Até meados do ano passado, Celso Martins tinha em seu time um menino alto, esguio e habilidoso chamado Talles Magno. O garoto era um dos destaques do sub-17 do Vasco, mas, apesar de toda a expectativa criada em relação a ele, poucos imaginavam que ele seria titular absoluto do profissional cruz-maltino em um ano.
Celso perdeu Talles, mas seguiu o trabalho. No constante processo de remontagem de um grupo na base, ele manteve a característica do time e chegou à semifinal da Copa do Brasil.
Nesta quarta-feira, o Vasco enfrenta o São Paulo em São Januário, às 16h (de Brasília), precisando superar a derrota de 3 a 1 na ida. A torcida poderá comparecer, com entrada franca. O SporTV transmite ao vivo.
Para Celso, a facilidade com que Talles se encaixou no profissional vem de um longo trabalho feito no Vasco.
- Acredito que todos enxergam com naturalidade o processo. O futebol brasileiro não parou e nunca vai parar. Hoje, os processos estão muito bem claros na base. As categorias sabem a maneira que o Vasco gosta de se apresentar, o perfil de cada jogador, cada função, e isso de maneira bem natural, num trabalho a longo prazo.
Não tenho a menor dúvida de que vamos continuar revelando jogadores para o profissional, com técnica, comprometimento e muita intensidade e coragem.
Do sub-17 do ano passado, Celso perdeu boa parte de seus destaques. No processo de remontagem, ganhou o reforço de Riquelme, lateral-esquerdo que chegou a ser promovido aos profissionais, mas voltou à categoria para se recondicionar após uma operação na clavícula. Ele se juntou a outras promessas, como o meia Marlon Gomes, o goleiro Cadu e os atacantes Arthur e Juan.
Nesta entrevista, Celso explica o trabalho feito com Talles e outros meninos que passaram por ele, como Nathan e Bruno Gomes, hoje no sub-20. E detalha o processo do Vasco para formar novas promessas. Confira:
GloboEsporte.com: Para este jogo contra o São Paulo, como fazer para conseguir superar essa desvantagem de dois gols?
Celso Martins: Como não poderia ser diferente, a gente está trabalhando para jogar com o máximo de coragem possível. Sendo agressivo, marcando alto, tentando impedir que o São Paulo faça um jogo técnico, que é a escola deles. Vamos tentar que eles tenham pouca posse, que o Vasco seja dominante e que a gente consiga um gol no primeiro tempo para reverter essa vantagem e sonhar com a final.
O sub-17 em 2018 já era um time bastante ofensivo, com bons números. Você perdeu alguns jogadores daquele time. O que mudou para este ano?
- Buscamos isso (time ofensivo) o ano todo. Isso parte da metodologia do Vasco. Hoje as divisões de base tentam jogar sempre com a bola, no campo do adversário, sempre assumindo os riscos da partida. Isso é uma linha de trabalho nossa.
Isso fica mais fácil na medida que o sub-20 faz dessa forma, o sub-17, o sub-16, e as outras categorias lá de baixo. As questões táticas ficam mais fáceis para os garotos. Minha característica também é essa, de tentar times que propõem o jogo.
Como foi a remontagem deste grupo?
- O time do ano passado tinha bons valores. O Talles tem idade para jogar aqui e já está no profissional. Temos o Riquelme, Arthur, Juan, que são muito talentosos, e acho que esse trabalho de formação não vai parar. Pelo desenvolvimento desde o futsal, ano a ano vamos estar revelando.
No futebol muitas vezes só aparecem os resultados com extremos talentos técnicos. Essa geração foi de trabalho no clube, de todos os setores. Trabalho para captar os jogadores, desenvolvê-los. Talvez fosse uma geração com poucos resultados significativos, e esses meninos poderem disputar uma semifinal de Copa do Brasil é muito bacana para a formação deles.
Ao longo do ano, a equipe sofreu mudanças constantes. No início, no Brasileiro da categoria, tivemos que ser um pouco conservadores, com linhas mais defensivas, e ao longo do ano, com a possibilidade de jogadores (nascidos em) 2003 crescendo, conseguimos tornar o time com mais cara de Vasco da Gama.
