Cronista esportiva muito respeitado no meio futebolístico da Paraíba, João de Souza Sobrinho morreu nesse domingo em decorrência de complicações provocadas pela Covid-19. O radialista tinha 73 anos e estava internado em um hospital público de João Pessoa. Ele vinha lutando contra o novo coronavírus nas últimas semanas, mas a doença deixou sequelas irreversíveis em seus pulmões. Ao longo da carreira, João se destacou, chegando a cobrir quatro edições de Copa do Mundo.
João de Souza Sobrinho era paraibano e trabalhou por 20 anos na Rádio Tabajara, do Governo do Estado. Foi no veículo de comunicação que ele mais brilhou na carreira, chegando ao cargo de chefia do Departamento de Esportes. Além disso, representou o estado em quatro coberturas de Copa do Mundo: México (1986), Itália (1990), Estados Unidos (1994) e França (1998), além de em cinco finais de Libertadores. Ele também estava no Maracanã no dia 6 de março de 1980, quando o Botafogo-PB derrotou o Flamengo de Zico pelo placar de 2 a 1, num dos maiores feitos do futebol local.
Na imprensa paraibana, João de Souza também presidiu a Associação dos Cronistas Esportivos da Paraíba (Acep).
Homenagens ao radialista
Editor de esportes da Rede Paraíba de Comunicação, Expedito Madruga homenageou João de Souza em suas redes sociais. Na postagem, o jornalista relembrou que o radialista foi quem lhe deu a primeira oportunidade no jornalismo esportivo.
Outro que já havia homenageado João de Souza foi o poeta e repentista Oliveira Francisco de Melo, mais conhecido como Oliveira de Panelas. Uma de suas poesias celebra a carreira do radialista, demonstrando o tanto de saudade que ele vai deixar na crônica esportiva paraibana.
"João de Souza e seus valores
Mostram um talento profundo
Com quatro Copas do Mundo
E com cinco Libertadores
Entende de jogadores
Da melhor forma que eu vi
Ele está por aqui
Com força e disposição
João de Souza, o campeão
De audiência vem aí!"
(Oliveira de Panelas)
Aos 73 anos, o radialista deixa a esposa e dois filhos. João de Souza convivia com mal de Parkinson e lutou contra a Covid-19 nas últimas semanas. Ele chegou a se curar da doença que abalou o mundo em 2020, mas as complicações ocasionadas por ela resultaram em sequelas pulmonares.
expeditomadruga
Fim da década de 80. Penso, para ser mais exato, que o ano era 1988. Tinha, então, 14 anos, e vivia o dilema do que seria no futuro. Ainda era uma criança, claro, mas o vestibular era implacável. E teria que escolher um curso dali a dois anos.
Como toda criança, o futebol era o meu mundo. Queria ser jogador. Mas a habilidade (ou falta dela) não ajudava nadinha. Assim, comecei a virar um teórico do futebol.
Sabia de cor os campeões, os principais times de cada estado, acompanhava todos os campeonatos. Hoje é fácil. Mas naquele tempo, sem internet, isso me tornou uma pessoa diferente.
Foi João de Sousa quem percebeu isso. - Ei, você quer trabalhar comigo na Rádio Tabajara?
O convite pareceu imponente. Era um garoto, repito.
Mas nunca costumei fugir dos desafios. Estava lá, com os caras que escutava todos os dias. Eudes Moacir Toscano, Ivan Bezerra, Geraldo Cavalcanti, Adamastor Chaves, Ernani Norat... João de Sousa era o chefe do departamento. Tinha orgulho disso.
Confesso que João acreditava mais em mim do que eu próprio. Nunca me deixou baixar a cabeça. Sempre incentivando, virtude dos homens generosos. Mesmo nos erros (e foram tantos) era João quem primeiro dizia. “É assim mesmo, já viu um ser humano que não erra?”. Passei dois anos na Tabajara. Era uma espécie de “estágio não oficial”. Aprendi muito por lá. Fiz amigos. E o mais importante: saí de lá decidido a fazer Jornalismo.
Uma escolha que nunca me arrependi. E, que preciso dizer, tem muito o dedo de João de Souza. Esse agradecimento, graças a Deus, tive a oportunidade de fazê-lo em vida.
Descanse em paz, meu amigo. + João de Sousa morreu neste domingo, aos 73 anos. Um domingo que o seu Vasco voltaria a campo pelo Campeonato Carioca.