"Esse negócio de CEO, diretor executivo, não funciona no Vasco". A eloquente sentença é de Eurico Miranda. O presidente do Vasco apostou na velha fórmula - muitas vezes, contestada e criticada - de profissionais misturados a dirigentes amadores. Desta vez, com participação mais incisiva de seus filhos na condução do futebol do clube para a primeira conquista do Carioca desde 2003. Após 12 anos e apenas um título, o da Copa do Brasil, em 2011, em outro modelo na gestão Dinamite, com plenos poderes para o executivo de futebol Rodrigo Caetano, o título vascaíno pode ser considerado uma produção a quatro mãos do experiente gerente de futebol Paulo Angioni e de Euriquinho, filho do presidente do Vasco.
Profissional com mais de 30 anos de experiência no futebol, Angioni, que tem formação de psicólogo, começou como supervisor e tem passado vitorioso no próprio Vasco. Com passagens e mais títulos no Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Fluminense, entre outros clubes, ele iniciou tentativas de acordo para renegociação de dívidas com jogadores e funcionários dispensados e usou sua rede de contatos para empréstimo de Dagoberto junto ao Cruzeiro, na contratação de maior impacto do clube. Gilberto, que estava escondido no Torono FC, jogando a liga norte-americana, também foi ação do experiente profissional.
Eurico Brandão, o Euriquinho, aos 37 anos, retornou ao Vasco na nova gestão do pai com papel mais incisivo dentro do futebol e no clube. Muito próximo a José Luis Moreira, vice de futebol e antigo aliado de Eurico na política vascaína, Euriquinho disse em entrevista ao GloboEsporte.com - na qual não faltaram polêmicas e alfinetadas diretas justamente em profissionais remunerados no futebol - que funcionava mais como um "filtrador" das diversas ofertas que chegavam ao futebol. Foi mais que isso. Ele participou diretamente da escolha do nome de treinador. Tanto na chegada de Doriva como antes, na frustrada contratação de Marquinhos Santos.
O filho do presidente também negociou a maioria das mais de 20 contratações, como a de Julio dos Santos. A chegada de jogadores sem custo e "sem nome" para o clube gerou críticas da oposição e dos torcedores vascaínos no início da competição. Um deles, o lateral-direito Madson, tornou-se destaque do time no campeonato. O jogador veio por meio da relação com o empresário Carlos Leite, antigo desafeto de Eurico.
- Torcedor quer ganhar o jogo. Se ganhar, é bonito. Se perder, é feio. Não interessa. São 20 clubes, só um ganha. O que ficou em segundo é uma porcaria. Só que temos que ter cabeça fria para fazer um trabalho e tentar resgatar o Vasco como um todo, não por um ano. Não se faz uma história vencedora de um dia para o outro. Se faz apostando em caras novos, baratos. Aí se monta um time que ninguém acredita e daqui a seis meses, um ano, um ano e meio, quem sabe você tem um time forte, que vai adequando jogadores da base, vai dando oportunidade - disse ao GloboEsporte.com no fim de janeiro, antes da estreia no Carioca.
Investimento em ciência e retorno de promessas
Com discurso de que o Vasco ia botar "jogador mediano para correr 10 vezes mais que o bom", Euriquinho ganhou o aval do pai e trouxe Alex Evangelista, fisioterapeuta que já havia passado por São Januário e trabalhou nos últimos anos no Botafogo, com Seedorf, e no Santos, com Neymar e Robinho. Com o vice-presidente médico Egas Manoel, Evangelista tenta arrecadar recursos para construir o Centro Avançado de Prevenção, Reabilitação e Rendimento Esportivo, o Caprres, que conquistou os jogadores e recuperou rapidamente lesões graves como as do volante Guiñazu e do atacante Dagoberto.
Apesar de alguma resistência após a derrota para o Friburguense por 5 a 4, que gerou cobrança interna no clube e pressão também sobre Doriva, um espaço físico para o Cappres deve ser construído até o fim do ano. O trabalho realizado no centro de saúde atrai atletas que pertencem a outros clubes e pode facilitar até o acerto com outros reforços. Sem clube, Fellype Gabriel se trata no Vasco há algumas semanas e não será surpresa se jogar o Brasileiro pelo Vasco.
O outro filho de Eurico, Álvaro, que tem o cargo de manager da base, também participou da montagem do time, ao liderar o retorno de algumas promessas que saíram em litígio do Vasco. Matheus Índio e Mosquito, porém, pouco atuaram. Com poucas chances, outras revelações, como o meia Guilherme, deixaram o elenco durante o Carioca. Romarinho, filho de Romário, amigo de Eurico, só entrou em campo pela Copa do Brasil e nem no banco ficou no Carioca.