Você ganhou o reforço do Riquelme, que voltou de lesão e desceu para o sub-17, o que causou até um certo incômodo. Como fez para lidar com isso?
- Não é um trabalho só meu, mas de todos. Sabemos que ele é uma joia do clube, mas acredito que, como todo jogador de 17 anos, é importante ele ter consciência do momento que está, aproveitar cada detalhe, cada categoria e chegar muito forte no profissional.
O Riquelme teve uma ascensão muito boa, mas sofreu uma lesão muito séria. Hoje está sendo determinante para ele esse período no sub-17 com a gente. Isso vai fazer com que ele se recondicione, jogue no seu mais alto nível para poder voltar a colher frutos no sub-20, na seleção brasileira e no profissional.
Hoje nas categorias do Vasco isso acontece de maneira muito natural. Um atleta que não vem jogando sempre desce para jogar. É uma constante no clube o jogador estar sempre em atividade. Jogadores de qualidade da base do Vasco tem que estar sempre jogando, sempre vivenciando jogos de alto nível.
O Talles teve uma ascensão meteórica e já é titular do profissional. Neste atual grupo, você consegue enxergar alguém capaz de ter essa maturidade e seguir os passos dele?
É muito difícil nessa idade. Os jogadores ainda oscilam muito, e acho que essa maturidade vem com um bom ano no juvenil, depois a Copa São Paulo. O Rodrigo (capitão do time), o Arthur, Marlon Gomes, Caio Eduardo, Juan... Os talentos são inúmeros.
Como foi o trabalho com o Talles? O que você mais trabalhou para ele desenvolver?
O Talles é um daqueles garotos que papai do céu deu talento enorme para ele, tanto do ponto de vista físico e genético quanto na capacidade de improviso, a qualidade técnica. Isso já era observado na categoria. Acho que o grande desenvolvimento nos treinos era sempre estimulá-lo na questão dos números, da performance, sempre buscar gols, treinar fundamentos técnicos.
Jogador é desenvolvido até o profissional. As coisas correram muito bem para o Talles, fez um bom ano no juvenil. O professor Vanderlei está sendo muito feliz no aproveitamento. É parte de um todo. O Vasco, como clube, fica muito feliz e satisfeito que isso tenha acontecido com esse menino.
Espero revelar outros garotos como Talles em breve. É um garoto fantástico no convívio, de boa índole, com coragem, criatividade e técnica que todos estão vendo aí. Foi um prazer ter trabalhado com o Talles.
Você também teve participação importante com outros nomes da categoria. O Nathan, por exemplo, esteve a ponto de ser dispensado, mas mudou de posição e se encontrou.
Nessa experimentação, eu enxergo como laboratório. Na divisão de base a gente experimenta para atingir o máximo potencial do atleta. Tem a ver com as capacidades físicas, entendimento de jogo, de cada função, capacidade técnica. A gente sempre tenta enxergar isso na base e olhar para frente e ver o que pode render no futuro.
O Nathan era meia e volante, muito pouco utilizado, e numa carência nossa na lateral ele foi experimentado, tinha bom nível de força, muita qualidade técnica para prender a bola na lateral do campo, drible, tinha dificuldade para jogar de costas no meio-campo. Jogar de frente na lateral favoreceu o futebol do Natan. A gente espera que logo ele possa dar voos maiores.
O Bruno Gomes também passou por certa mudança de posição?
Com relação ao Bruno, foi uma mudança simples. Ele sempre foi um jogador de meio-campo, mas por muitas vezes jogava um pouco mais avançado, próximo dos atacantes. Em determinado momento da categoria, ele não vinha sendo titular, mas teve uma exibição maravilhosa num Vasco x Flamengo, ajudando a equipe na saída de bola com muita calma.
Ele é um jogador muito técnico, cerebral, calmo. Erra pouquíssimo. Tornou-se um pilar da equipe ano passado. As bolas de construção sempre passavam no pé dele, e a gente vê as coisas acontecendo e fica feliz. Titularidade no sub-20, seleção brasileira... Acho que o Bruno achou a posição dele enxergando o jogo de frente, com muita leitura dos espaços do campo. Ele não precisa correr e se matar de marcar, está sempre bem posicionado, isso favorece que a bola esteja sempre no pé dele.