Das 155 mortes causadas por violência ligada ao futebol, reveladas pelo LANCENET! na série Especial, 27 acabaram em prisão. Mas, se a legislação brasileira fosse menos branda, os 108 casos sem solução e as 18 mortes que tiveram seus agressores identificados, mas que não acabaram na cadeia, não seriam vistos pela sociedade como tão grave assim.
Apesar de o número de pessoas que está presa não ser tão pequeno, a sensação de impunidade é bastante explicável, já que se trata de um universo inexpressivo diante da quantidade de casos impunes. Uma legislação menos branda, talvez específica para casos ligados ao futebol, minimizaria esse problema. Não acabaria com a impunidade, é verdade, mas diminuiria o problema.
São vários os motivos para que assassinos identificados pela polícia não estejam presos: alguns estão foragidos, outros foram condenadas apenas a prestar serviços comunitários, alguns respondem processo em liberdade e há ainda aqueles que não tiveram julgamento de seus casos boa parte aproveita-se da tradicional lentidão da Justiça para se safar.
Em maio de 2007, por exemplo, o atleticano Ronaldo Pedro Ferreira foi agredido por cruzeirenses e morreu três dias depois. Após dois anos, o réu Marcelo de Souza foi condenado a dois anos de detenção, por homicídio culposo, pena convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de seis salários mínimos para os parentes da vítima.
Há casos em que a investigação poderia ser mais profunda e detalhadas. Um dos vascaínos presos na morte do corintiano Clayton Ferreira de Souza, em junho de 2009, foi liberado mesmo tendo participado da morte de um flamenguista no Rio. Se o vascaíno seria culpado ou não pelos dois crimes, não dá para garantir. Mas sequer foi investigado pelas polícias das duas cidades (foto da prisão dele em São Paulo abaixo).
1) ASSASSINO IMPUNE
(Infelizmente, a imensa maioria das mortes não teve culpados. O assassinado não foi encontrado)
Casos desse tipo: 108
UM EXEMPLO é a morte de Daniel Alberto Araújo Ballot, 23 anos, torcedor do Flamengo, no dia 13 de maio de 2009. O jovem faleceu após dias internado no Souza Aguiar. Daniel viajou com uma caravana de Campo Grande (MS) para o Rio onde foi assistir à final do Carioca. Sem ingresso, ele e o grupo de amigos ficaram do lado de fora, assistindo pela TV. Após primeiro gol, Daniel se dispersou. Depois do jogo, foi encontrado com traumatismo craniano, consequência de agressões na cabeça. Seu caso nunca foi esclarecido...
2) IDENTIFICADO E SOLTO
(Apesar de identificados, tiveram penas brandas, fugiram ou respondem em liberdade)
Casos desse tipo: 18
UM EXEMPLO é o caso de Emerson Luis Marques Goularte, de 30 anos. No dia 21 de junho de 2007, o colorado foi espancado até a morte por um grupo de gremistas. Seis pessoas foram indiciadas e presas preventivamente seis dias depois, mas acabaram soltas no início de março de 2008. Os acusados foram indiciados por crime hediondo com três agravantes pelo delegado, que foi aceito pelo Ministério Público. Após recurso feito ao Tribunal de Justiça ( TJ ), porém, desembargadores rebaixaram a pena para homicídio simples...
3) IDENTIFICADO E PRESO
(Apesar dos casos em sua maioria não ter punição, houve prisões entre os 155 assassinos)
Casos desse tipo: 27
UM EXEMPLO é o caso de Daniel Soares Cierco, 29 anos, torcedor do Internacional, morto no dia 19 de agosto de 2010. Na comemoração do título da Libertadores, ele foi assassinado com um tiro no pescoço em Porto Alegre. Ele e um grupo estavam em volta de um carro, quando homens se aproximaram e atiraram. Jéferson Augusto Ribeiro, de 21 anos, e Rodrigo da Rosa Paim, de 24 anos, se apresentaram à polícia e assumiram participação na confusão. Ribeiro, que admitiu ter feito disparos contra o colorado, foi preso na mesma hora...
4) SOB INVESTIGAÇÃO
(As recentes mortes de dois palmeirenses não tiveram soluções. A busca continua...)
Casos desse tipo: 2
EXEMPLOS: 25 de março de 2012 - Duas das mais recentes mortes ligadas ao futebol ainda estão sendo investigadas. Há torcedores presos, mas a Polícia Civil ainda não apresentou o responsável (s) por tirar as vidas de Guilherme Vinícius Jovanelli Moreira, o Zulu, de 19 anos, e André Alves Lezo, de 21 anos, ambos membros da facção Mancha Alviverde. Os palmeirenses se encontraram com corintianos, também de facções organizadas do clube, numa avenida da Zona Norte de São Paulo. A briga generalizada acabou mal...