Um mês após a Copa, a Datascript realizou pesquisa sobre a percepção do futebol no Brasil. O trabalho abrangeu 17 capitais e 95 municípios, num total de 6 mil entrevistas, com o público acima de 16 anos. Dois dados preocupantes: 76% dos entrevistados acham o nível dos jogos disputados aqui pior do que os da Copa. E 64% dizem não ter intenção de ir aos estádios nos próximos seis meses.
O preço dos ingressos é visto como caro por 65% dos que foram ouvidos e o Campeonato Inglês é considerado o melhor do mundo para 22%, contra 17% que preferem o Espanhol, 14%, o Italiano e 11%, o Alemão.
Nem todas as notícias, porém, são ruins. Os novos estádios são elogiados por 69% dos entrevistados. E embora a maioria diga que não pretende ir aos campos de futebol nos próximos meses, o gigantismo do Brasil (200 milhões de habitantes) faz com que o percentual dos que se mostram dispostos a comparecer aos jogos (13%) represente um total de 26 milhões de brasileiros. É público suficiente para encher todas as arquibancadas.
No mesmo raciocínio, o comparativo dos que assistem ao futebol na TV aberta contra a TV fechada (51% x 8%) revela que o “cabo” já tem 16 milhões de espectadores, o que é mais do que as populações de Portugal ou Bélgica e igual a da Holanda.
Programas esportivos, nas TVs aberta e fechada ou nas rádios, são acompanhados por 32% dos pesquisados, número que representa uma audiência total de cerca de 64 milhões de brasileiros. Em compensação, apenas 1% assina revistas, jornais esportivos on line etc.
Quando o assunto é a compra de produtos licenciados dos times de futebol o interesse aumenta exponencialmente: 58% confirmam a disposição de comprar camisas, bonés, uniformes, bolas, cadernos etc dos seus clubes nos próximos seis meses.
O uso das redes sociais pelos torcedores atinge números impressionantes: são 36 milhões de pessoas tuitando ou usando o Facebook e similares durante e após os jogos — um público praticamente inexplorado pelos clubes em termos de possibilidade de novo faturamento.
Apesar das críticas à qualidade do nosso futebol, dois fatores seguem despertando interesse nos campeonatos realizados aqui: a paixão clubística e a rivalidade (principalmente a local) que ela provoca. Nas redes sociais, “zoar” o adversário é mais atrativo até do que a procura por informações, comentários ou fotos das partidas.
A despeito do futebol ter se tornado o assunto principal do país durante o Mundial realizado aqui, um mês depois, o maior contingente continua a ser o daqueles que garantem não ter simpatia por nenhum time (23%). Entre os fãs do “velho e violento esporte bretão”, o Flamengo segue imbatível, com 18,1%, contra 14,5% do Corinthians.
Seguem-se São Paulo (8,2%), Palmeiras (5,8%) e Vasco (4,8%), enquanto Fluminense (1,8%) e Botafogo (1,7%) estão praticamente empatados, respectivamente, na décima primeira e décima segunda colocações. À frente deles, estão Grêmio (3,8%), Cruzeiro (3,6%), Santos (3,0%), Atlético MG (2,9%) e Internacional (2,6%).
O resumo da ópera é o seguinte: o mercado ainda é grande e com considerável potencial inexplorado. Mas o torcedor não é trouxa e já percebeu que o produto que anda consumindo é de má qualidade. Ou melhora, ou a coisa vai ficar cada vez mais feia.