E se cada partida de um clube valesse um título? Mais especificamente, a manutenção de um cinturão? É com esse espírito que uma mistura de torneio fictício com levantamento histórico sério diverte torcedores de clubes brasileiros nas redes. O Cinturão do Futebol Brasileiro, hoje em posse do Vasco, será posto em disputa neste sábado, às 16h30, em Cariacica (ES), quando o cruz-maltino enfrenta o Volta Redonda pela sétima rodada do Campeonato Carioca.
A briga por cinturões é o modelo de disputa das principais modalidades de lutas e artes marciais. Nelas, cada categoria tem um único campeão, que pode ser desafiado valendo o cinturão. A ideia de adaptar esse modelo ao futebol, mesmo que de forma fictícia, nasceu na Inglaterra e foi adaptada no Brasil pelo hoje historiador do São Paulo Michael Serra e pelo amigo e empresário de turismo André Silva.
Apaixonados por futebol e estatísticas, os dois já foram colaboradores da RSSSF, uma das principais plataformas de números do esporte no mundo. Michael idealizou o projeto em 2014 e André assumiu a frente em 2021. A regra é simples: o time dono do cinturão é desafiado pelo título a cada partida oficial que disputa. O Vasco, por exemplo, o obteve ao vencer o Maricá na última quarta-feira, pelo Carioca.
Na rede social, a "disputa" é um sucesso. Em conversa com o GLOBO, André, morador de Guarulhos (SP), conta que o perfil ganhou mil seguidores em um dia após o cruz-maltino conquistar o cinturão. Hoje, o perfil tem quase 36 mil seguidores. Muitos deles, ansiosos pela atualização de cada disputa.
— Eu assisto mesmo (os jogos). É muito difícil eu não assistir, só quando não estou em casa. Ano passado, por exemplo, em Sport x Fortaleza. Eu estava dentro do avião e o pessoal pedia "vai, publica logo, publica logo que o Fortaleza é o novo dono cinturão". Cheguei duas horas depois. Mas a maioria dos jogos eu assisto — conta ele, que diz gostar muito do projeto:
— Para mim é um lazer que você não tem noção. Quando tem jogo, paro o que estou fazendo para ver. Não é uma coisa profissional, mas é um hobby.
Idas e vindas
O projeto, que tem um site recheado de informações (confira clicando aqui) nasceu muito completo, com uma linha do tempo traçando os donos do cinturão desde os primórdios do futebol brasileiro. A primeira partida registrada, por exemplo, é AA Mackenzie College 2x1 SC Germânia, pelo Campeonato Paulista de 1902.
Os times que mais vezes conquistaram e defenderam o cinturão foram, nesta ordem, Palmeiras (332 oportunidades, com 62 conquistas e 270 defesas, Corinthians (328 oportunidades, 60 conquistas e 268 defesas), Santos (248 oportunidades, 56 conquistas e 192 defesas), São Paulo (201 oportunidades, 52 conquistas e 149 defesas) e Flamengo (144 oportunidades, 32 conquistas e 112 defesas).
O Vasco, atual dono do cinturão, vem logo atrás do top 5, em sexto, com 140 oportunidades, 30 conquistas e 110 defesas. Ao todo 212 clubes já tiveram o cinturão pelo menos uma vez.
Caminho alternativo
O "título" é dinâmico. Com várias competições pelo Brasil, o cinturão já perambulou e parou em campeonatos como as divisões inferiores do futebol carioca, de onde André tem a lembrança de assistir mais partidas de "futebol alternativo".
— Caiu no Rio em 2021. Estava na segunda divisão do Campeonato Paulista. A Portuguesa-SP foi para a série D e e perdeu para o Bangu. Ficou rodando com o Bangu e de repente, o Boavista ganhou. No meio da semana, tinha jogo na Copa Rio. E aí o Boavista perdeu para o Americano. O cinturão caiu para a terceira divisão do Campeonato Carioca — lembra.
Ele recorda duelos regionais pelo cinturão no Rio, como na rivalidade entre São Gonçalo e Gonçalense, mas elege um confronto entre Olaria e Carapebus-RJ como o mais "alternativo" que assistiu por conta da disputa. Segundo ele, foi preciso buscar uma transmissão amadora para acompanhar a partida:
— Lembro que tinha 15 pessoas assistindo. Era um cara amador que ia narrar os jogos. Sentou lá e começou a narrar e filmar o jogo dessa forma — conta.
De volta às primeiras divisões do Campeonato Brasileiro em 2023 e 2024, o projeto viveu o salto para o que se vê hoje. Das centenas de seguidores, foi aos milhares. Troféus da "vida real" à parte, um hobby tratado com precisão e carinho se tornou uma forma diferente e divertida de acompanhar o futebol brasileiro.