Em conversas individuais com o governador Sérgio Cabral na tarde desta segunda-feira, os quatro grandes clubes do Rio colocaram suas posições em relação à administração do Maracanã. Enquanto o governador decide se deixará, ou não, o controle do estádio com atual concessionária, o Fluminense, único a assinar parceria por 35 anos para jogar no Maracanã, se mostrou satisfeito com o seu contrato e passou essa posição ao governo. O Flamengo, por sua vez, critica os custos de operação do estádio e discute um melhor modelo com a concessionária.
O presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, chegou acompanhado do diretor-executivo do clube, Sérgio Landau, mas não concedeu entrevistas no fim da reunião. Antes da conversa com Cabral, Landau informou que discutiria mudanças no atual contrato, pedidas pela própria concessionária. Mas não entrou em detalhes. O presidente do Vasco, Roberto Dinamite, acompanhado de seu diretor-executivo, Cristiano Koehler, também não comentou a respeito da conversa com o governador. Apenas os mandatários de Flamengo e Fluminense falaram sobre o encontro.
Presente nas conversas com os quatro clubes, o presidente da Suderj e secretário de Esporte e Lazer, André Lazaroni, explicou a posição de cada instituição. Disse ser remota a chance da entidade que comanda voltar a operar o Maracanã e que nenhum clube se colocou contra o modelo de gestão privada.
- A maior reclamação do Flamengo foi com relação aos custos do Maracanã. O governador ligou para o presidente do consórcio e solicitou que as duas partes sentem para chegar a um acordo. O Flamengo entende que os custos estão acima do que pagam em outros estádios. Existe uma preocupação do governo com o Maracanã, às vezes tem um custo maior também porque se exige um efetivo maior para não ter problema. Não queremos ver no Maracanã aquele episódio que vimos em Brasília. O Fluminense se mostrou muito satisfeito com a concessão. O Botafogo também não reclamou e o Vasco está criando uma relação melhor com o consórcio para ter uma quantidade mínima de jogos. Em nenhum momento se falou da criação de uma empresa dos clubes para a gestão do Maracanã. O Vasco está esperando essa negociação do Flamengo para avaliar qual o melhor modelo.
Sobre a hipótese de a Suderj voltar a administrar o estádio, como acontecia no passado, ele analisou:
- Eu não sei avaliar a Suderj do passado. A Suderj hoje está reduzida, tem um efetivo bem pequeno, não é a mesma Suderj de 10, 20 anos atrás. No modelo antigo, quem operava em dia de jogo era a Ferj. A Suderj na verdade contratava a Ferj para operar aquilo tudo. A possibilidade de voltar para a Suderj é remotíssima, está sendo avaliada agora, mas a gente percebe que há essa preocupação. A Suderj não tem efetivo (para operar o estádio).
Eduardo Bandeira de Mello, o primeiro a se reunir com Cabral, disse que o Flamengo reafirmou o seu interesse em mandar seus jogos no Maracanã em caráter definitivo, mas deu a entender que um contrato a longo prazo com a concessionária só deve sair no ano que vem. Ele ressaltou também que o governo não tomou uma decisão a respeito de cancelar ou não a concessão, afirmando apenas que não é o desejo de Cabral devolver a operação do estádio à Suderj. Depois de uma troca de farpas aberta, via notas oficiais, na última semana, entre o Flamengo e a concessionária do Maracanã, o discurso do presidente do clube apontou para uma conciliação.
- O governador foi muito compreensivo, ligou para o presidente da concessionária para que estudasse o que o Flamengo já propôs e pediu que sentasse imediatamente para chegar a esse acordo, nem que seja para ajustar pontos do acordo até o fim do ano. A ideia é firmar condições para que no ano que vem seja firmada uma parceria a longo prazo. Ele (Cabral) não quer o Maracanã com a Suderj novamente, mas não está definido se a concessionária permanece em caráter definitivo. Terá uma solução em breve. Mas reafirmamos o nosso desejo de jogar no Maracanã - disse Bandeira.
Apesar de Bandeira falar de que há uma incerteza em relação ao futuro da administração do estádio, Cabral rechaça qualquer possibilidade de o governo reassumir a gestão do Maraca.
