A cruz do bacalhau
Publicada no Caderno B, do Jornal do Brasil, em 26/05/2006
Ninguém me contou, eu vi no programa de José Carlos Araújo, o verdadeiro Garotinho, Eu-Rico, o Piranda, fanfarrão como sempre, garantindo que no Vasco \"existe uma coisa chamada pla-ne-ja-men-to\", escandindo as sílabas. O cartola estava barbeado e mais magro, provavelmente se preparando para as próximas eleições duplas: a presidência do clube que transformou em capitania hereditária e ainda correr atrás da imunidade parlamentar como deputado federal. Afirmou que sua meta era chegar à Taça Libertadores via Copa do Brasil, como se os adversários não existissem. O Brasileirão não interessava. Bastou o time titular entrar em campo pra apanhar, no Complexo de Januário (não tem santo lá), de quatro.
Vou confessar uma coisa: jamais movi uma palha pra que meus netos fossem Vasco - por dever de avô: poupar sofrimento às crianças. Por ironia, três deles são vascaínos de coração.
Nós, vascaínos, conhecemos de sobra o tal pla-ne-ja-men-to; com ele o Maquiavel ao Zé do Pipo perdeu três títulos cariocas seguidos, com a vantagem do empate, jogando um tricampeonato no colo do rival rubro-negro; perdeu dois títulos mundiais que calariam a boca-murcha dos flamadrilenhos, com formações mal-ajambradas, reforços envelhecidos, tudo feito nas coxas; pagou o maior mico no tal projeto deliróide olímpico, onde todas as modalidades esportivas ligadas ao Vasco perderam. Até o cavalo Babaluaiê Obafond de Oxolufá abestalhou-se diante do obstáculo. Primeira e única vez em seu rocinante currículo. A torcida também amargou goleadas sucessivas em casa para argentinos, curibocas da terceira divisão, etc.
Vascaínos, temos a obrigação de derrubar Saddham Sardinha Piranda nos dois pleitos, para salvar o Vasco e para negar a impunidade parlamentável pretendida pelo Clausewitz a Gomes Sá.
Só pra refrescar a memória, já que estamos em época de Copa. No primeiro título mundial, em 1958, o Vasco tinha três titulares na Seleção Brasileira: o capitão Bellini, Orlando e Vavá, o Leão da Copa. Um reparo: a Copa consagrou o menino Pelé, mas foi Vavá quem, por três vezes, abriu o caminho da vitória, fazendo seis gols após as jogadas diabólicas de Garrincha.
E hoje?
Além de brilhante compositor, poeta e escritor, Aldir Blanc é, antes de tudo, vascaíno. Teve o privilégio de prefaciar o livro oficial do centenário do Vasco, editado pelo clube em 1998. Em breve, lançará o volume dedicado ao Vasco na coleção\"Camisa 13\", da Ediouro, que conta a história dos grandes clubes brasileiros.