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Vasco sugeriu medidas de segurança antes da interdição de São Januário

Muito antes da ordem para interditar São Januário, reação da Justiça do Rio de Janeiro aos episódios de violência depois da derrota para o Goiás, há uma semana, o Vasco pediu ajuda de autoridades para garantir a segurança nos jogos no estádio.

"Todas as tentativas restaram frustradas", alegou o clube no processo que corre no Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos. Nesta quinta, o Vasco derrubou parcialmente a liminar e recebeu autorização para jogar em São Januário com portões fechados, mas ainda terá que aguardar o desenrolar da ação para voltar a contar com torcida.

Nos últimos meses, o Vasco procurou o próprio Ministério Público (autor da ação que interditou o estádio), o Tribunal de Justiça do Rio, o Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (BEPE) e o Ministério da Justiça para pedir a lista de torcedores impedidos de frequentar estádios. O objetivo era facilitar o cruzamento com a base de dados do novo programa de sócio-torcedor, lançado em abril.

Em vez de haver uma relação única, os clubes atualmente recebem essas informações de forma desordenada, com ordens variadas e decisões judiciais oriundas de diferentes tribunais.

Nesse período, o Vasco fez contato duas vezes com o promotor Rodrigo Terra. Em nome do MP, Terra é o autor do pedido que o tribunal acatou para suspender as atividades em São Januário. Ele também foi o responsável pela ação pública que interditou o estádio em 2017, após os episódios de violência ocorridos num clássico contra o Flamengo pelo Brasileirão.

Primeiro, o Vasco encaminhou ao promotor a solicitação dos dados dos torcedores banidos, num ofício assinado por Gisele Cabrera, diretora-jurídica da SAF vascaína. A esse pedido, ele respondeu apenas que o Ministério Público não possui essa listagem - e, em contato com o ge, reforçou que requerimentos dessa natureza precisam passar pelo sistema de distribuição interna do MP porque existem promotorias com atribuições concorrentes.

Em seguida, o Vasco elaborou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com o objetivo de firmar um acordo para garantir o controle de torcidas organizadas e combater a ação de cambistas. O pacto de cinco páginas e sete cláusulas sugeria algumas ações, tais quais:

  • Não disponibilizar ingressos para torcidas organizadas em forma de lotes que não sejam aptos a identificar os torcedores
  • Desenvolver modalidade específica de sócio para atender a "entidades associativas lícitas"
  • Suspender o cadastro de torcedores que cumprem medidas sociais ou administrativas de afastamento dos estádios

O TAC teve seu modelo inspirado no acordo que Cruzeiro e Atlético Mineiro firmaram com o Ministério Público de Minas Gerais no mês passado, que determinou força-tarefa para identificação de torcidas organizadas no estádio e visa a redução no número de casos de violência em jogos no estado.

No dia 31 de maio, o Vasco levou o TAC ao conhecimento do MP do Rio. Procurado pelo clube, o promotor Rodrigo Terra respondeu que nada faria "diante da ausência de inquérito civil, procedimento administrativo e/ou ação civil pública", de acordo com os advogados vascaínos.

Diante desse cenário, o Vasco alega que recebeu com incredulidade a notícia da interdição de São Januário, a pedido do Ministério Público, na sexta-feira passada. A decisão do juiz Bruno Arthur Mazza foi assinada às 21h05, menos de 24h depois dos acontecimentos posteriores à derrota para o Goiás.

Ao ge, o promotor Rodrigo Terra afirmou que esteve "sempre plenamente disponível" ao clube e disse:

- Esperamos a colaboração do Vasco para a conclusão dos trabalhos da perita, assim como pela implementação das medidas que ela concluir serem necessárias para garantir a segurança do torcedor (em São Januário).

"Manifestações preconceituosas"

O maior incômodo no Vasco relacionado ao processo foi o relato de Marcello Rubioli, magistrado do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos que estava de plantão em São Januário no dia do jogo contra o Goiás.

Ele citou a proximidade do estádio às comunidades como argumento para a falta de segurança no local e definiu as pessoas envolvidas na confusão como "horda de torcedores enfurecidos", como é possível ver nesse trecho:

"Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio.

São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio. No dia relatado, uma horda de torcedores enfurecidos gerou verdadeiro quebra-quebra do lado externo, e, após algum tempo arrombou portões para ingressar no estádio e auxiliar os lá presentes a gerar devastação e agressões.

De outro lado, a baderna iniciou-se na parte interna do estádio, ao fim do jogo".

O relato do juiz foi anexado ao processo e contribuiu tanto para a decisão de interditar o estádio quanto para o indeferimento do primeiro pedido de recurso do clube, durante o plantão judiciário. O Vasco associativo, em resposta, emitiu um comunicado repudiando o que considerou "manifestações preconceituosas".

- Condicionar uma área popular, uma comunidade ou uma favela, a atos de violência ou degradação moral é absolutamente inaceitável - afirmou o clube.

Fonte: ge
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