Ele chegou a São Januário após uma mobilização da torcida nas redes sociais e, aos poucos, vai ganhando uma identificação cada vez maior com o Vasco. Xodó dos cruz-maltinos, Germán Cano tem se notabilizado não apenas pelo faro artilheiro, mas também por atitudes que extrapolam as quatro linhas e rendem elogios ao argentino.
O gesto do camisa 14 de levantar a bandeirinha de escanteio, colocada em apoio ao movimento LGBTQIA+, ao comemorar o gol contra o Brusque, no último domingo, pela Série B do Brasileiro, foi mais um destes casos. A celebração, inclusive, acabou reforçando as manifestações do clube pela pauta e ganhou grande repercussão, com direito a manchetes também fora do país.
Ontem (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o jogador trocou a foto de perfil nas redes sociais e publicou um desenho que fez menção à atitude no dia anterior. A foto daquele momento foi amplamente compartilhada por torcedores e até mesmo por rivais.
O ato pode ter ganho um eco ainda maior por conta de uma polêmica que ocorreu horas antes de a bola rolar. Pouco após o Cruz-Maltino divulgar um manifesto contra homofobia e transfobia no esporte, o zagueiro Leandro Castán, capitão da equipe, fez uma publicação em rede social com uma citação bíblica que continha trechos como "sejam férteis, multipliquem-se e encham a terra". Questionado, o Vasco destacou "respeito às individualidades".
Recentemente, Cano protagonizou um leilão beneficente com peças — uma camisa de jogo, um par de chuteiras e uma jaqueta corta-vento —, e o valor arrecadado foi revertido integralmente em doações à comunidade do Tuiuti, que é vizinha ao estádio de São Januário. O próprio jogador foi fazer a entrega.
Em campo, o camisa 14 se mostra um dos melhores investimentos feitos pelo clube recentemente. Com 35 gols até aqui, ele alcançou duas importantes marcas na Colina: tornou-se o maior artilheiro estrangeiro do Século 21 e o maior artilheiro argentino na história do clube. Na caminhada para o primeiro recorde, ultrapassou o sérvio Petkovic, que defendeu o Cruz-Maltino em duas passagens entre 2002 e 2004 e fez 28 gols. Já no segundo, deixou para trás Alfredo González, que atuou entre 1940 e 1941, e balançou a rede 30 vezes.
A comemoração com um L nas mãos, em homenagem ao filho Lorenzo, já fez até com que uma espécie de slogan fosse criado —e o "faz o L" se tornou uma frase conhecida entre os vascaínos.
Da chateação à foto histórica
Ao apito final, as contas oficiais do Vasco nas redes sociais publicaram uma foto que Galarza e Sarrafiore estão ao lado de Cano, que está erguendo a bandeirinha de escanteio sob a luz. Autor do registro, Rafael Ribeiro, fotógrafo do clube, conta que, pouco antes, estava chateado pelo fato de não ter conseguido pegar o chute que gerou o gol. Porém, segundos depois, eternizou um ato histórico.
"Na hora do gol, estava editando uma foto no computador e meu kit de jogo na mão, Câmera +300mm. Não consegui pegar ao certo o chute e fiquei muito chateado ali naquele segundo, até porque eu não imaginava o que estaria por vir. O Germán veio caminhando na direção da bandeirinha de escanteio, comemorando e como já estava perto, troquei de câmera rapidamente e segui clicando. Usei uma Canon 5D Mlll + 70-200mm para fazer a foto e contei com a composição perfeita da bandeira do orgulho LGBTQIA+, a iluminação e a ação do atleta em sua comemoração", contou, ao UOL Esporte.
"Na hora, eu nem imaginei o peso que teria essa foto, mesmo tendo pensado nisso por dias. Quando a enviei para postagem, já me parabenizaram e, assim que foi postada, recebi mais de 500 mensagens de apoio e felicitações. Recebi ligações, menções nos principais canais esportivos em seus programas, postagens em jornais impressos, links de postagens pelo mundo, muitas mensagens de torcedores de outros clubes", lembra.
Camisa fez sucesso
Dentre as ações do Vasco, houve o lançamento de uma camisa com a faixa transversal, originalmente preta ou branca, colorida. A peça esgotou rapidamente e o clube prepara uma nova remessa.
Vitor Roma, vice-presidente de marketing, ressaltou que o projeto foi muito cuidadoso e não houve vazamentos antes da divulgação oficial, o que também teve peso na comercialização.
"Fizemos um primeiro lote de vendas, que acabou em poucas horas. O modelo de venda de camisas no Brasil tem problemas, porque depende do apetite do lojista em comprar. Como guardamos a camisa a sete chaves, ninguém viu antes, todo mundo só viu no fim de semana do lançamento, foi um projeto muito, muito cuidadoso, o lojista não viu e comprou menos do que a torcida do Vasco é capaz de vender. Agora, teremos uma segunda leva, com outras surpresas mais. Não estamos nem traçando expectativas, mas acreditamos que vá esgotar de novo. Tenho certeza que, no final, quando medirmos os números, vai estar entre os grandes cases de lançamento de camisas no Brasil", disse.