O jornalista Mario Marques entrevistou o advogado e empresário, Leven Siano, que entrou na disputa pela presidência do Vasco em 2020 como um outsider. De 2018 até o dia da eleição, investiu em sua própria imagem, defendeu um Vasco que pensa gigante e alto e acabou enlaçado por mais uma eleição judicializada. Fora de uma segunda data marcada pela Justiça, apelou à mesma sem sucesso. Com Jorge Salgado definitivamente confirmado como presidente, seguiu acompanhando a administração à distância e manteve um engajamento e relação com a torcida. O advogado de 51 anos analisa a situação dramática por que passa o Vasco e demonstra sua insatisfação com Salgado, revelando um bastidor: “Onde ele estava na partida contra o Guarani ? Num jogo de carteado”.
MM: Leven, está claro que a gestão de Salgado fracassou. A pergunta é: caso você fosse o presidente, o que teria feito diferente contra o rebaixamento para a Série A, e nesse momento na série B?
LS: Tudo. Não teria dito que estava ali para primeiro me pagar, com atletas e funcionários com meses de atraso. Teria maciço apoio popular porque a torcida queria nosso projeto no clube e entraria com outras perspectivas de preparação física, psicológica e financeira. O Vasco não teria caído e esse ano estaríamos no nosso lugar de protagonista.
MM : Muitos o acusam de espalhar devaneios ou criar ilusões que não poderão se cumprir. De certa forma, isso criou um folclore sobre seu nome, não só no meio político do Vasco como em parte da torcida. Como mudar essa percepção?
LS: Quem espalha isso é quem vive do clube, pensa apenas no poder, esqueceu o que o Vasco é ou pode ser ou nunca sequer leu o projeto Somamos, o que é uma postura acientífica é irracional. Parece que o VP de marketing recentemente confessou nunca ter lido e que nunca vai ler. Isso é razoável ? Enfim, tudo que foi planejado neste projeto foi consequência da construção de um rigoroso planejamento estratégico construído com a participação de craques do meio corporativo. Foi feito um projeto com análises SWOT, financeira, de mercado, da concorrência e ambiental política e econômica. Foram elaborados planos de marketing, organograma funcional e plano operacional, além de um plano de negócios e modelagem financeira. Tudo está disponível em www.projetosomamos.com.br. Só não pudemos publicar as parcerias estratégicas devido a compromissos de confidencialidade, mas disponibilizamos a quem quis conhecer e todos foram convidados. Há muitos que dizem que é devaneio, foi convidado e não quis ver. Ora, quem age assim não agrega para o processo político. A capacidade de captar recursos ficou comprovada quando várias opções de mercado se apresentaram como novos parceiros do clube, trazendo os recursos e possibilidades que nos tirariam da crise. Além disso as empresas e executivos que faziam parte da equipe, por si só, são provas vivas da exequibilidade do projeto. Eu lamento que uma pequena minoria de vascaínos que detêm o poder de forma ilegal e ilegítima cismaram que o Vasco é pequeno, inviável e incapaz. Espelham o que são seus próprios horizontes reduzidos pessoais ou têm planos de sucateamento do clube para se vender a custo baixo um dos clubes com maior potencial da América Latina.
MM : O modelo de comando do Vasco garantia que o elenco montado para série B era o melhor elenco do campeonato. Como você analisa o elenco do Vasco?
LS: Uma piada de mau gosto. Um excelente diretor de futebol era a primeira escolha, mas rumores dizem que teria que ser alguém escolhido pelo empresário que comanda o Vasco porque se criou uma relação de dependência com ele. Daí o diretor não veio e foi emponderado um rapaz inexperiente e sem entender o que é o Vasco, recebendo – dizem – R$ 150 mil mensais. Ele trouxe atletas que não eram titulares em clubes de menor expressão que o Vasco. A maioria não estava jogando. Se foi, por exemplo, um zagueiro que estava bem e veio um que não está jogando. Por qual razão ? Além disso se estabeleceu um time com baixo potencial físico e baixa estatura. Assisti Vasco x CSA e parecia um jogo de adultos contra meninos. Péssimo trabalho. A falta de um VP de futebol também contribui porque o futebol não pode ser conduzido somente de forma racional, em clubes da característica do Vasco.