O dirigente evitou entrar em detalhes dos pedidos feitos para mudança no atual acordo com a concessionária, mas destacou mais uma vez a insatisfação do clube com a parcela que coube ao Flamengo da arrecadação da partida contra o Cruzeiro, pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
- Foi uma proposta que segue um pouco os termos do que foi negociado com eles, com detalhes que aprendemos na operação desses jogos e acabaram não tendo um resultado positivo. Como a arrecadação contra o Cruzeiro, algo incompatível com a necessidade do Flamengo, ainda mais com os números de Brasília. Todo mundo sabe que o Flamengo está numa situação muito difícil, temos de virar esse jogo, sobreviver os próximos meses, e tenho certeza que a concessionária vai ter boa vontade para chegar a um acordo.
O presidente tricolor, Peter Siemsen, por sua vez, disse não acreditar na possibilidade de o estádio ser gerido pelos clubes, por dificuldade de alinhar as ideias, e afirmou que sua intenção é permanecer com os termos já acordados com a concessionária. As únicas duas questões ainda problemáticas levantadas por Siemsen foram o acesso direto dos sócios-torcedores com a carteira do programa tricolor e a questão do estacionamento, depois de o governo decidir não demolir o Célio de Barros e o Júlio Delamare. Ao comentar a questão dos sócios-torcedores, Siemsen afirmou que uma solução está próxima. Ele ressaltou ainda que o modelo de contrato do Fluminense tirou do clube responsabilidades e custos na operação de jogos.
- Já fizemos um teste para os smart cards serem lidos pela catraca, o contrato tem se mostrado extremamente equilibrado, e para o Fluminense atingiu o objetivo de trabalhar com uma equipe do tamanho necessário para concentrar os seus esforços para o seu fim, formar jogadores e gerir futebol. Então é um modelo que muito agrada ao Fluminense. Isso nos desonerou bastante o quadro móvel de funcionários, toda uma estrutura que tinha ser montada a cada jogo. Dá para melhorar? Dá. Mas estamos satisfeitos e esperamos que outras coisas boas possam vir, como a construção de uma área de estacionamento. Muitos torcedores têm optado pelo táxi, porque é uma área na qual o estacionamento é complicado. Mas tenho certeza que a concessionária encontrará uma solução. É uma fonte de receita e uma comodidade importante. A gente precisa do estacionamento no Maracanã.
Questionado sobre uma possível gestão compartilhada pelos quatro grandes do Rio, Siemsen não se mostrou empolgado. Pelo contrário, afirmou que os clubes não mostram união.
- Uma coisa é a gente trabalhar com sonho, a outra coisa é trabalhar com a realidade. Os clubes já conseguiram se unir para mudar o calendário do Brasileiro? Se havia uma união não existe mais, então não vejo uma realidade próxima para que os clubes apresentem posições alinhadas. Quanto o clube ter participado ou não da licitação é passado, provou-se que o concessionário tem capacidade. Agora falar que os clubes vão se unir para gerir o Maracanã, cada um com seu interesse, sua torcida, a transmissão de jogos na televisão... É um sonho, se acontecer, maravilhoso, mas não acredito nele no momento. Tem outras coisas para arrumar a casa primeiro, por exemplo, a lei de gratuidades. Existem hoje gestões de excelência do futebol, mas elas têm de ser levadas para a união, aí eu vou acreditar.
O presidente disse ainda que, em quatro jogos no Maracanã, o Fluminense alcançou quase 50% da arrecadação de 2012 com bilheteria.
- Tudo o que a gente quer é regra e transparência, a médio e longo prazo. O Fluminense está muito satisfeito com o modelo atual de contrato. O Fluminense quer se voltar para sua atividade fim e reduzir custo de operação de qualquer coisa. Quando jogávamos no Engenhão, tínhamos prejuízo em uma partida, aí recuperava em outra com renda boa. Sem crítica, mas é uma conta, um planejamento muito mais difícil. Sem custo para jogar, a gente parte sempre do princípio que estamos ganhando. É muito mais fácil para o clube planejar. O Fluminense está bastante satisfeito com o resultado, em quatro jogos, tivemos metade de toda a renda de jogos do ano passado. Eu acredito que esse é o melhor modelo para o Fluminense.
Terminada a reunião, o Complexo Maracanã Entretenimento S.A. se manifestou com uma nota oficial:
"Nesta segunda-feira, 02/09, após reuniões entre o governador do Rio de Janeiro e representantes dos quatro grandes clubes cariocas, a concessionária que administra o Maracanã foi procurada pelo governo, que solicitou compreensão de todas as partes envolvidas na operação e utilização do estádio. A concessionária reafirma que está, como sempre esteve, à disposição para dialogar com os clubes no sentido de estabelecer as melhores parcerias, com benefícios para todos, torcedores, times e para a profissionalização do futebol brasileiro".