Um ano e cinco meses após a saída do Vasco para o New York City, Talles Magno vive boa fase. Aos 20 anos, o atacante tem dez gols e sete assistências na atual temporada, inclusive deu bonita assistência na vitória sobre o Atlanta, no último domingo (veja mais abaixo).
Após ter recebido críticas pela escolha de se transferir para o futebol dos Estados Unidos, o jogador, entrevistado no podcast Gringolândia (ouça a íntegra abaixo), diz estar "muito mais preparado e mais completo" e focado no sonho de atuar no futebol Europeu. Talles joga em uma equipe do Grupo City, que administra, entre outros clubes, o Manchester City.
- Acho que fiz a escolha certa. Muitos podem dizer que não, que foi burrice. Mas acho que hoje em dia estou muito mais preparado para realizar sonhos, para jogar em Seleção, para ir para a Europa, do que quando eu estava no Brasil. Estou ficando cada vez mais completo. E já já, se Deus quiser, vou estar na Europa dando o meu melhor. E mostrando que eu fiz escolhas certas na minha vida, que tenho valor e qualidade para jogar na Europa e ser um jogador valorizado - disse Talles.
Apesar do bom momento, Talles lembra as dificuldades ao chegar aos Estados Unidos por conta da adaptação ao jogo, ao clima, à língua e também por algumas lesões. Hoje, já acumula três troféus no New York City, entre eles o de campeão da Major League Soccer (MLS). O jogador explica que fez um investimento que foi vital para a evolução física e mental.
- Ano passado eu joguei pouco, era momento de adaptação. O que me fez mudar a chavinha, jogar quase todos os jogos como titular e ser valorizado esse ano, foi eu investir em mim. Eu trouxe meu personal e fisioterapeuta para morar comigo, o Felipe. E isso me fez crescer muito fisicamente, na velocidade, mentalmente. Estou mais forte, mais veloz. Hoje estou bem, valorizado dentro da liga. Disputando como melhor jovem do campeonato, já ganhei como melhor jovem da Concacaf - conta o atacante ex-Vasco.
"Nunca tive tanto título assim. Nesse momento estou vivendo isso, feliz demais"
Torcida pelo Vasco
- Eu acompanho o Vasco. Muitas vezes não dá para ver o jogo porque bate o horário com meu jogo. Mas dia de semana eu sempre vejo. Diversas vezes eu posto no Twitter: “Hoje é dia de o Vasco amassar”. Eu torço muito e espero que esse ano o nosso Vascão suba e possa brigar na Série A que é o lugar dele. Fico torcendo, fico aflito, mas estou aqui torcendo. Estou confiante. Esse jogo foi um jogo de virada de chave. O 3 a 2 contra o Operário. Agora espero que seja só vitória.
Mais trechos da entrevista:
Como tem sido a vida? Já se considera adaptado?
- Hoje sim. Hoje eu já me sinto adaptado. Se você fosse perguntar para mim no ano passado eu falaria que não. Mas hoje já me sinto adaptado com certeza, passei por todos os períodos difíceis de adaptação. Mas foi difícil, foi doloroso. Começo aqui foi bastante complicado. Tive dificuldades de me adaptar ao jogo, velocidade do jogo, ao clima, a língua e também algumas lesões. Mas já me recuperei 100% de tudo que aconteceu e hoje em dia me sinto adaptado com certeza.
Idioma
- Algumas coisas entendo bem, dentro de campo já entendo tudo. Fora de campo algumas coisas, mas tem uns assuntos que são complicados. Inglês é difícil, mas estou estudando e trabalhando para que eu possa cada vez mais falar melhor e entender melhor também.
Caminho Vasco-MLS. Como tomou a decisão?
- Foi uma decisão difícil. Era um período difícil no Rio de Janeiro, no Vasco. Então tomei essa decisão assim que eu me machuquei. Meu empresário, família, tal. Como todo mundo fica, eu também fiquei meio preocupado por fazer essa ponte diferente. Mas conversando com pessoas que entendem eu percebi que seria melhor para me adaptar. Seria mais tranquila a adaptação. Posso me preparar melhor, ser um jogador mais completo. E acho que fiz a escolha certa. Muitos podem dizer que não, que foi burrice. Mas acho que hoje em dia estou muito mais preparado para realizar sonhos, para jogar em Seleção, para ir para a Europa, do que quando eu estava no Brasil.
