A negociação entre Vasco e Atlético-MG envolvendo o atacante Marrony desperta atenção pelo timing (em plena pandemia), pelos valores à mesa (cerca de R$ 20 milhões), e os efeitos que ela pode trazer em ambas as partes.
Para o Vasco, Marrony é uma das revelações com potencial relativamente bom de rentabilidade para o clube — Talles Magno é outro. Em crise e com poder de barganha reduzido, a tentativa cruz-maltina diante da investida atleticana é receber o valor à vista e suprir as necessidades imediatas.
Por isso, o BMG entrou na jogada. Como informou inicialmente a Radio Itatiaia, o banco, patrocinador de ambos os clubes, repassaria o valor total ao Vasco de uma vez só. O Atlético-MG compensaria em três parcelas.
Na projeção do setor financeiro do Vasco, captar até R$ 50 milhões em vendas de jogadores até o fim do ano daria uma tranquilidade para o encerramento do último ano de mandato da gestão Alexandre Campello. Ou seja, vender Marrony não é a solução definitiva.
Mas há três itens imediatos para aplicação dos recursos: pagamentos de salários, de prestadores de serviço (pessoas jurídicas)e fornecedores. Na segunda-feira, o clube quitou parte dos atrasados com o elenco — que, por sinal, treinou mais um dia em São Januário.
Agora, o mês de janeiro foi completamente resolvido entre jogadores e comissão técnica. Para o elenco, o Vasco deve fevereiro, março e abril. Pelo sistema de pagamento do clube, o salário de maio vencerá em 20 de junho. A diretoria também pagou um mês de direitos de imagem. No momento, são oito meses pendentes. Nos últimos dias, o Vasco captou receitas com beneméritos. Por isso, conseguiu amenizar a situação salarial.
— Quando chega, já é para salário — disse Carlos Leão, vice de finanças do clube.
Entre os fornecedores do Vasco estão empresas que prestam serviços de segurança e alimentação. Isso abrange as categorias de base. O Vasco, inclusive, pretende publicar neste mês o balancete do primeiro trimestre.
Atrasos no outro lado da mesa
Curioso é que do outro lado há um clube que também tem seus obstáculos financeiros. Na semana passada, a diretoria do Atlético-MG conseguiu correr para evitar que se completasse o terceiro mês de salário atrasado dos jogadores. Internamente, o elenco se mostrou insatisfeito com as investidas do clube no mercado, já que há pendências salariais.
No cenário de dificuldade de geração de capital, a estratégia da diretoria do Atlético é esticar ao máximo os prazos para não podar investimentos. Pela legislação brasileira, os jogadores podem pedir rescisão contratual unilateral se o atraso salarial chegar a três meses.
Antes se aproximar de Marrony, o Atlético fechou a contratação do volante Léo Sena, do Goiás, por R$ 4 milhões, e adquiriu 80% dos direitos econômicos. Além disso, o Independiente del Valle anunciou que o meio-campista Alan Franco, de 21 anos, também estará à disposição do técnico Jorge Sampaoli.
O presidente do Atlético-MG, Sérgio Sette Câmara, disse à Rádio Itatiaia que o suporte dos parceiros comerciais do clube precisa ser em investimentos e não no pagamento das dívidas.
— É para aplicar em jogadores que possam performar tecnicamente e, depois, trazer lucro para o clube. Não podemos parar de fazer isso — disse ele.
O departamento financeiro entende que foi feito um orçamento conservador, prevendo a sobrevivência até janeiro, levando em conta a projeção de receitas para o período.