Alberoni, Morais, Júnior, Alex Teixeira e Philippe Coutinho. Durante a última década, esses cinco jogadores foram considerados as maiores promessas das categorias de base do Vasco, e também foram aguardados com muito expectativa no profissional. Ou não, como no caso de Alberoni - negociado com a Inter de Milão, por módicos US$ 350 mil dólares, em 2003, antes mesmo de estrear no time principal.
Morais, entre idas e vindas, formou uma relação de amor e ódio com a torcida. Júnior, por sua vez, não conseguiu render o esperado e terminou sua melancólia passagem pelo profissional sendo pego urinando, de madrugada, no estacionamento do Norte Shopping, no Rio. Alex Teixeira e Philippe Coutinho, negociados com o futebol europeu, ainda buscam seus lugares ao sol, e, atualmente, lutam para ter qualquer destaque na mídia dos países que atuam.
A bola da vez, a mais nova esperança do clube é Guilherme Costa, jovem de apenas 16 anos, destaque do time juvenil do Vasco da Gama e camisa 10 da Seleção Brasileira sub-17. Quando Guilherme estava prestes a completar 16 anos, momento em que assinaria seu primeiro contrato como profissional, o jogador, assim como ocorre com toda jovem promessa no período da contestada Lei Pelé, recebeu propostas do Chelsea-ING e do Porto-POR.
O Vasco, acuado e com dificuldades financeiras, se viu obrigado a ceder uma porcentagem dos direitos econômicos da jovem promessa para o empresário Carlos Leite, que investiu uma certa quantia para ele continuar no Brasil, em São Januário. \"Foi um desafio, porque você não sabe se comemora ou se fica entristecido. Esse primeiro vínculo é um divisor de águas e você perde muitas vezes parte dos direitos econômicos. Se quiser ter tudo, perde o jogador\", revelou o diretor-executivo Rodrigo Caetano, em entrevista ao Portal Terra.
A missão de Guilherme Costa agora envolve tanto a continuidade do excelente trabalho, quanto observar os exemplos dos que já estiveram anteriormente em seu posto, a fim de não provar dos mesmos equívocos. Não deve permitir que as facilidades da iminente fama o atrapalhe na vida fora dos gramados e repetir os erros de Júnior. Também não pode ter os erros de relacionamento de Morais, acusado até hoje de \"mercenário\" pelos torcedores. Ou ainda não ter a ilusão de querer jogar logo na Europa e, ao mesmo tempo, queimar a carreira, como Alberoni.
No Future Champions, torneio mundial sub-16 com a chancela da FIFA, disputado em Belo Horizonte e transmitido ao vivo pelo canal por assinatura SporTV, pudemos ter uma pequena amostra de toda a genialidade do meia vascaíno. Ele não disputou a primeira rodada - contra o Paris Saint Germain-FRA - por estar defendendo a seleção brasileira, e tão logo terminou a participação com a camisa canarinho, viajou à capital mineira para disputar a competição. Uma verdadeira maratona, que Guilherme conta aos risos, com a inocência de um adolescente, sem mensurar a magnitude que sua carreira pode atingir.
Na última semana, tive uma boa conversa com o atleta, que me contou alguns detalhes da sua estadia no Vasco, além das expectativas futuras. Entre os diversos assuntos, ele me revelou como lida com a pressão de todos para que seja um craque do futebol. Mesmo tão jovem, Guilherme demonstrou seriedade de gente grande e foi muito gentil e atencioso nas respostas. E, sobretudo, pude notar facilmente o porquê dele fazer tanto sucesso com o público feminino.
SempreVasco - Aos dez anos de idade, você resolveu fazer um teste no Flamengo; foi aprovado, mas não quis jogar na Gávea. Aos 12 anos, você fez um teste no Vasco, e segundo o coordenador Fábio Fernandes, você precisou de apenas um treino para integrar o time. A paixão pelo Vasco o fez desistir de defender as cores rubro-negras?
Guilherme Costa - Na verdade, não foi só por isso, mas, sim, pelo fato de eu ser muito novo e não estava pronto pra entrar em um clube, com responsabilidades e etc. Mas, com certeza, quando fui fazer o teste no Vasco, a paixão ajudou para que eu quisesse continuar.
SempreVasco - Em 2008, o Marcus Alexandre Cravo, ex-técnico do infantil, te promoveu ao time titular logo no primeiro ano na categoria. Você começou no ataque, que não é sua real posição e jogando contra garotos mais velhos. Mesmo assim não se intimidou e terminou a temporada como artilheiro da equipe com 22 gols. Já em 2009, você passou a atuar como meia esquerda. Comente sobre essa mudança, sobre suas facilidades e dificuldades, de acordo com suas características, para atuar tanto no meio, quanto no ataque.
Guilherme Costa - Acho que, hoje em dia, o jogador que atua em mais de uma posição é privilegiado, e como o time em 2008 era muito forte no meio-campo, a brexa que tinha pra mim era no ataque. Então, o Marcos Alexandre ajudou para que eu me adaptasse no ataque e consegui fazer um bom campeonato. Adaptei-me fácil ao ataque pelo meu estilo de jogo, que é sempre chegando na área pra fazer gols.
SempreVasco - O diretor-executivo de futebol Rodrigo Caetano, em entrevista recente, cogitou a possibilidade de integrá-lo ao elenco profissional para ganhar experiência. Como você recebeu essa notícia?
Guilherme Costa - Eu fiquei bastante feliz em saber da notícia, mas tenho que manter os pés no chão porque o profissional dizem que é muito diferente da base. Se for pra acontecer, tenho que ir me adaptdando aos treinos primeiro, pra depois pensar em coisas maiores.
SempreVasco - Você hoje é a maior promessa das categorias de base do Vasco da Gama. Como você lida com essa pressão?
Guilherme Costa - Eu procuro esquecer um pouco isso e continuar meu trabalho como sempre fiz. A pressão é normal. É legal ser visto como uma boa promessa, mas não acho legal eu criar muitas espectativas na minha cabeça.
SempreVasco - Qual foi a sua partida inesquecível pelo Vasco?
Guilherme Costa - Foi uma bem recente mesmo, contra o Everton, da Inglaterra. Foi o melhor jogo que eu vi do nosso grupo desde quando cheguei no Vasco. Ganhamos de 3x1. Fizemos uma partida perfeita.
SempreVasco - E suas maiores lembranças contra o Flamengo?
Guilherme Costa - Na minha categoria (1994), eu só tenho ótimas lembranças. Ganhamos a grande maioria dos jogos que disputamos contra eles, em partidas sempre com muitos gols.
SempreVasco - O que o Vasco representa para a sua carreira?
Guilherme Costa - Acho que representa tudo, porque se não fosse o Vasco, eu não teria tudo o que eu tenho hoje, por exemplo a seleção brasileira. Através dos meus companheiros e do Vasco, que pude chegar e me manter lá.
SempreVasco - Sua rotina mudou desde que o assédio da imprensa aumentou? Como tem sido no colégio e na vizinhança?
Guilherme Costa - Não mudou muito, até porque não sou muito conhecido, mas sempre tem aqueles torcedores que são fanáticos e me reconhecem na rua e tudo. O colégio é o do Vasco mesmo, então todos se conhecem há algum tempo. Então, não tive muitas mudanças, por enquanto.