Valdiram está sumido do futebol. Não participa de um jogo oficial desde o dia 4 de maio de 2013, quando entrou no segundo tempo da vitória do Bonsucesso por 1 a 0 sobre o Mesquita, pela Série B do Campeonato Carioca. São dois anos, dois meses e 11 dias afastado dos campos. Mas ele não abandonou a carreira. Está se recuperando de lesão nos joelhos - passou por cirurgia em abril. Muito menos deixou o esporte de lado. O atacante garante ter encontrado forças na fé para largar a vida desregrada envolvendo bebidas, drogas e sexo que marcou sua trajetória.
De volta ao Rio de Janeiro, ele entrou para a Assembleia dos Últimos Dias - localizada no Éden, em São João de Meriti -, mora em um alojamento da igreja e, sempre que possível, leva a palavra de Deus a jogadores. Além do seu próprio caso como exemplo. Foi assim, de terno e gravata e com a bíblia na mão, que recentemente apareceu no vestiário do América-RJ e palestrou para os atletas, entre os quais estavam Jean, Wagner Diniz, Fábio Braz e Abedi, quarteto com quem jogou pelo Vasco entre 2006 e 2007.
- Estou fazendo obra missionária. Fui fazer uma palestra numa sexta-feira, um dia antes do jogo. Os jogadores ficaram emocionados, sentiram a presença de Deus. Todos viram a transformação que passei. Lá em São Januário também prego para os meninos da escolinha, para os seguranças do Vasco. Onde eu for tenho que falar. Todos gostam de mim, eu só fiz mal a mim mesmo. Deixei amizades no futebol que continuam.
Valdiram fala em São Januário no presente, não no passado. É porque o atacante está no Vasco, embora não faça parte do elenco. Após se lesionar jogando uma pelada no Nordeste, voltou este ano ao Rio e começou, há cerca de dois meses, sua recuperação na Colina, ondevem utilizando as dependências das categorias de base para fazer fisioterapia e musculação. Mas se depender da vontade do jogador, o vínculo dele com o clube onde atingiu o auge da carreira, ao ser artilheiro da Copa do Brasil de 2006 com sete gols, pode ir além do tratamento.
- Hoje estou retornando por ter operado e me tratando no Vasco. É o clube onde sou ídolo, tenho uma história lá dentro, foram grandes emoções que não consigo esquecer. Estou revendo os amigos: o Eurico, o Zé Luis (vice-presidente de futebol), os fisioterapeutas, seguranças... Alguns jogadores do profissional hoje eram da escolinha na minha época. Meu sonho é ter uma nova oportunidade no Vasco. Por tudo que passei acho que mereço voltar. Se o Eurico quiser uma pessoa que comprou a palavra, de coração grande... Eu fui lá, conversei com ele pessoalmente, e ele abriu as portas para mim. Se mais tarde me der uma oportunidade, vou ficar muito feliz. Estou orando, Deus vai tocar o coração dele - contou o jogador, que se diz confiante na reação do Cruz-Maltino no Campeonato Brasileiro e refuta o rebaixamento.
- Não posso comparar o time com o da minha época, mas são situações que fazem parte do futebol. O Vasco é time grande, de massa, tradição, que tem capacidade de mudar a história.