O sol forte na cabeça, as calçadas lotadas de gente e o trânsito ruim são tradicionais em Madureira. O que é novidade na Rua Conselheiro Galvão é a fila em frente ao clube do bairro, formada por vascaínos atrás de ingressos para assistir à partida de amanhã, pela primeira rodada do Carioca. Há cinco anos o tradicional palco do futebol da cidade não se preparava para sediar um jogo contra um dos quatro grandes.
O reencontro mexe com a autoestima do clube, que pintou atrás de um dos gols "Arena Madureira", nomenclatura que materializa a tentativa de modernização de um estádio raiz por excelência. Foram gastos cerca de R$ 700 mil, segundo as contas da diretoria, para que o estádio pudesse ser receber o Vasco amanhã.
- Para mim, é uma glória termos esse jogo aqui. O Madureira é minha segunda casa - disse Raquel Alves, torcedora-símbolo do Tricolor Suburbano.
As principais intervenções aconteceram para que Conselheiro Galvão se adequasse aos padrões da transmissão de TV. O setor social do estádio foi recuado para as câmeras filmarem a linha lateral. Foram erguidas duas torres laterais para a geração de imagens, cobertura para os cinegrafistas se protegerem do sol e três camarotes. O acesso dos jogadores do time visitante também mudou. Eles não precisarão mais passar no meio da torcida para chegarem aos vestiários.
Para cuidar da operação do jogo, o Madureira não economizou e contratou a mesma empresa que realiza as partidas no Maracanã e em São Januário. Com capacidade para 5 mil pessoas, 3 mil ingressos foram colocados à venda, para que não haja surpresas na segurança. Depois de cinco anos pleiteando o direito de enfrentar um dos quatro grandes em casa, o clube sonha com a perfeição no sábado.
- É muito importante que o jogo corra bem. Sempre tivemos todos os laudos necessários. Quando saiu o aval da TV, foi uma vitória. Que este jogo mostre que podemos mandar outras partidas em casa - afirmou Roberto Varanda, superintendente do Madureira.
ESPERANÇA DE GANHO TÉCNICO
Além da visibilidade, o que interessa ao Madureira ao enfrentar o Vasco em Conselheiro Galvão é o ganho técnico que viria a reboque. O retrospecto do time nas últimas partidas em casa contra os grandes dá esperanças - foram uma vitória, sobre o Fluminense, dois empates, com Botafogo e Flamengo, e uma derrota, para o Vasco, em fevereiro de 2014, o último jogo antes do jejum.
O gramado não está dos melhores - apesar de molhado três vezes por dia, apresenta falhas, de acordo com a diretoria, devido ao forte calor sem as pancadas de chuva tradicionais do verão carioca. O que ameaça atrapalhar os vascaínos pode ser um facilitador para os mandantes.
- Teremos a vantagem de jogar onde treinamos, onde já estamos acostumados a trabalhar, aqui é o nosso reduto. Não é uma grande vantagem, mas dá uma tranquilidade a mais - afirmou o técnico Antônio Carlos Roy.
PREÇO DO INGRESSO GERA RECLAMAÇÃO
As torcidas de Madureira e Vasco estão contentes com o retorno da partida a Conselheiro Galvão. Leonardo Maçal, de 11 anos, acabou de ser aprovado no teste para atuar pelo mirim do Tricolor Suburbano e é torcedor vascaíno. Na hora de dar o palpite no placar, ficou na dúvida, disse 2 a 1 Vasco com receio de ser ouvido, já ciente de que a partir de agora é torcedor também do Madureira. Sábado, irá ao primeiro jogo do cruz-maltino na vida e entrará com os jogadores no gramado.
Marcelo Prata, de 17 anos, é estudante, mora em Coelho Neto e garantiu logo o ingresso para a partida. Sócio do Vasco, assistirá ao segundo jogo do time em Conselheiro Galvão - o primeiro foi em 2013, vitória do Madureira por 1 a 0. Pagou meia entrada, mas fez coro com quem estava na fila e reclamava dos preços - R$ 60 a inteira. Pelo visto, o estádio quer mesmo se transformar em arena.
- Gosto de ver o jogo aqui, é raiz. O Carioca é maneiro, mas o ingresso está caro, preço de Brasileirão - lamentou.