Não deixa de ser irônico: Guarín, inegavelmente técnico com a bola nos pés, talvez o meio de campo mais virtuoso do elenco, colabora para que o Vasco tenha ficado menos com ela nas últimas partidas pelo Brasileiro. Há uma relação entre a presença dele em campo e a queda nos números do fundamento, por mais estranho que pareça.
Guarín emplacou contra o Fluminense o terceiro jogo como titular. Contra Ceará, Grêmio e o Tricolor, o Vasco teve 36,1%, depois 43,9% e por fim 34,3% de posse, respectivamente. Em média, 38,1%. O número médio geral do Vasco na Série A é de 42%.
Não é coincidência. Guarín finaliza muito, bate bem na bola e tem visão de jogo, mas enfraquece o meio do Vasco na marcação. Sua média é de 2 desarmes por partida, um pouco mais do que o 1,8 de Raul e o 1,7 de Marcos Júnior, com uma diferença: soma cinco partidas pela equipe na Série A, contra as mais de 20 dos companheiros de elenco, o que favorece seu índice.
Uma comparação entre os mapas de calor de Guarín e Marcos Júnior no clássico contra o Fluminense, disponíveis no site "Footstats", expõe a diferença de dinamismo e intensidade. Cada um jogou um tempo no Maracanã, mas o meia vindo do Bangu participou mais do jogo e apareceu em mais partes do campo.
É aí que surge o problema: com a perda do poder de marcação decorrente da presença de Guarín no campo, o Vasco tem mais dificuldades para roubar a bola. Sem conseguir tirar a redonda do adversário, o time fica mais suscetível a ser pressionado no campo de defesa, como aconteceu nas últimas três partidas. Foi visível nos últimos jogos como a retomada de bola aconteceu geralmente ao fim da jogada adversária ou num desarme já na última linha defensiva.
Guarín tem bom domínio, capacidade de finalização, passes e lançamentos. Tudo isso é fundamental para que um time tenha mais o controle do jogo, ao lado de bons números de posse de bola. Porém, o paradoxo se faz justamente aí. Os predicados vão na contramão do estilo de jogo da equipe, de transição veloz para o ataque, de aposta na correria dos três homens de frente. Ou seja: servem pouco para o Vasco de Vanderlei Luxemburgo.
A oito partidas do fim do Campeonato Brasileiro, é altamente improvável que o treinador vá mudar tão bruscamente a forma de o Vasco tentar o gol adversário. Ao mesmo tempo, Luxemburgo aposta muito em Guarín. Ainda que tenha feito uma mea-culpa quanto à sua escalação contra o Fluminense, o técnico parece disposto a mantê-lo entre os titulares contra o Palmeiras, quarta-feira, em São Januário.
Luxemburgo tem esperança de que o colombiano de 33 anos vá ganhar mais ritmo de jogo. O problema é que o tempo é curto: Guarín estava inativo desde julho, não é mais nenhum garoto e vem de três temporadas e meia no futebol chinês, conhecido pela baixa intensidade de jogos e treinamentos. Pode ser um trunfo para 2020, mas agora ainda é incógnita.