Futebol

Vasco revoluciona o Carioca em 1923

A revolução no futebol carioca foi preta e branca, as cores do Vasco. Segundo o jornalista Mário Filho, autor do livro \"O Negro no Futebol Brasileiro\", de 1906 a 1922 nenhum clube havia sido campeão carioca com negros em suas equipes. Bem poucos jogavam e estavam restritos aos times do Bangu e do América.

Tal panorama mudou em 1923, quando o Vasco, fundado em 1898 para o remo e que já era campeão nas regatas, chegou à Primeira Divisão. Diferentemente dos times de elite, o Vasco tinha mulatos, negros, pobres e analfabetos.

Título vascaíno causa polêmica na década de 20

Comandada pelo uruguaio Ramon Platero, a equipe vascaína fazia treinos físicos e se concentrava, ao passo que os rivais iam às noitadas. À medida que os \"camisas pretas\" (assim apelidados por causa da cor da camisa) dominavam a competição, a polêmica crescia. O futebol era amador, mas o Vasco pagava gratificações por vitórias, o que levava os críticos a acusá-lo de profissionalismo disfarçado.

Quanto mais o time vencia, mais os estádios enchiam, em resposta ao futebol elitizado. Apesar das críticas e acusações, o Vasco foi campeão de 1923, em sua estréia entre os grandes, com Nélson, Leitão e Mingote (Cláudio); Nicolino, Bolão e Arthur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito.

Para Mário Filho, ainda em \"O Negro no Futebol Brasileiro\", aquele título vascaíno \"era uma verdadeira revolução que se operava no futebol brasileiro\". Terminado o campeonato de 1923, o futebol carioca entrou em crise. Fluminense, Botafogo, Flamengo e América criaram uma nova entidade, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (Amea) e fizeram uma série de exigências aos clubes interessados. Entre elas, os atletas não poderiam ter profissões consideradas inferiores nem ganhar dinheiro para jogar.

Para entrar na Amea, os clubes teriam de eliminar atletas em condições duvidosas, exatamente pobres, negros, subempregados e analfabetos. Havia preconceito social e racial. Forçado a eliminar 12 atletas para ser aceito, o Vasco se recusou a fazê-lo, permanecendo na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Com isso, em 1924, houve dois campeonatos: o da Amea, vencido pelo Fluminense, e o da LMDT, pelo Vasco.

Em 1926, ridicularizado por não ter estádio, o Vasco coletou dinheiro entre torcedores para comprar um terreno em São Cristóvão, onde ergueu, em 1927, São Januário, maior estádio do Rio até a abertura do Maracanã, em 1950. Em 1926, o São Cristóvão ganhou seu único estadual.

Botafogo não aceita o profissionalismo

Na década de 30, o futebol do Rio enfrentou sua pior crise: a do profissionalismo. Antes desse regime, era comum craques irem para clubes profissionais no exterior. Em 1932, já na seleção brasileira, Leônidas da Silva e Domingos da Guia foram jogar no Peñarol e no Nacional, do Uruguai.

Em 1933, Fluminense, América e Bangu lideraram a profissionalização. Até então, jogadores ganhavam dinheiro extra-oficialmente. Mas o novo regime não foi aceito por todos. O Botafogo continuou amador, na Amea. Fluminense, Flamengo e Vasco aderiram à Liga Carioca de Futebol (LCF), profissional. De 1933 a 1936, houve dois campeões por ano.

O Botafogo ganhou em 1932 (na AMEA, antes da cisão), 1933 e 1934 (AMEA) e 1935 (Federação Metropolitana de Desportos, a FMD, que já aceitava profissionais). Em 1936, o campeão da FMD foi o Vasco. Na Liga Carioca de Futebol, em 1933, o vencedor foi o Bangu; em 1934, o Vasco, e em 1935, o América e em 1936, o Fluminense.

A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) era pró-amadorismo, e a Federação Brasileira de Futebol (FBF), profissional. Filiada à Fifa, a CBD não convocou para a Copa do Mundo de 1934 jogadores de times profissionais.

A pacificação do futebol se deu em 1937, por iniciativa de Vasco e América (chamado por isso Clássico da Paz). Foi criada a Liga de Futebol do Rio (LFRJ), profissional. Com o profissionalismo, atletas negros e de classes mais baixas puderam atuar em clubes da elite. Não eram sócios, mas empregados que entravam por portão específico. Em 1936, o Flamengo contratou Leônidas da Silva, Domingos da Guia e outros jogadores negros, que até então não eram bem vistos. Com isso, começava a granjear a popularidade que tem hoje.

Fonte: ge
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