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Vasco e outros clubes do Brasil adotam caixa preta nas transações

\"Divulgação/
Cofre do Banco de Nova Iorque aberto é fator raro, assim como valores no futebol brasileiro

É comum ouvir a frase que o maior patrimônio de um clube é a sua torcida. Mas a conduta das agremiações brasileiras segue a contramão da história quando se trata das contratações de jogadores. Uma pesquisa feita pelo Superesportes verificou que as 12 maiores equipes das regiões Sul e Sudeste omitem para o torcedor qual o valor gasto na aquisição de um atleta.

A última instituição a seguir essa atitude foi o Atlético. Após anunciar o acerto com o atacante Jô, considerado uma aposta de risco pelo histórico de indisciplina, o diretor de futebol Eduardo Maluf se limitou a dizer: “Não vamos revelar o valor pago no Jô. Nenhum clube mais fala isso, hoje em dia”. Com essa medida adotada pelo Galo, a partir de agora, apenas o tempo de contrato e o percentual adquirido dos atletas serão revelados pelo Alvinegro, assim como o restante dos clubes já faz.

Entre as justificativas para esconder a informação do público, as instituições alegaram proteção aos atletas, cláusulas contratuais, medo de provocar ciúmes no grupo de jogadores, particularidades de cada contrato, política interna e receio de inflacionar o mercado para futuras negociações. Para justificar o mistério sobre os dados, a maioria das equipes disse que a imprensa tem outras fontes para descobrir os números e que a informação vaza. Por isso, não existe a preocupação em passar os valores das transações.

VEJA A REPORTAGEM SOBRE AS NEGOCIAÇÕES DO GALO
Ministério Público

Procurado pela reportagem para explanar sobre a situação, o promotor do Ministério Público, Edson Antenor de Paula Lima, garantiu que o modo de ação das entidades esportivas não encontra nenhuma irregularidade perante a lei.

“Os clubes em regra são entidades privadas. O Estatuto do Torcedor fala em transparência da competição. No Estatuto é cobrado a divulgação de fatores ligados a organização do evento, como renda das partidas e sorteio dos árbitros. Mas esse tipo de transparência não é previsto. Salvo por lei, as sociedades anônimas. Elas têm que revelar o balanço dos números, não por causa do torcedor, mas por estar no mercado de ações e ter a possibilidade de ser adquirida por qualquer pessoa. A relação de consumo do torcedor não está inserida no valor gasto em negociações, só nas competições”, frisou.

Falta de respeito com o torcedor?

Para o comentarista da ESPN, Mauro Cezar Pereira, a postura das equipes brasileiras de manter sigilo nas negociações é um retrocesso na relação com os torcedores. “Vamos pegar o Atlético como exemplo. Hoje o clube joga em um estádio que comporta mais de 20 mil pessoas. Mas é óbvio que a torcida do Atlético é de milhões. E mesmo esse torcedor que não vai ao estádio, ele também é consumidor. O futebol movimenta todo esse dinheiro por causa dos torcedores. E eles são os ‘patrões’. E isso vale para qualquer clube. A partir do momento que você tem esse \"patrão\", ele tem direito de saber quanto vale cada jogador\", comentou Mauro, antes de criticar o atraso na ideologia seguida pelos times.

“O maior agregado das empresas nesta hora é a transparência. Muito se fala nesse tipo de ação no futebol brasileiro, mas não acontece. Agir dessa forma como os clubes fazem é um retrocesso: fechar num grupo pequeno as informações sobre as negociações de um atleta. Muitas vezes, o presidente Kalil, assim como outros dirigentes, pede a ajuda da torcida para encher os estádios e ajudar a trazer jogadores. E depois eles não querem passar os valores! Onde eles (dirigentes) pensam que estão?“, completou.

Quando divulgam os balanços anuais de investimento, os clubes brasileiros citam os números movimentados no departamento de futebol, mas como o valor é geral, não é possível calcular o gasto individual em cada atleta. O comentarista da ESPN vê isso como empecilho na hora de avaliar se a contratação foi vantajosa.

