Ricardo Gomes já respira sem o auxílio de aparelhos e a fisioterapia passou a ter muita importância na recuperação do treinador após o AVC (Acidente Vascular Cerebral) sofrido no último dia 28 de agosto durante o clássico entre Vasco e Flamengo, no Engenhão. Os trabalhos podem evitar as temidas sequelas permanentes. Em um primeiro momento, eram realizadas de três a quatro sessões por dia. Agora, estão restritas a dois períodos mais intensos. A previsão otimista dos médicos é que o comandante cruz-maltino deixe o CTI (Centro de Tratamento Intensivo) na segunda-feira. E que em 20 dias tenha alta do Hospital Pasteur para seguir o tratamento em casa.
Coordenadora do setor de fisioterapia do hospital, Natália Morgado Runco, comanda uma equipe de 31 pessoas. Quatro trabalham intensamente com o treinador. Assim como o restante dos médicos que acompanham o caso, o otimismo também encontra eco nas palavras da fisioterapeuta.
Filha do chefe do departamento médico do Flamengo e da Seleção brasileira, José Luiz Runco, Natália explicou os procedimentos e a evolução de Ricardo Gomes. Segundo a fisioterapeuta, os exercícios são divididos em três partes: assistida, livre e resistida. A primeira é quando o paciente precisa do auxílio total da equipe para realizar qualquer movimento. Estas sessões se iniciaram logo no dia seguinte à cirurgia emergencial pela qual o comandante vascaíno passou. Atualmente, é neste estágio que se encontra o lado direito de Ricardo, mais afetado no AVC.
- Esta fase é muito importante para evitar quadros de atrofia muscular, inchaços, edemas e deformidades que podem se tornar permanentes como, por exemplo, uma mão fechada ou um pé caído. Então nós realizamos para ele estes movimentos além de trabalhar as articulações. Isto já começa com ele ainda sedado e no lado direito, o mais afetado, ainda realizamos os exercícios. Principalmente nas pernas, que ainda não estão com tanta força - explicou.
A segunda fase - demonimada livre - é quando o paciente já consegue realizar alguns movimentos sem o auxílio. E a última, e mais importante, se dá quando os fisioterapeutas impõem algum tipo de resistência no movimento para que a circulação e o estímulo se tornem ainda maiores. O lado esquerdo de Ricardo Gomes já está neste estágio, o que é considerado um grande avanço na recuperação. Prova disso é que ele já consegue sair da cama para realizar os exercícios. Tudo isso, é claro, com auxílio total da equipe.
- Tanto nos membros inferiores como superiores, o Ricardo já consegue enfrentar a força que a gente faz. Como chegamos a este estágio, realizamos agora duas sessões nas quais forçamos cada vez mais. Só o fato de ele conseguir sair da cama é um grande avanço. E nós precisamos de muita gente pois se trata de um paciente alto e pesado. A ideia é intensificar cada vez mais. A gente brinca dizendo que se o paciente gosta do fisioterapeuta é sinal de que o trabalho está sendo mal feito, já que forçamos muito - brincou.
Já são 12 dias de internação e cada passo é considerado uma vitória pela equipe. O fato de Ricardo Gomes já conseguir sentar, algo que aconteceu pela primeira vez na última quinta-feira, é considerado animador pelos médicos. A fisioterapeuta não deu uma previsão exata, mas mostrou confiança em alcançar em breve o próximo passo: colocar o treinador em pé.
- Nós vamos saber a hora certa, mas depende muito de como será a evolução dele. A força nos membros vai voltando de forma gradativa assim como ele vai readquirindo a confiança. Colocá-lo em pé será uma vitória em todos os sentidos e é um passo importante, já que a circulação de sangue nos membros inferiores fica completa - explicou.
Reaprendizado dos movimentos básicos
Os médicos ainda não sabem se Ricardo Gomes vai ter sequelas permanentes. O treinador tem dificuldade na fala e nos movimentos com os membros do lado direito do corpo por causa da região do cérebro que aconteceu o AVC. Natália se diz otimista, mas mantém a prudência comum em casos graves como o do treinador. Apesar de já ter a ideia de colocá-lo em pé, isso não significa que ele vai deixar o hospital andando. No estágio em que se encontra, Ricardo Gomes passa por um processo de reaprendizado de tudo que ele sempre fez.
- Não dizem que você não esquece de como se anda de bicicleta? Se você ficar anos sem andar, vai relembrar quando der a primeira pedalada. É mais ou menos isso. A lesão que ele teve atingiu uma parte do cérebro e ele está reaprendendo com o nosso auxílio. É algo que demanda certo tempo. Para quem não conhece, parece uma eternidade. Mas temos de ressaltar que o AVC hemorrágico tem um índice de fatalidade enorme. Ter saído deste quadro já é uma vitória. Não temos como dar um prazo, mas se não tivéssemos esperança nem iríamos iniciar o tratamento - afirmou Natália, lembrando que o fato de Ricardo Gomes ter sido atleta ajuda, mas não é determinante nestes casos.
- Trata-se de uma lesão neurológica e não ortopédica. Ajuda sim porque ele é forte, mas não é fundamental - disse.