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Tito Sena, medalhista paralímpico, é vascaíno e fã de Dinamite

O brasileiro Tito Sena confirmou o favoritismo e ganhou hoje a medalha de ouro na maratona classe T46 dos Jogos Paralímpicos de Londres. O atleta, de 45 anos, fez o percurso de 42km em 2h30m40s. Tito passou boa parte da prova administrando a segunda posição, mantendo uma diferença de dois minutos para o chinês lei Zhang. Após o km 30, Tito encostou diminuindo a diferença para menos de 10s. Com um Sprint sensacional no final da prova, o maratonista conquistou mais um ouro para o Brasil.

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Tito comemora a medalha de ouro na maratona das Paralimpíadas. Foto de Olivia Harris/Reuters

Os 11 atletas da classe T46 correram as margens do Rio Tâmisa, passando também pelos principais pontos turísticos da capital inglesa como Palácio de Buckingham, Big Ben, Torre de Londres e Tower Bridge. A medalha de prata ficou com o espanhol Abderrahman Ait khamouch (2h31m04) e o bronze com o belga Frederic Van der Heede (2h31m38s). O outro brasileiro na prova foi o baiano Ozivam Bonfim, que termino na quarta colocação com sua melhor marca na temporada (2h37m16s).

“Foi uma prova difícil, o espanhol ali e eu segurando, mas nos metros finais, mesmo com a minha perna já pesada, eu pensei esta medalha tem que ser do Brasil, e consegui. Queria dedicar esta vitória aos meus filhos Matheus e Lucas (15 a 13 anos respectivamente) e agradecer aos meus patrocinadores, o Instituto Superar especialmente, pelo apoio de sempre.”, disse Tito Sena, que este ano também conquistou o ouro na Maratona de Paris.

Em 2003, quando trabalhava como operador de uma fábrica, Tito Alves sofreu um acidente que comprimiu seu braço direito. Ele começou a correr no intuito de pegar condicionamento físico, até que um professor de educação física descobriu seu potencial e o convidou para participar de campeonatos.

O maratonista já conquistou uma medalha de ouro no Mundial de Atletismo em 2006, duas medalhas de prata no Parapan do Rio (1.500m e 5.000) e um bronze no Meeting Internacional do Rio, em 2007. Nas Paraolimpíadas de Pequim, Tito ficou com a prata.

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Tito e Ozivan. Foto de Luciana Vermell/CPB/Divulgação

Inseparáveis desde que fizeram aclimatação na Espanha, no início de agosto, os brasileiros Tito e Ozivam têm histórias semelhantes: ambos tiveram de mudar suas vidas após um acidente de trabalho. Tito, ouro na maratona de Paris, em 2012, teve a mão direita esmagada numa encaixotadora, em fábrica de bebidas. Ozivam, prata na mesma prova, teve uma parte do braço esquerdo amputado por uma máquina de sisal.

— Me preparei para ser ouro, apesar da lesão que tive em Pequim e de um período de treinos inconstantes desde então — disse Tito, que foi prata no evento chinês mesmo após ter rompido parcialmente um dos tendões de Aquiles, no km 28. — Corri com muita dor. Pensei na minha esposa que, um mês antes, havia sofrido um aborto natural. E quando fui ver, já estava no Ninho de Pássaro. Não tive dúvida, beijei a aliança e imitei Bebeto, oferecendo a medalha ao meu filho que não nasceu.

Tito é natural de Brasília, mas mora em Goiânia, e queria ser jogador de futebol. É fã de Roberto Dinamite, torcedor do Vasco, e tentou passar em peneira do Guaratinguetá.

— Era ponta esquerda e estudava. Mas fui indo para as festinhas, saidinhas, bebendo um golinho, fumando um cigarrinho. Quando fui ver, abandonei o futebol. Não parava de beber. Eu achava que a bebida ia acabar e queria beber tudo. Só fui voltar ao esporte com 22 anos. E nunca mais coloquei um gole de bebida alcoólica na boca — revelou o atleta, de 45 anos.

Até que um amigo o chamou para treinar futebol de novo. Só que o preparador físico acabou lhe levando para as corridas de rua. E na primeira, com mais de 2 mil participantes, foi o 176º:

— E ganhei uma medalha de participação. Aquilo me emocionou, a medalha me estimulou.

O acidente com o braço foi a sua segunda prova de fogo. Ele tinha 36 anos e teve de galgar tudo de novo. Na época, preparava-se para os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003.

— Foi o momento mais difícil da minha vida. Já competia no atletismo convencional e achei que tudo tinha acabado — lembra ele, que ficou quatro meses em recuperação, passou por seis cirurgias, ganhou 12kg (foi a 76kg, hoje tem 59kg) e entrou em depressão.

Ozivam, de 37 anos, também não teve trajetória fácil. Em Jacobina, na Bahia, ele trabalhava para comer e ajudar a mãe, com 12 filhos:

— Era revoltado pelo fato de não ver alternativa no lugar onde nasci e me criei. Trabalhava para sobreviver. Me sentia como um mendigo. Não tinha onde cair morto. E a coisa piorou quando meu pai foi assassinado. Eu só tinha 19 anos e ainda tinha perdido o braço.

Um dia, em Várzea Nova, um agente da Polícia Militar lhe chamou para participar de uma corrida de rua:

— Ele falou que tinha escutado falar de mim no povoado, mas eu nunca tinha corrido. Um anjo, só pode ser. Cheguei na tal corrida, um monte de gente se aquecendo e eu achei aquilo muito estranho. O cara colocou o rifle para cima e deu a largada. Os caras dispararam. Eu atrás. Pensava que qualquer posição era posição, mas na hora queria ganhar. Logo no início pulei para terceiro. Doía. Mas segurei até o final. Depois dessa história, não larguei mais.

Em 2000, Ozivam ganhou uma maratona em Barueri, em São Paulo, e conseguiu o patrocínio de uma academia:

— Nunca mais voltei para a Bahia. E olha que a maior parte da minha família ainda mora lá e ainda faz o mesmo trabalho, com sisal. Hoje, dou graças a Deus que tudo isso aconteceu comigo porque saí de Jacobina e segui outro caminho. Foi o destino.

Fonte: Globo Online
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