Críticas por ir para os Estados Unidos
- Chegaram muitas (críticas). Até mesmo pessoas próximas falando que fiz a escolha errada, que fui burro. Outros diziam que aqui eu vou sumir, ficar desvalorizado. Mas absorvi de uma forma que eu possa melhorar o mais rápido possível e, sei lá, me superar e superar as expectativas deles também. Pessoas que dizem que eu vou sumir e não ser valorizado. Eu quero melhorar o máximo possível para que seja o contrário disso. Aqui estou aprendendo inglês, sabendo lidar com coisas difíceis e aqui também ganhei meu primeiro título como profissional. Fui destaque de alguns campeonatos. Para todas essas pessoas que falaram que foi uma escolha ruim, estou me preparando mais, me fortificando cada vez mais. Para quando for dar um salto a mais, estar muito melhor, muito mais adaptado e sabendo lidar com todas as dificuldades.
Diferenças do futebol, intensidade...
- O futebol brasileiro é muito talento, né. Todos nós sabemos que são muitos jogadores craques, muitos destaques. Então ali você olha e vê talentos. Aqui você vê muita força física, muita obediência na performance do time, no que o treinador diz. Então aqui o jogo fica mais difícil. Fica mais rápido e tem pouco espaço. Por essa obediência tática fica menos espaço e um jogo mais rápido. E eu chegando do Brasil com jogo com mais espaço, com tempo para pensar. Então cheguei aqui e foi essa dificuldade que eu passei. Não conseguia jogar bem. Eu tentava driblar, e o mesmo jogador que eu driblava já estava atrás de mim, recuperando e roubando a bola. E essa foi a dificuldade. Aqui tinha que pensar muito mais rápido. Não era só habilidade, não era só na inteligência, tinha que ter algo a mais. Eu driblava um, dois, mas não conseguia chegar no gol, chutar. Estava longe do gol. Até mesmo no treino isso, e no jogo nem se fala.
Jogadores conhecidos na MLS
- O Bale eu não enfrentei, mas eu vejo os vídeos e o time dele está bem, vai se classificar para os playoffs. O que me impressionou foi o Douglas Costa, o Chicharito que está fazendo muito gol na liga. O Douglas Costa pela habilidade e velocidade dele. Jogava com ele no videogame, e pessoalmente vi que é aquilo mesmo. É rápido, veloz, habilidoso. E foi um jogo difícil esse. O lateral subia e ficava do lado do Douglas Costa. E eu tinha que voltar para recuperar a bola deles. Era uma “toqueira”, ele muito rápido. Quando eu puxava o contra-ataque eu já estava cansado, morto de tanto marcar. O Douglas Costa é um jogador impressionante.
Amizade com brasileiros do New York
- Cheguei aqui tinha só o Héber. Agora tem mais quatro, Gabriel, Thiago Martins e o Thiago Andrade. O Thiago Andrade chegou uma semana depois de mim, moramos juntos. Tenho amizade acima dos outros. Todos os dias estou perto fora do campo, do treinamento. O Héber quando cheguei resolvia muitas coisas para mim, eu não entendia nada do inglês. Falava “é assim que faz, assim que não faz”. Me ajudou muito nessa adaptação também.
Kleberson, assistente técnico do New York
- Ali é uma joia, né. A gente pode olhar para ele e ver as histórias do que ele já viveu. Colher e aprender com tudo que ele diz. Ele cobra dentro de campo, “tem que melhorar a finalização assim”. Eu, Talles, só escuto. Ali eu só escuto e tento colher o máximo de informações dele. É uma pessoa que pode contar a história dele para gente e nos ajudar a melhorar.
- Ele às vezes senta com a gente, troca ideia. Fala das resenhas dele, diz como era. A gente pergunta: “O Ronaldo era tudo isso mesmo?”. Eu pergunto sempre, e ele diz: “Os caras treinavam e parecia que estavam num parque de diversão. Eram felizes, felicidade dentro do treino. Chegava no jogo e (Ronaldo) decidia em três bolas”. Fala que era surreal. Vai contando as histórias, das vezes que olhava para o lado e via Ronaldo tocando pagode. E ele pensava: “Caramba, estou aqui mesmo”. Tem que ver ele contando as histórias, muito fera.
