Em condições normais, Fluminense e Vasco, que se enfrentam nesta terça-feira, às 21h35, em Volta Redonda, poderiam contar com o apelo do clássico para atrair seus torcedores para as plataformas de streaming, novidade na edição deste ano do Campeonato Estadual e fonte de receita para os clubes. Os dois, porém, e não só eles, têm sofrido no bolso com a proliferação de transmissões piratas dos jogos.
Nos primeiros 14 jogos da competição, foram derrubadas 1.045 exibições ilegais nos sites do Facebook e do Instagram, e outras 435 no Youtube.
O trabalho é de enxugar gelo, reconhecem os envolvidos, o que inclui a empresa responsável pela geração das imagens e a Federação de Futebol do Estado do Rio. Só no clássico entre Flamengo e Fluminense, 345 links ilegais foram derrubados. É como se quatro novas transmissões piratas caíssem a cada minuto do jogo.
O fenômeno está longe de ser novo, mas tem reflexos diferentes este ano. Em tempos de pandemia, com jogos sem a presença de público, queda de receita nos programas de sócio torcedor, e com o novo modelo de negócio de TV, os grandes do Rio passaram a depender mais do torcedor que não se rende à pirataria. Se antes o clube vendia o direito de transmissão para terceiros e não precisava se preocupar se ele seria revendido ou pirateado, agora o torcedor que recorre à transmissão ilegal representa uma verba que deixa de entrar nos cofres do clube.
Conscientizar a torcida disso é um dos desafios que equipes, detentores dos direitos de transmissão e Ferj enfrentam para tentar amenizar o problema.
— O Carioca é do torcedor. E o torcedor é do clube. A pirataria é crime e o amante do futebol, caso adote essa prática, prejudicará a sua paixão que, assim, deixa de receber receitas maiores de pay-per-view — disse Leonardo Ferraz, diretor de marketing da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro: — Estamos asfixiando a ação dos piratas com tecnologia e já há o movimento para conversão em receita.
O trabalho tem sido feito em parceria com as principais plataformas da internet— Google, Facebook e Instagram. Existe um sistema de de proteção de direitos de transmissão. Antes de a partida começar, é acionada uma chave geradora do sinal e o jogo fica dentro de uma plataforma de proteção. Automaticamente, os algoritmos vasculham as redes atrás de transmissões ilegais. Além disso, há um reforço manual contra algum delay que possa existir, em que as plataformas são alertadas sobre um ponto de transmissão ilegal.
De acordo com a Ferj, o site responsável pela transmissão pirata poderá ser acionado judicialmente. Questionada sobre a quantidade de pacotes de pay-per-view vendidos até agora no Campeonato Estadual, a entidade afirmou que esse número ainda está sendo consolidado.
Para Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte e entretenimento, a pirataria seguirá forte enquanto o novo modelo de negócio não se estabelecer:
— Hoje, o consumidor precisa de diversas plataformas para acompanhar seu time. Todas relativamente caras. Em um contexto como esse, a resposta dele é simples: não pagar nenhuma. O que está acontecendo com o Carioca já acontecia com a Libertadores, com a Sul-Americana no ano passado. O fato de ser uma “TV do clube” não muda drasticamente o engajamento da maioria dos torcedores. Se o ecossistema é ruim, não importa o player. O consumidor vai olhar o bolso dele antes.