deixar de sentir orgulho pelo caminho já percorrido:
Ganhando ou não, vou ficar feliz do mesmo jeito. Ralf e Arouca são muito bons. Acho que tenho chance, pelo bom momento do Vasco. A decisão vai ser pelos mínimos detalhes.
Ainda no time de Pernambuco, Rômulo chegou a ser levado pelo empresário ao Benfica, de Lisboa, para tentar a sorte. Ficou uma semana e nem chegou a entrar em campo: a pouca idade impediu o teste. Depois, passou dois meses no Atlético Paranaense, mas estava com o braço quebrado e também não pôde jogar. Os pais um funcionário público e uma pequena comerciante continuaram apostando no filho. E Rômulo não esquece o dia em que o empresário ligou com a notícia de que ele viria para o Vasco:
Nossa, foi uma felicidade muito grande, minha e da minha família! Eu nunca tinha jogado em time grande! Foi uma surpresa, uma coisa nova para mim, e procurei mostrar meu trabalho.
Rômulo é grato ao Vasco e diz que seu pensamento é ficar no clube ano que vem, para jogar sua primeira Copa Libertadores. Seu contrato, renovado no início deste ano em bases muito melhores que as anteriores, vai até 2015. O volante se mudou com a mulher e a filha para um bom apartamento no Recreio, ainda alugado, e vai aos treinos num belo carro importado. Ficaram para trás os tempos em que Éder Luís, seu companheiro de quarto na concentração e um de seus melhores amigos, lhe dava caronas para os treinos.
Mas o volante também não descarta a possibilidade de se transferir para outro clube, se surgir boa proposta financeira:
Não sei, depende de muita coisa, do contrato, das propostas que surgirem, do Vasco. Meu pensamento é ficar. Depende do reconhecimento do clube, de ver se eu estou merecendo ou não. Quem tem de reconhecer é a diretoria, eu procuro estar jogando e fazendo o meu melhor.
Satisfeito com os elogios de Cristóvão, a estreia na seleção e o reconhecimento da torcida, Rômulo não quer pensar muito no futuro. Hoje, ele tem uma pedreira contra o Fluminense. Quarta-feira, vai a Santiago e acha que ainda é possível passar pelo Universidad de Chile. O Vasco está perto de alcançar seus objetivos. É melhor não se preocupar agora com o futuro.