Gol do título da conferência
- Foi o que me deu um “up” dentro de campo. Ali eles viram que eu posso ser muito mais do que só aquele jogador que ficava entrando nos jogos. Ano passado fiquei muitos jogos sem entrar. Quando entrava, jogava 5 ou 10 minutos. Não condeno o treinador por isso, respeito. Tinham momentos em que eu estava muito bem, mas tinham outros em que não estava muito bem. Estava num momento de adaptação e isso me fez amadurecer muito. Naquele jogo eu entrei faltando 11 minutos e foi o jogo que mudou minha chave dentro do clube. Entrei participando muito do jogo. Estava falando mentalmente: “Vai chegar nos pênaltis e eu vou fazer o gol de pênalti”. Mas no decorrer do jogo eu via: “Não, posso fazer gol no jogo. Estão deixando espaço”. E naquele pouco tempo que joguei, eu fui coroado com o gol da virada, o 2 a 1. Momento muito especial da minha vida. Foi meu primeiro título profissional, primeiro gol em final de campeonato. Foi um momento muito especial e alegre para mim.
Clima com o título da MLS. Cobrou pênalti decisivo
- (Americanos) vibram, com certeza. Cheguei aqui e fiz poucos gols, mas mesmo assim já estavam torcendo por mim, me viam diferente. Brasileiro é aquilo, né. Gosta de driblar, fazer gols e dar assistências. Além disso, dar show dentro de campo. Não só eu, todos os brasileiros aqui são assim. Sim, os brasileiros são diferentes. E naquela conquista fui diferente também, entrei pouco tempo nessa final. Quando entrei eu sabia que, querendo ou não, ou eu iria fazer o gol ou eu bateria o pênalti. Estava concentrado para bater o pênalti. Deu medo, porque acho que foi meu primeiro pênalti em decisão no profissional. Deu medo, mas eu vinha treinando e pude converter aquele pênalti.
Plano de carreira
- Com certeza, tenho meu plano de carreira. Todo dia acordo, olho meu plano de carreira anotado. Em questão de tempo, eu quero o mais rápido possível. Mas para eu chegar nesse resultado eu tenho que ter o melhor de mim. Então primeiro eu tenho que pensar na minha performance, para que depois venha a consequência de ir para e Europa. Acho que estou próximo, pela minha performance, pelo meu trabalho, pelo Talles jogador. Estou ficando cada vez mais completo. E já já, se Deus quiser, vou estar na Europa dando o meu melhor. E mostrando que eu fiz escolhas certas na minha vida, que tenho valor e qualidade para jogar na Europa. Pegar Seleção, ser um jogador valorizado.
Sondagem?
- Teve algumas, mas não sei certinho sobre isso. Meus empresários não falaram nomes, mas disseram que está próximo também, que estou sendo bem visto. E que ganhando essa temporada, jogando muito bem, tem grandes chances.
Sonha com o Manchester City?
- Com certeza, todos nós que temos planos e sonhos a serem conquistados, quando deitamos no travesseiro, pedimos. Estou focado no meu time, querendo crescer, focado, ganhar títulos, mas eu tenho meu sonho de jogar na Europa. Com certeza passa pela minha cabeça sim.
Referências no futebol
- Meu ídolo, eu falo sempre, é o Ronaldo Fenômeno. Já vi muitos, muitos vídeos dele. Mas na atualidade com certeza é o Neymar. Dispensa comentários. Pode ter muitos problemas fora de campo, dentro de campo, mas isso não vem ao caso. A única coisa que não pode falar do Neymar é que ele é um jogador comum. Aquele ali é extraordinário. Na atualidade, brasileiro, Neymar para mim é uma referência. Dentro de campo e mentalmente também. A mentalidade dele é surreal.
Mantém contato com jogadores do Vasco?
- Eu tenho contato com muita gente. Figueiredo, Pec, quase todo mundo ali da minha época. Até mesmo os que saíram, Andrey, Bruno Gomes. Mas o que está no meu dia a dia, até no grupo da família, é o Riquelme. Lateral que está machucado. Ele e o Cayo Tenório eu mantenho contato quase todo dia.
Pretende voltar ao Vasco um dia?
- Pretendo. Quase todo jogador sonha em encerrar a carreira bem, no clube em que foi iniciado. Mas espero que minha carreira seja de muito sucesso e quem dera voltar ao Vasco um dia para ganhar uma Libertadores e coisas grandes pelo Vascão.
Seleção brasileira
- Não teve sondagem de ninguém da Seleção ainda. Mas tenho confiança e estou trabalhando para nas próximas convocações da minha idade eu estar. Por mais que falem que a liga não é muito boa, espero que estejam me acompanhando e vendo minha evolução. Estou trabalhando para isso. Tenho sonho de continuar pegando seleção, pegar olímpica, seleção principal. Estou trabalhando para isso.