Baiano de Quijingue, jovem de 20 anos ficou famoso por golaços, bordões e comemorações enérgicas. Sucesso estrondoso rendeu milhões de seguidores, fãs estrangeiros e até imitações.
Os torcedores do Vasco mais eufóricos com o acordo para a aquisição da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do cruz-maltino pela empresa "777 Partners", proprietária do Genoa, certamente tiraram um tempo para checar os comentários da postagem do clube italiano sobre o acordo em suas redes sociais. Por lá, alguns termos estranhos como "eu seba", "graças a Deus, pai" apareciam vindo de contas estrangeiras. Não se tratavam de traduções mal sucedidas ou algo parecido: são bordões de Iran Ferreira, "o cara da luva de pedreiro", jovem que saiu do universo de memes do cruz-maltino para o sucesso internacional.
O "eu seba" ou "heseba", mal coompreendido pelos estrangeiros, é "receba", gíria baiana que pode ser usada em tom provocativo e presente em quase todos os vídeos do jovem de 20 anos. Iran viralizou mostrando lances de habilidade, explosão e chutes precisos em um campo de terra batida próximo a sua casa, em Quijingue, cidade de 29 mil habitantes, a 322 km de Salvador. Além dos golaços num cenário "raiz", o bom humor, a espontaneidade, os discursos motivacionais e outros bordões como "graças a Deus" e "magnífico" são as cerejas do bolo dos vídeos.
— Meu objetivo era dar uma boa condição para minha família. E como só eu ficava trabalhando na roça para poder sustentar, eu comecei a fazer vídeos pra ver se dava certo — conta Iran ao GLOBO.
A brincadeira acumulou fãs do mundo todo. São 4,8 milhões de seguidores no TikTok — onde tem vídeos com dezenas de milhões de espectadores. No Instagram, são pouco mais de 680 mil seguidores, mas as visualizações ultrapassam com folga a casa do milhão. Iran também aposta em seu canal oficial no Youtube, onde já tem 28 mil inscritos dez dias depois de ter postado o primeiro vídeo. Seus golaços fizeram tanto sucesso entre o público internacional que ele já figurou em páginas como a do jornal espanhol "Marca" e do portal esportivo americano "Bleacher Report". Ganhou até imitações.
— Rapaz, isso aí me faz sentir feliz. Me sinto realizado. Desde pequeno eu sonhava sempre em ser reconhecido um pouco. Ainda mais falar com gente famosa assim. É um sonho que se tornou realidade. É maravilhoso, é magnifico — conta ele.
Além da repercussão em páginas, o jovem acumula interações com jogadores e clubes do Brasil e do mundo em suas redes. Já ganhou comentários e recados em vídeo de clubes como Juventude e Zenit (Rússia), da página da Champions League e de jogadores como Douglas Costa (Los Angeles Galaxy), Lucas Moura (Tottenham), Artur (Bragantino) e Richarlison (Everton). Além, é claro, do elenco do Vasco, seu time do coração: Nenê, Raniel, Riquelme e Gabriel Pec — que teve seu golaço contra o Madureira comparado com as finalizações de Iran — já prestigiaram o "Luva de Pedreiro".
Com o sucesso na internet e agora com o auxílio de uma assessoria (a ASJ Consultoria), Iran já consegue ajudar a família financeiramente. Nas ruas da cidade, vê o reconhecimento.
— Graças a Deus, quando eu saio na rua o pessoal pede pra tirar fotos, gravar vídeos. Isso aí é felicidade demais.
Origem do apelido e sonho de ser jogador
Foi na base da espontaneidade e na inspiração em jogadores profissionais que surgiu o apelido. Em seus vídeos, ele aparece utilizando luvas para simular o apetrecho de atletas em partidas em baixas temperaturas. O aspecto das luvas rendeu zoações nos comentários, mas Iran se apropriou do que antes era uma apelido pejorativo e transformou em sua marca.
— O pessoal estava me criticando pelo negócio da luva. Como eu não tinha condição de comprar uma luva da Nike, fui na construção, onde vende coisas de pedreiro, comprei uma luva e joguei. Aí todo mundo ficou me chamando de luva de pedreiro. Eu disse, quer saber, esses caras só vão me parar de chamar assim quando eu mesmo me botar esse apelido. Aí graças a Deus pegou — conta Iran, que além da inspiração, mantém o sonho de ser jogador profissional.
— Se sair uma oportunidade, quem vai sou eu. No mínimo eu mostro quem eu sou.
Enquanto isso, ele segue fazendo vídeos e conta com a ajuda de seus amigos de pelada, "assistentes" nas produções e nos golaços — que também ganham muitos elogios nas redes pelos lançamentos precisos para Iran. Todos são do povoado Tabua, na zona rural de Quijingue: Maiquinho, Miguinha, Rainan, Gabi, Didinho, Raniel e Gabriel. São eles também que convivem com o cativante estilo enérgico do jovem, que diz não ser diferente dos vídeos.
— Eu sou assim, desse jeito. Do mesmo jeitinho dos vídeos, eu sou assim na realidade. Receba! Graças a Deus, pai. Nós somos magníficos, todos os brasileiros. Eu sou assim mesmo, magnífico. O pessoal aqui dá risada demais.
Por fim, o agora influenciador fala sobre o assunto que está na ponta da língua de todos os vascaínos e que fez com que os estrangeiros lembrassem dele pela blusa da equipe: a possível compra da SAF do clube pelo bilionário grupo norte-americano. Ele, claro, não poderia estar mais contente, e agora vê o gigante da colina ainda mais "magnífico".
— Tô feliz, ajuda muito, né? Esses caras aí vão contratar jogadores. Daquele jeito a gente sobe para a Série A, ganha Libertadores, Mundial e tudo. O Vasco é magnifico, sensacional. Ajuda muito o clube agora, o 777 dos milionários.