“É interessante saber o valor da negociação para avaliar se a contratação foi positiva. Um jogador como Ronaldinho custar o valor de um milhão por mês é loucura, mas se o investimento fosse menor seria viável. Esse sigilo também serve para maquiar a incompetência dos cartolas e abre precedentes para atividades ilícitas”, finalizou Mauro.

Realidade também na Toca

A era de Gilvan de Pinho Tavares começou no Cruzeiro da mesma maneira que terminou a de seu antecessor: Zezé Perrella. Todas as contratações do time celeste feitas na temporada 2012 mantiveram o caráter sigiloso e os números da transação não foram divulgados. A justificativa para não passar os valores foram cláusulas contratuais de confiabilidade.

\"Arquivo Jornalista Norberto Lopes

No quesito transparência, o futebol português está bem à frente do brasileiro. No país Luso, como a maioria dos clubes é cotado em bolsa, eles têm que informar os atos comerciais como qualquer empresa. O jornalista português, Norberto Lopes, do Jornal de Notícias, explica como funciona o mercado de jogadores em Portugal.

\"Os grandes clubes revelam a Comissão de Mercado de Valores Imobiliários (CMVM) qualquer tipo de movimentação financeira acima de 2 milhões de euros. (Parceria internacionais, contratos publicitários, direitos de TV, venda de atleta, renovação de contrato...)Na venda ou compra de jogador, deve ser informado: valor pago ou recebido, a porcentagem dos direitos econômicos, duração de contrato e o destino do atleta. Além disso, os clubes fazem balanços trimestrais, semestrais e anuais aos acionistas de todo e qualquer valor gasto\", salientou.

Fair play financeiro

O receio da Fifa com a maneira em que as equipes europeias têm tratado suas finanças fez com que a entidade máxima do futebol buscasse formas de conter os gastos descontralados. Para isso, será criado o \"fair play financeiro\". Em entrevista há dois anos, o presidente Joseph Blatter pediu que as entidades esportivas sigam com antecedência o ‘fair play financeiro’, medida que deve entrar em vigor entre as temporadas 2013/2014 e que impedirá que os clubes gastem mais do que ganham anualmente. Assim, fatores como a transparências nas vendas e contratações serão fiscalizados com mais rigor, além dos salários astronômicos de alguns atletas e injeção de dinheiro sem comprovação. O clube que descumprir a medida pode ficar fora das competições e pagar multa.

Veja a informação passada pela assessoria de comunicação dos clubes de Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul:

Palmeiras – Oficialmente não informamos o valor. A informação pode vazar de outras formas pela imprensa, mas não é passada pelo Palmeiras.

Santos – O Santos não divulga, a não ser que haja alguma coisa em relação a investimento de parceiros. É uma postura para proteger os atletas.

Corinthians – Não revelamos. É uma política do clube. A gente tem uma política de transparência, e por isso apresentamos um relatório de sustentabilidade, onde o montante geral é revelado, mas não o individual. Somos o único clube do Brasil que faz isso. Não há necessidade de expor cada caso. A nossa preocupação é estar em dia com o público.

São Paulo – Não divulga. Os valores não são informados.

Botafogo – Oficialmente a gente não divulga. Às vezes a imprensa especula. Em algumas oportunidades acerta e em outras erra. Não comentamos.

Flamengo – Geralmente não divulgamos. Depende do contrato. A informação pode vazar, mas nos contratos costumam existir cláusulas de sigilo.

Vasco – A gente não divulga. A gente só fala se adquiriu parte dos direitos e o tempo de contrato. São assuntos internos do clube. O que acontece muito também é que a imprensa descobre por outros meios. O clube prefere não divulgar.

Fluminense – Não costuma divulgar. A imprensa é que especula. Algumas vezes acerta e em outros a erros. Desde a chegada do Rodrigo Caetano a gente não comenta as negociações. Isso é para não prejudicar o negócio, não atrapalhar as negociações futuras e para evitar ciúmes no restante do elenco. É uma questão ética, não é uma regra.

Grêmio – Não divulgamos, só se o contrato permitir.

Internacional
– Não divulgamos. É uma postura do clube.

Fonte: Superesportes
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