Junto com as novas camisas pretas, o terceiro uniforme que faz alusão à luta pioneira do
clube contra o racismo e discriminações no esporte brasileiro no começo do século passado,
o Vasco entregará hoje ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro
mandatário negro daquele país, uma carta em que vai enfatizar o fato de ter sido o primeiro clube campeão carioca com atletas negros e oriundos das classes populares, rejeitados no Flamengo, Fluminense e Botafogo. O futebol, que chegara ao Brasil no fim do século 19, era um esporte racista, elitista, britânico e amador.
Achamos que seria importante ele (Obama) conhecer a história do Brasil e o Vasco está
inserido nela. A luta contra o racismo faz parte da história do Vasco e reforça o que o clube fez no passado diz o presidente Roberto Dinamite. Daí a iniciativa da carta. Ele é o primeiro presidente americano negro. O que estamos fazendo nada tem a ver com o Flamengo.
Na mira de Fla e Flu
No documento a ser entregue a Obama, e que deverá ser lido pelo governador e vascaíno Sérgio Cabral, está traduzida para o inglês a carta de 7 de abril de 1924 enviada pelo então presidente do Vasco, José Augusto Prestes, a Arnaldo Guinle, presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Nela, diante da pressão para eliminar 12 atletas negros e pobres, sob pena de não ser aceito na AMEA, o líder vascaíno diz não a essa instituição, preferindo permanecer na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, outro campeonato. Antes, o Vasco tivera um presidente negro, Cândido José Araújo, em 1904, algo inédito nos demais clubes cariocas.
Abaixo, a carta a Obama:
A gloriosa história do Club de Regatas Vasco da Gama, tradicional e famoso clube poliesportivo do Rio de Janeiro fundado em 1898, está repleta de importantes conquistas sociais e esportivas no futebol. O Vasco da Gama venceu a Série B do Campeonato do Rio de Janeiro em 1922 e ascendeu à Série A no ano seguinte. Em sua primeira participação em 1923, o Vasco conquistou o título da Série A com uma equipe formada por jogadores brancos, negros e mulatos de diferentes classes sociais.
Em consequência disso, em 1924, o Vasco foi pressionado pela Liga Metropolitana (LMDT) a banir alguns jogadores que não eram considerados aptos a jogar na liga aristocrática, notavelmente porque eles eram negros, mulatos e/ou pobres. Depois da recusa do Vasco a se curvar a esta exigência, os outros clubes, com influências racistas, criaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA) e proibiram o Vasco de participar dela, a menos que cumprisse suas exigências.
O então presidente do Vasco, José Augusto Prestes, respondeu com uma carta que se tornou conhecida como a Resposta Histórica, que revolucionou nosso clube. Nós reproduzimos a brilhante carta de nosso presidente, um documento que representa nosso espírito corajoso, pioneiro e independente, e, acima de tudo, o etos (a identidade, a essência) de justiça social do Club de Regatas Vasco da Gama.
A presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, vai receber Obama, mas não sabe quanto tempo terá com o presidente americano. O clube já preparou a camisa 10 com o nome Barack Obama às costas. Ontem, o Fluminense revelou que também pretende entregar uma camisa ao presidente dos Estados Unidos, mas ainda não sabe como.
Nossos rivais saíram na frente por uma questão de logística, mas não faz mal. Vamos continuar pensando em uma maneira de entregar a camisa tricolor ao Obama mesmo assim afirmou o vice-presidente de relações institucionais, Alexey Dantas.
(Matéria reproduzida diretamente da versão papel do Jornal Lance)