MM : Nunca antes na história do Vasco vimos um presidente tão sumido num ano em que mais precisamos de sua presença. Salgado participou de pouquíssimas coletivas. Em nenhuma pediu desculpas. Como você avalia isso?
LS: A face da arrogância e do descaso. Onde ele estava na partida contra o Guarani ? Num jogo de carteado. Salgado sempre foi uma boa referência entre os vascaínos, mas sua gestão desastrosa prova que sua intenção era apenas receber o que entende que o clube lhe devia. Lutou com todas as forças na Justiça e está empossado por uma liminar proferida irregularmente em um plantão judiciário para entregar ao torcedor o maior vexame da história do Vasco.
MM : Não resta outra saída para Salgado a não ser renunciar. Como você apoiaria uma possível gestão de Osório?
LS: Se ele renuncia agora, Osório não assume porque a sucessão automática só se dá pelo estatuto na segunda metade do mandato. Como o cargo de Presidente é de eleição pela assembleia geral, teria que haver outra assembleia geral para escolher outro Presidente. Qualquer entendimento contrário seria contrário à democratização que todos entendiam necessária com a escolha do Presidente por eleição direta. Entretanto isto não resolve o problema do clube porque teremos um novo Presidente eleito com um conselho que não está alinhado com seu plano estratégico, de forma que uma renúncia deveria ser pensada com uma nova eleição, começando tudo do zero e dando oportunidade ao eleitor vascaíno de eleger o projeto que ele entende ser melhor para o clube. Isto trará o torcedor para o clube com mais força e o mandatário estará reconhecidamente legitimado. Salgado, se quiser prestar um último ato para ser bem lembrado, deveria buscar acordo com outros agentes políticos, para antes de renunciar buscar reabrir este novo processo eleitoral sem judicialização. Isso é importante porque a sensação do vascaíno hoje é que suas escolhas não s?o respeitadas e isso o afasta do clube.
MM : Como você analisa a declaração de Salgado na véspera do jogo contra o Guarani admitindo que tinha um plano pronto caso o Vasco se mantivesse na série B?
LS: A possibilidade de uma esquizofrenia política de não estar alinhado com o que o cliente (que é o torcedor) deseja. Ou um plano maquiavélico de apequenamento do clube para permitir uma venda barata como “única solução”.
MM : O senhor de certa forma insuflou esperanças jurídicas de que pudesse assumir a presidência e isso não se concretizou. Pergunta: o senhor admitiria, por exemplo, assumir o Departamento de Futebol, talvez em associação com a Sempre Vasco, para remodelar o futebol?
LS: Eu não insuflei nada, apenas tenho total convicção que o STJ não pode conceder liminar contra decisões monocráticas dos tribunais. Qualquer estudante de Direito sabe isso. Também que não se pode fazer dois recursos para uma mesma pretensão recursal e ter liminar concedida em 7 minutos no plantão judiciário, com relator prevento. No Brasil há um Direito para os comuns e outro para advogados que são parentes de ministros e desembargadores e é uma pena que a imprensa se cale para isso. Quanto ao problema do Vasco ele não se resolve somente no futebol, mas em uma ação integrada com um plano estratégico, marketing, financeiro, patrimônio, futebol e equipe executiva que credibilize a instituição junto ao mercado. Estou pronto para servir o clube em qualquer função de qualquer importância, ate como porteiro, mas por trás do processo de tomada de decisões tem que haver um plano estratégico claro e um propósito. Se o plano for vender o Vasco porque o clube se tornou inviável, estou fora. Se o plano, entretanto, for organizar a casa, implementar o Somamos com as adaptações que se possam fazer necessárias e eu puder trazer minha equipe executiva para trabalhar, estou pronto para pavimentar o caminho de disputarmos títulos novamente. A dificuldade neste cenário é como alinhar este empenho com um conselho descompromissado com este novo paradigma estratégico que zombou desta pretensão todo o tempo. Por isso, o pacto político precisa, talvez, de outra solução política que seja uma nova eleição.
MM : Que qualidades o senhor enxerga na gestão de Salgado?
LS: Até o momento infelizmente não consigo ver absolutamente nada que tenha realmente orgulhado os vascaínos.
MM : Se o Salgado lhe telefonar hoje, o que diria pra ele?
LS: Vamos recomeçar do zero?