O técnico Alberto Valentim completa no próximo dia 28, dois meses de Vasco. Nesse período faltou paz e sobrou caos. Pressão de torcedores, lesões de jogadores e um ambiente político bastante conturbado, acompanham o treinador desde o início da sua trajetória no clube. Em entrevista exclusiva ao Esporte 24 Horas, Alberto Valentim fez um balanço sobre o trabalho até o momento comandando o time vascaíno.
“Os números ainda não me agradam. Tivemos um começo muito ruim de derrotas, foram quatro seguidas. Foi também bastante corrido, pelo fato de eu ter chegado de viagem um dia antes de dar treino, dois dias antes do primeiro jogo e com jogos muito perto. Até eu conhecer os jogadores, aplicar minha metodologia, demorou um pouco. Hoje os jogadores já entenderam minha forma de treinar, meus conceitos. Pelo meu balanço estamos em recuperação, em uma crescente considerável”.
Para mudar esse panorama, Alberto Valentim afirmou que vive o Vasco intensamente, focando sempre na melhora da equipe.
“O momento que eu vivo sempre é o maior e o mais importante. Isso tem sido durante toda a minha curta carreira como treinador. Eu vim pra cá com uma grande vontade de trabalhar. Eu vivo isso aqui intensamente. Aceitei o convite do Alexandre por ser um grande clube. Eu sabia que seria um desafio e um momento muito importante na minha carreira. Então estou focado para que a equipe cresça cada dia”.
O desafio em questão citado pelo Alberto Valentim é livrar o Vasco do quarto rebaixamento em 10 anos. Quanto a isso, o treinador foi taxativo.
“O Vasco não vai cair. Estamos trabalhando pra fazer um trabalho tranquilo”.
Valentim elogia os esforços da diretoria
Apesar de todos os problemas enfrentados no dia a dia, Alberto Valentim está satisfeito com o trabalho desenvolvido pela diretoria. O treinador reconheceu o esforço do presidente Alexandre Campello, que tenta dar a melhor condição possível de trabalho.
“Aqui no Vasco, o Alexandre Campello tem nos dado uma condição boa de trabalho. Está sendo montado um centro de treinamento com qualidade. No próximo ano as coisas vão melhorar ainda mais porque estamos estruturando o CT com um melhor campo, uma boa academia, refeitório. Isso demanda um pouco de tempo, mas estamos nesse caminho. Por esse motivo é que eu falo para as pessoas ajudarem nosso presidente, porque ele está com essas ideias de deixar o Vasco mais forte criando uma boa estrutura”.
Alberto Valentim aproveitou a oportunidade para se explicar novamente em relação às críticas que fez contra a oposição.
“A única coisa que eu falo e depois até reiterei, é que eu não quero que isso seja usado como álibi. Temos que estar todos juntos seja oposição, a torcida, ou nós que estamos aqui no centro de treinamento. Lógico que coisas que conturbam que fazem atrapalhar não ajudam”.
Yago Pikachu
Como um bom lateral que foi, Alberto Valentim possui bagagem para falar sobre Yago Pikachu, artilheiro e grande destaque da temporada vascaína. Dessa forma, Valentim fez questão de reiterar que a melhora do jogador se deu por conta da recuperação física.
“O Yago tem características ofensivas muito claras. Jogador com boa técnica, finalização e visão de penúltima bola, para servir os companheiros. É um jogador que sabe fazer as movimentações, as diagonais no tempo certo. Isso faz com que ele tenha as oportunidades de fazer gol. Vamos aproveitá-lo o melhor possível. Quando cheguei falei que ele estava um pouco desgastado fisicamente. Agora estamos vendo esse lado técnico dele melhor, até porque se recuperou fisicamente”.
Referência no futebol italiano
Como jogador, Alberto Valentim atuou por muitos anos no futebol italiano. Na Udinese disputou 94 jogos e marcou 4 gols, entre as temporadas 1999/00 e 2004/05. Foi negociado para o Siena onde ficou até a temporada 2007/08, disputando 77 partidas, sem marcar gols. Por conta dessa vivência, o treinador Alberto Valentim procura sempre implementar na montagem dos seus times, as características dessas duas escolas.
“Eu aprendi muito jogando lá. Foram oito anos e meio. Eu preciso unir essas duas escolas riquíssimas do futebol mundial. É o Brasil com o talento indiscutível e a qualidade, com a obediência tática dos italianos. Eu não posso deixar de unir essas duas escolas, por ter participado e vivido como jogador e depois indo estudar lá também. Estamos falando de nove títulos mundiais se tratando dessas duas seleções. Eu tenho a obrigação de unir essas duas escolas para o meu crescimento”.
Alberto Valentim afirmou que em comparação com a época de jogador, o futebol brasileiro melhorou muito na questão tática.
“Nós melhoramos bastante isso. Hoje os técnicos brasileiros estão mais voltados aos treinos táticos. Os jogadores também melhoraram bastante. Atualmente eles possuem uma obediência tática maior. Então o Brasil vai dar um salto de qualidade muito grande aprimorando e melhorando isso a cada dia, porque qualidade técnica nós temos de sobra”.
Passagem pelo Flamengo
Pouca gente deve lembrar, mas a história de Alberto Valentim no futebol carioca começou muito antes da sua passagem como técnico do Botafogo. Em fevereiro de 1998, Alberto Valentim, então com 22 anos, foi contratado pelo Flamengo.
Ele chegou para disputar posição com Pimentel, ex-lateral de Vasco, Palmeiras e São Paulo. Entretanto, a passagem pelo rival foi curta. Apenas 11 jogos e um gol marcado, diante do Americano, na vitória rubro-negra por 2 a 1, no Estádio Godofredo Cruz, em Campos, pela Taça Guanabara. O treinador relembrou com carinho o passado pelo Flamengo.
“Tenho uma lembrança bacana, tive oportunidade de jogar com grandes jogadores. Naquela época o campeonato era muito bagunçado, tinha pouca organização. Mas tive oportunidade de trabalhar com o Paulo Autuori e ao lado de jogadores importantíssimos como por exemplo Romário”.
Nova geração de treinadores
Alberto Valentim faz parte de uma nova geração de treinadores que começa a despontar no futebol brasileiro, tirando o espaço de antigos medalhões. Para Valentim, isso é um ciclo natural em toda profissão, no entanto é necessário valorizar os antecessores.
“Todas as profissões têm algumas trocas, sempre tem uma nova geração que vem depois. O importante é entendermos que os técnicos mais experientes têm sua qualidade. Estamos vendo o Vanderlei Luxemburgo que há algum tempo não está trabalhando, mas temos que respeitar, é um técnico de muita qualidade, tem um histórico vencedor. E nós, os treinadores da nova geração, estamos procurando nosso espaço”.
Saída do Pyramids do Egito
Antes de chegar ao Vasco, Alberto Valentim esteve no futebol do Egito, comandando o Pyramids. A passagem durou pouco, apenas cinco jogos, com três vitórias e dois empates. Apesar do bom retrospecto, Valentim foi demitido por não aceitar interferência no seu trabalho. O treinador revelou que nunca passou por isso no futebol.
“Não, foi à primeira vez que presenciei isso. Eu respeito muito os jogadores e se durante a semana eu, por opção técnica e tática, treinar um time, não vou permitir que o dono ou o presidente do clube me faça não escalar essa equipe que eu treinei. Isso é um compromisso que eu tenho comigo primeiramente e depois com os jogadores. É essa a honestidade e transparência que eu tenho com eles”.