O Vasco iniciou o novo ano com velhos problemas. O clube deve salários a jogadores e funcionários, o que tem gerado, mais uma vez, muito incômodo entre seus colaboradores.
No momento, estão vencidos os pagamentos referentes ao mês de novembro, além de férias e 13º salários de jogadores do elenco profissional e funcionários. Na próxima sexta-feira, 5º dia de útil do mês, vence também o de dezembro - embora o clube tenha um acordo informal com funcionários de pagar sempre no dia 20.
Há relatos de colaboradores com registro de pessoas jurídicas (PJs) que não recebem desde agosto. No futebol feminino, os atrasos salariais caminham para três meses. Algumas atletas, com vencimentos geralmente baixos, estão optando por deixar a equipe.
Em contato com a reportagem do ge, o clube disse apenas que lamenta e informou "que tem trabalhado incansavelmente em busca de uma solução para regularizar a situação o mais rápido possível". Mas não soube dizer quando vai conseguir regularizar os pagamentos.
Para além da insatisfação de funcionários, esse problema tem atrapalhado o Vasco, por exemplo, no momento de negociar rescisões de contrato. O goleiro Vanderlei e o zagueiro Leandro Castan não estão nos planos do técnico Zé Ricardo, mas vão seguir treinando em horários alternativos até chegarem a um acordo com o clube para o pagamento das dívidas.
"Atrasos operacionais"
Antes do Natal, em entrevista ao ge, o diretor financeiro do Vasco, Anderson Santos, culpou a dívida do Boavista-POR por Nathan pelos atrasos salariais. O clube acionou a Fifa em outubro para cobrar a dívida de quase R$ 8 milhões.
- Muitas receitas que o clube tinha previstas para receber agora no final do ano não entraram. Como a venda do Nathan, que daria para pagar quase duas folhas. Infelizmente tivemos um problema com o Boavista-POR. Tínhamos um acordo para receber até o início de dezembro, mas não recebemos - justificou ele na ocasião.
Esse valor faz parte do que o Vasco chama de "atrasos operacionais": dinheiro que estava dentro do orçamento do clube, mas que por alguma razão acabou não entrando. Até outubro, conforme revelou o VP de Finanças Adriano Mendes na reunião do Conselho Deliberativo na semana passada, o atraso operacional era de cerca de R$ 20 milhões.
- É um todo de R$ 20 milhões que atrasou e, infelizmente, atrasou os pagamentos que a gente tinha que fazer - explicou ele na reunião.
O Vasco também esperava adiantar aproximadamente 700 mil euros (R$ 4,5 milhões) da venda de Arthur Salles para o Lommel, da Suíça; e contava com os pouco mais de R$ 4 milhões que tem para receber da Caixa desde 2017, mas que estão travados porque o clube não tem a Certidão Negativa de Débitos (CND).
Além disso, o clube planejava receber ainda em 2021 o pagamento de U$ 1 milhão (R$ 5,6 milhões) por uma cláusula no contrato da venda de Talles Magno ao New York City, dos Estados Unidos. O acordo prevê que o Vasco receba o dinheiro quando Talles fizer 10 jogos (atuando ao menos 45 minutos) - o atacante atuou em 18, mas na maioria das vezes entrou no decorrer do segundo tempo.
Todos esses valores entram nas contas da diretoria vascaína como "atrasos operacionais".
E o acordo com o MPT?
Em julho do ano passado, o Vasco fechou um acordo com o Ministério Público do Trabalho e com o Sindiclubes (Sindicato dos Empregados em Clubes, Federações e Confederações Esportivas e Atletas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro). Além do encerramento da ação pública que tratava da demissão de 186 funcionários, o pacto deveria garantir o pagamento de salários até dezembro.
O acordo bloqueia até R$ 30 milhões junto a determinadas fontes de receita do clube (sócio-torcedor, FENG, Globo, Record, CBF, NSports...) para pagamento prioritário a empregados e atletas, mas o ge apurou que o valor retido nos últimos meses não tem sido suficiente para zerar as folhas salariais.
Ademais, uma dessas fontes de receita, por força de contrato, tem sido usada para abater uma dívida de quase R$ 15 milhões que o Vasco tem com o BMG. O Sindeclubes informou ao ge que vai tentar se movimentar no processo na tentativa de conseguir ao menos algum pagamento para os funcionários, mas a expectativa é de que só haja novidade a partir do dia 20 de janeiro, quando acaba o recesso do judiciário.