Campeão carioca depois de 12 anos, mobilização da torcida em alta - demonstrada tanto na campanha de crownfunding para a remodelação do ginásio de São Januário quanto na procura por ingressos para a final do estadual -, e com Martín Silva, Guiñazu e Dagoberto como potenciais garotos-propaganda. O cenário parece perfeito para o lançamento de um remodelado e abrangente programa de sócio-torcedor. Seis meses depois de assumir o Vasco, porém, Eurico Miranda e sua diretoria ainda não conseguiram encontrar um modelo para impulsionar as finanças do clube.
Tudo porque a direção avalia eventual quebra contratual com a empresa que atendia a gestão Roberto Dinamite, afinal, ela tem direito de exclusividade para explorar o programa em São Januário. Estudam o melhor modelo. E ainda escolhem a parceira que vai administrá-lo. O lançamento ainda deve demorar alguns meses, portanto. Tem previsão para outubro.
A empresa que administra o banco de dados, faz a cobrança e produz relatórios para o departamento de marketing vascaíno é a Microtag. Em 2012, após ação na Justiça em que cobrava indenização milionária por quebra contratual - anos antes, no início da gestão Dinamite, a SVI, mesmo com contrato assinado, foi preterida pela Torcedor Afinidade -, a empresa, um braço da SVI, fez acordo com a diretoria para receber cerca de R$ 1,3 milhão. Foi definido que o vínculo iria até novembro de 2015. A multa para nova quebra de contrato é calculada de acordo com os meses restantes de contrato e o que a empresa recebe mensalmente do clube. Estes valores chegam a R$ 500 mil.
O vice-presidente de marketing do Vasco, Marco Antônio Monteiro, explica que não é somente a multa para término do vínculo com a Microtag - o que, para ele, representaria “desgaste” - que atrasa o lançamento do sócio-torcedor:
- Hoje temos a seguinte situação: há um bloqueio, pois só uma empresa pode fazer, tem cláusula de exclusividade. Dois: estamos estudando e avaliando a questão com essa empresa e ouvindo outras. E mais: o Vasco não pode mais falhar no seu sócio-torcedor. Quando vimos o tamanho do imbróglio decidimos fazer as coisas com calma - diz Monteiro.
Ainda com pouca atratividade nas sedes - o Parque Aquático está fechado para obras -, o Vasco recebeu 1.349 novos associados desde dezembro, quando a nova gestão assumiu. Por mês, os associados pagam cerca de R$ 400 mil. Ou seja: com pouco mais do que a renda dos associados de um mês seria possível pagar para a atual empresa encerrar o vínculo.
Hoje, o Vasco tem apenas três categorias de sócios - houve reajustes no início do ano e os valores ficaram em R$ 30 sócio "vascaíno de coração", antigo "Vasco é meu"; sócio-geral, R$ 40, e sócio-proprietário, R$ 55. Apenas as duas últimas categorias têm benefício de pagar 50% para jogos do Vasco e direito a voto. A ideia é aumentar as categorias e, também claro, os benefícios, principalmente para torcedores de fora do Rio.
- Dois terços da nossa torcida ficam fora do Rio. Não dá para fazer plano de R$ 50 para um torcedor que pouco vem a jogo. Vai ser mais barato para o sócio de fora do Rio, mas ainda não definimos esse preço - diz Monteiro.
Três empresas se reuniram com o Vasco para apresentar um modelo novo de sócio-torcedor. A CSM, que fez o Flamengo e estimou teto de 40 mil STs até o fim do ano, a Futebol Card e a BWA. Nesse período, a diretoria informa que busca retomar o banco de dados, alinhavar o cadastro e as cobranças, com entrega de carteirinhas e outras burocracias. Monteiro espera definir a empresa entre junho e julho para fazer o lançamento do novo sócio-torcedor do Vasco em “dois ou três meses com segurança”.
Proposta e polêmica com a oposição
Monteiro diz que o quadro social do Vasco hoje varia entre 22 a 24 mil associados. Desses, metade são pagantes. No ranking do 'Por um futebol melhor', que é atualizado diariamente, o Vasco tem pouco mais de 16 mil associados registrados. O vice-presidente de marketing vascaíno cita os exemplos do plano de sócios do Internacional, voltado para uma relação mais regional e com benefícios voltados para cidade gaúchas, e do Palmeiras, que deve ser mais próximo do modelo adotado vascaíno.
Uma das correntes da oposição do clube, a Cruzada Vascaína, que é maioria entre as 30 cadeiras do Conselho Fiscal, procurou o departamento de marketing para apresentar uma sugestão de sócio-torcedor que se adequasse ao clube. O plano prevê maior variedade de preços, clube de benefícios com parcerias, sorteios, prêmios, brindes e maior integração com torcedores fora do estado. Monteiro diz que houve o contato e que a reunião seria marcada, mas conta que foi surpreendido com uma nota no jornal “Lance!” falando que o desencontro foi provocado por questões políticas - ou seja, a administração de Eurico estava evitando o contato.
- Estava disposto a sentar e debater, mas depois disso não dá - afirma Monteiro.
Procurada pela reportagem, a diretoria da Cruzada dá outra versão. O grupo político vascaíno diz que fez alguns contatos, inclusive em reunião do Conselho Deliberativo, e que depois o dirigente desmarcou o encontro, não atendendo mais as ligações e nem retornando os contatos realizados até o ponto em que eles decidiram divulgar parcialmente os planos.