Um mar de camisas vascaínas invadiu a cidade de Norte a Sul, no dia seguinte à conquista do Campeonato Carioca. Há 12 anos, o torcedor cruzmaltino não sentia o gostinho de comemorar um título estadual sobre os maiores rivais. Um desabafo sem fim estampado no sorriso de quem fez questão de sair às ruas com o uniforme do campeão. Para uma geração de torcedores-mirins, o fim do jejum foi um alívio.
Que o diga Lucas Minervino, 12 anos. Ele nasceu no dia 23 de março de 2003, data em que o Vasco ganhara, até então, o seu último Carioca. Ontem, o garotinho era a cara da felicidade. Cansado de ser zoado de ‘vice’ pelos amigos da Escola Municipal Jornalista Assis Chateaubriand, em Vila Isabel, Lucas, finalmente, deu o troco e agora vai cobrar a aposta que ganhou de um amigo rubro-negro.
“Apostei R$ 5 com meu amigo Gabriel que o Vasco ganharia. Mas ele ainda não me pagou. Foi na minha casa para o churrasco e eu esqueci de pegar o dinheiro. Mas de hoje (segunda) não passa”, prometeu.
Os R$ 5 vão chegar em boa hora, após o grande desfalque que Lucas teve na mesada — nervoso, durante o clássico, quebrou pratos e copos, em casa, após o gol de Rafael Silva.
Lucas admite que, quando assistia ao jogo de domingo, estava com medo. Tanto que tentou dormir na hora do clássico, mas a tensão não deixou. Inquieto, levantou da cama justamente na hora do gol.
“Tinha medo de que o Vasco perdesse. Quando o Rafael Silva marcou o gol, fiquei tão feliz que comecei a quebrar os pratos e os copos de alegria”, diz.
Ao ouvir o barulho e chegar à cozinha, cheia de cacos de vidro espalhados pelo chão, o tio de Lucas não perdeu a deixa.
“Ele brincou comigo e perguntou se eu tinha algum parente grego: ‘Está imitando eles, né? Eles comemoram as coisas quebrando pratos’. Mas eu não sei nada dos gregos, tio”, confessou o menino.
Se o tio riu da estripulia, a mãe de Lucas, Maria Lúcia, não viu nenhuma graça na arte.
“Ela não me xingou, nem brigou comigo, mas me olhou sério e disse que ia descontar da minha mesada. Na verdade, já tirou”, entrega. Porém, a julgar pela felicidade de Lucas, os R$ 20 não farão falta. A alegria vale mais.