Após assinar memorando de entendimento com a 777 Partners e receber parecer favorável do Conselho Fiscal, o Vasco inicia hoje (24), a partir das 19h, a primeira etapa junto aos conselheiros no objetivo de vender sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O Conselho Deliberativo se reunirá para votar a aprovação - ou não - do chamado "empréstimo-ponte" de R$ 70 milhões da empresa norte-americana, já num sinal de ajuda ao clube e que, se for aprovado, se torna um adiantamento do total de R$ 700 milhões prometidos nos próximos três anos.
Porém, diferentemente de Botafogo e Cruzeiro, que venderam suas SAF's num processo interno de quase unanimidade, o Cruz-Maltino encontrará resistência, e o presidente Jorge Salgado precisará utilizar de jogo político para obter a sinalização positiva dos conselheiros.
No cenário atual, a tendência é a de que a maioria do Conselho aprove, no entanto, ainda há focos bem claros de opositores ao projeto (ainda que em menor número). Especificamente grupos políticos simpatizantes do ex-presidente Eurico Miranda, do ex-candidato à presidência Leven Siano e do ex-presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro.
Monteiro, aliás — provando que não vai aceitar de maneira pacífica a mudança — protocolou, ontem (23), na secretaria de São Januário, uma notificação contra o pré-acordo assinado entre as partes. O ex-dirigente também deixou claro que ingressará com ação na Justiça caso a reunião seja realizada hoje.
Estatutariamente, o Vasco possui 150 conselheiros natos e outros 150 eleitos. Dos que foram indicados via última eleição, 120 são da chapa vencedora — no caso a de Jorge Salgado — e outros 30 da segunda colocada, que teve o candidato Julio Brant.
O bloco dos 120 de Salgado deverá votar de maneira uniforme pela aprovação. A maioria dos líderes dos grupos que compõe a base de apoio, por exemplo, já se manifestaram favoravelmente à SAF, tendência que provavelmente ocorrerá também com os aliados de Brant, principalmente após o ex-candidato declarar publicamente concordar com os moldes em que a Sociedade Anônima do Futebol do clube será vendida à 777 Partners:
Há dois meses propus a pré-SAF, algo na linha do que foi apresentado pela diretoria. Isso significa que sou favorável ao modelo (tanto que o propus). Mas a Assembléia Geral, ou seja, o conjunto dos sócios do Vasco, deve sempre ser ouvida para legitimar o processo histórico.
— Julio Brant (@jcbrant) February 23, 2022
Considerando este cenário, a aprovação do empréstimo deverá ocorrer mesmo que muitos conselheiros natos votem contra. Cabe, aliás, ressaltar ainda que, historicamente, os 150 natos nunca se fazem 100% presentes nas reuniões do Deliberativo, o que aumentam as chances dos R$ 70 milhões serem aprovados.
Primeiro vice-presidente geral e que assumiu interinamente a presidência da Diretoria Administrativa, enquanto Jorge Salgado estava em Miami (EUA), Carlos Osório tem sido o principal "player" entre os dirigentes a fazer o "meio de campo político" com os grupos de situação e oposição.
Com o sinal positivo por parte do Conselho, a 777 Partners tem até uma semana para transferir a quantia, mas há um entendimento entre as partes para que isso ocorra já amanhã (25).
A Vasco TV transmitirá a reunião do Conselho Deliberativo desta quinta-feira (24) ao vivo em seu canal no YouTube.
O que o Vasco fará com os R$ 70 milhões?
Caso o empréstimo-ponte seja aprovado, o Vasco utilizará os R$ 70 milhões de variadas formas. A mais emergencial será a regularização do pagamento de salários e pendências aos fornecedores. Parte da verba também será destinada aos acordos com o Regime Centralizado de Execuções (RCE) e com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN).
Uma outra parte será separada para a contratação de reforços de mais peso para a disputa da Série B com o objetivo de se formar um time competitivo em busca do acesso.
E se o empréstimo-ponte não for aprovado?
Caso o empréstimo-ponte não seja aprovado pelo Conselho Deliberativo hoje, os R$ 70 milhões se tornarão um empréstimo comum, com juros e correção monetária, a serem quitados pelo Vasco até 16 de setembro. Uma das garantias oferecidas pelo clube - em informação obtida pelo "ge" e confirmada pelo UOL Esporte — foi a cessão de quatro jogadores. Seus nomes, no entanto, não foram revelados.
O que vem após a aprovação do empréstimo?
Uma das contrapartidas do empréstimo-ponte é a exclusividade de 90 dias que a 777 Partners terá para avaliar a possibilidade de uma proposta vinculante. Paralelamente a isso, o Vasco se organizará para uma nova reunião extraordinária do Conselho Deliberativo, desta vez para aprovar a venda - ou não - da SAF para o grupo norte-americano.
Se os conselheiros aprovarem, o Cruz-Maltino irá, enfim, para a última etapa do processo burocrático, que será a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), quando os sócios estatutários do clube votarão sobre a venda para a 777 Partners.
Se o processo receber sinalização positiva dos associados, o Vasco já receberá um novo aporte, desta vez de R$ 120 milhões, também descontados do total de R$ 700 milhões.
Os norte-americanos também pretendem investir na reforma e modernização de São Januário e dos centros de treinamento para os profissionais, divisões de base e futebol feminino. A empresa também se compromete a assumir a dívida do clube, hoje calculada na casa dos R$ 700 milhões. Com isso, todo a operação poderá ultrapassar a casa do bilhão.
Tema agita universo político do Vasco
O assunto tem mexido bastante com o universo político vascaíno. Enquanto a maioria dos grupos já está se manifestando favoravelmente à venda da SAF, outros convocam manifestação para 5 de março, em frente a São Januário, com o intuito de protestar contra o projeto. Estão à frente desta convocação grupos políticos e youtubers simpatizantes do ex-presidente Eurico Miranda, do ex-candidato Leven Siano e do ex-presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro.
Por outro lado, a "Força Jovem", maior organizada do clube e que está suspensa dos estádios brasileiros desde 2014 pelo Ministério Público, emitiu uma nota oficial onde se mostrou favorável à venda da SAF para os norte-americanos, cobrando responsabilidade dos conselheiros e que os votos sejam abertos.
Em contrapartida, exige que a torcida tenha acesso aos detalhes do contrato. A organizada "Mancha Negra" também já se manifestou a favor. Veja abaixo o comunicado da "FJV":