Como se não bastasse o clima de tensão vivido no clube pelo episódio de agressão ao zagueiro Rodrigo, o duelo contra o Atlético-PR apresenta o ingrediente extra de ser o primeiro das duas torcidas no Rio, após a barbárie de Joinville, em 2013. Um encontro rodeado de preocupação, que já registra ameaça de emboscada e deixa a Polícia Militar e o Maracanã em estado de alerta.
Na semana passada, um perfil nas redes sociais com o escudo de uma torcida organizada vascaína ameaçou os atleticanos e incitou seus integrantes a comprar ingressos para o setor Norte, destinado à torcida visitante. O Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) tomou ciência do texto, que ainda insinua uma possível invasão ao Maracanã com falsos coletes de “stewards” (os agentes de segurança particulares do estádio).
— Existe um procedimento de identificação para os stewards. Não é só colocar o uniforme. Mas já repassei o caso ao Maracanã e eles estão cientes — afirmou o comandante do Gepe, Major Sílvio Luís, que procurou tranquilizar os torcedores em relação à chance de confrontos.
— O policiamento será reforçado no setor visitante. Os demais procedimentos serão os mesmos: o vascaíno identificado no setor Norte será retirado, e quem criar distúrbios será encaminhado ao Jecrim (Juizado Especial). E faremos a escolta dos atleticanos na ida e na volta.
Vinte e um meses após a barbárie que manchou de sangue o futebol brasileiro, não é de se espantar que ainda haja episódios como este. Dos 31 processados em 2013, nenhum foi julgado. Hoje, apenas sete respondem por tentativa de homicídio. Destes, só um está perto de ser julgado: Leone Mendes da Silva, flagrado pelas lentes com uma barra de ferro.
— A maioria dos defensores e dos envolvidos não são de Santa Catarina. Para ouvir qualquer pessoa, é preciso entrar em contato com a comarca dos estados de origem, o que gera toda essa lentidão — lamentou Ricardo Paladino, da Primeira Promotoria de Joinville.
Leone: no aguardo do júri
Símbolo da briga generalizada em Joinville, Leone Mendes da Silva poderá estar atrás das grades ainda este ano. Mas a possibilidade é remota. A Justiça determinou que ele deve ir à julgamento com júri popular. Seu advogado recorreu da decisão. Hoje, o processo aguarda a resposta ao recurso.
— O processo tem detalhes com os quais não concordamos. Por isso, recorremos — disse o advogado Márcio da Maia, que não autorizou seu cliente a dar entrevista. — Ele está tentando seguir a vida dele. Está na igreja, continua trabalhando como barbeiro e comparece na delegacia nos dias de jogo. Isso, aliás, prejudica os estudos e o trabalho dele.
O passo-a-passo do caso
Crime e castigo: Num primeiro momento, 31 torcedores foram detidos e processados pela violência generalizada em Joinville. Hoje, todos aguardam o desenrolar de seus processos em liberdade.
Mudança: Dos 31, 24 tiveram o artigo alterado para o 41-B do Estatuto do Torcedor (promover tumulto, praticar ou incitar a violência em eventos esportivos), que prevê de um a dois anos de prisão, além de multa. Atualmente, 21 destes aceitaram a transação penal e seus processos foram suspensos com a condição de que cumpram uma série de exigências (não comparecimento a jogos de futebol, comunicar mudança de endereço) por dois anos. Cumpridas as obrigações, estarão livres da Justiça. Os três que não optaram pelo acordo ainda têm processo em andamento.
Lentidão na Justiça: Sete torcedores ainda são processados por tentativa de homicídio. Mas, destes, apenas Leone Mendes da Silva está perto de ser julgado. Os outros seis casos ainda se encontram na fase de coleta de depoimentos e apresentação das defesas. Em muitos casos, os réus sequer apresentaram suas defesas, o que causa toda a lentidão. Todos ainda cumprem medidas cautelares (exigência de se apresentar à delegacia de duas horas antes até duas horas depois da partida de seus times quando estes jogam em seus estados de origem).