Faz algum tempo, mas o torcedor vascaíno deve se lembrar que Diego Souza, hoje jogador do Sport, deixou o Vasco em julho de 2012. Eram disputadas 10 rodadas do primeiro turno do Brasileiro daquele ano e o time de Cristóvão tinha a base campeã da Copa do Brasil do ano anterior e disputava a ponta da tabela com o Atlético-MG de Cuca. A transação foi fechada com o Al-Itthad por 5 milhões de euros – R$ 12,3 milhões, segundo balanço vascaíno. Mas até hoje, nem Vasco, nem a Traffic, detentora da maior fatia dos direitos econômicos do atleta, viram a cor do dinheiro dessa transação. Na próxima quinta-feira, no tribunal da Corte Arbitral do Esporte (CAS na sigla em inglês), o calote do clube árabe tem a última instância jurídica antes de uma eventual execução ou penalização ao Al-Ittihad.
A vitória do Vasco e da Traffic é considerada certa. Em janeiro, nos tribunais da Fifa, os auditores viram má-fé dos árabes na falta de pagamento. À época, uma empresa de marketing da Arábia Saudita chegou a enviar o pagamento da primeira parcela da venda, mas a operação financeira foi recusada pelo Banco Central brasileiro - também era contra as regras da Fifa, que exige transação financeira entre clubes. As outras parcelas eram para serem quitadas em agosto do mesmo ano e a última em janeiro de 2013, mas nada foi efetivado, o que levou os vascaínos à entidade máxima do futebol mundial em outubro de 2012.
Os advogados que representam os brasileiros pediram o dobro das multas e juros estipulados geralmente pela Fifa, que leva em conta a lei suíça para decidir sobre esse tipo de caso. Com isso, uma venda que era de 5 milhões de euros já chega próximo a 7,5 milhões de euros – cerca de 45% de acréscimo no valor original da venda. Ou seja, quase R$ 20 milhões. Desse total, o Vasco tem a menor fatia. Apenas 33% - o que daria pouco menos de R$ 7 milhões.
- A legislação suíça prevê 5% de juros e 10% de multa anual sobre esses casos, mas a Fifa aprovou nosso pedido de 10% de juros e 20% de multa do valor da venda. Eles (o Al-Ittihad) ainda querem reduzir, negociar esses valores – explica Rafael Botelho, diretor jurídico da Traffic, que vai à Suiça acompanhar o julgamento e representar também o Vasco no tribunal.
Apesar do aumento significativo, esta quantia, para os vascaínos, ainda esbarra em dois problemas. Após o julgamento, ainda há um razoável tempo de espera para um efetivo pagamento. Quem acompanha o caso e as práticas do clube árabe, esperam ainda que o Al-Ittihad tente outros caminhos para evitar a quitação do débito. O CAS tem 60 dias de prazo para publicar o resultado do julgamento. Depois disso, ainda há uma análise no Comitê de Disciplina da Fifa, que estabelece mais 30 dias para que o clube realize o pagamento. Caso o dinheiro não saia, o clube árabe está sujeito a punições, como perda de pontos e outras sanções no âmbito desportivo.
- Eles vão tentar ganhar tempo. Este caso está pronto para ser julgado desde setembro, mas eles fizeram questão do julgamento “físico”, quando nem era necessário. Mas acho até o fim do primeiro semestre isso pode ser resolvido – estima o advogado da Traffic.
O outro entrave é mais delicado aos vascaínos. Também tem a ver com falta de pagamento, mas muda o devedor, que, nesse caso, é o Vasco. No mesmo ano em que vendeu Diego Souza, o clube acertou a compra, por 4 milhões de euros, de Eder Luis e Fellipe Bastos junto ao Benfica. Sem dinheiro para quitar as parcelas combinadas, o então diretor técnico do Vasco Ricardo Gomes, ex-jogador do Benfica, e o diretor geral Cristiano Koehler foram pessoalmente a Lisboa renegociar as bases de pagamento no início de 2013. O clube, porém, honrou poucas parcelas do que foi combinado.
A diretoria tentou montar uma operação triangular para receber o pagamento do Al-Ittihad e transferir direto para a capital portuguesa. Cerca de 70% da quantia poderia ser quitada com o que o Vasco tem a receber de verba dos árabes. O restante seria composto em participação de direitos econômicos de jogadores que o Benfica escolheria. O caso será passado adiante para a nova administração Eurico Miranda, mas essa foi a proposta vascaína. No entanto, a ideia não animou muito os portugueses. Também pudera: a informação que corre em Lisboa é de que o Al-Ittihad também deve grana ao Benfica...