Marcante por onde passou, sem vaias ou críticas. É assim que o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva define sua carreira. Uma trajetória que terá um dos seus pontos altos a partir do próximo dia 8 de junho. O atacante do Shakhtar Donetsk está entre os convocados da Croácia para a Eurocopa.
Apesar de estar desde 2006 na seleção principal do país, esta vai ser a primeira competição importante que vai disputar. Antes da Eurocopa de 2008, Eduardo, no Arsenal, era dado como certo para o torneio. Porém, em fevereiro daquele ano, em um jogo do Campeonato Inglês, ele sofreu uma fratura exposta na fíbula esquerda ao ser atingido pelo zagueiro Martin Taylor, do Birmingham. Perguntado se \"tirou o pé\" de alguma dividida na reta final do último Campeonato Ucraniano, conquistado pelo Shakhtar, o atleta, único jogador nascido no Brasil ao lado de Pepe (Portugal) que vai disputar a Euro, mostrou bom humor.
- Não (risos). Não precisava tanto. Eu voltei agora na reta final do torneio depois de uma lesão muscular. Lógico que um filme passa na cabeça. É a minha primeira competição importante pela seleção principal da Croácia. A gente pode se lesionar um dia antes da competição, ou um mês antes. Faz parte.
A fatídica entrada de Martin Taylor em Eduardo da Silva, em fevereiro de 2008 (Foto: Reuters)
Hoje com 29 anos, Eduardo saiu do Brasil aos 16 após ser observado por olheiros do Dínamo de Zagreb. No clube da capital croata, o brasileiro deu um tempero especial à fria Croácia. Ele ficou no clube de 1999 a 2007, sendo campeão nacional em 2006 e 2007. Destaque, passou a defender a seleção de base do país em 2004 e, em 2006, passou para a principal, quando virou notícia também aqui no Brasil. Lugar que ele não sabe se quer voltar como profissional. O jogador até revelou o time que torcia quando era criança, mas afirma que hoje separa a razão da emoção.
- Não sei mesmo (se quero voltar). Tudo é diferente, o comportamento dos torcedores, dos repórteres. Nunca passei por momentos de pressão grande. Por onde passei, sempre conquistei coisas. Nunca passei por críticas. A mentalidade aí é diferente. Os repórteres entram em campo. Aqui tem uma área reservada. Meu time de criança é o Vasco, que eu vi ser campeão da Libertadores, Brasileiro. Mas hoje sou profissional, separo bem as coisas.
Confira abaixo o bate-papo na íntegra com Eduardo da Silva:
Eduardo da Silva em ação pela seleção da Croácia. Atacante está ansioso para a Eurocopa (Foto: AP)
GLOBOESPORTE.COM: Ainda dá aquele frio na barriga antes da convocação?
Eduardo da Silva: Não mais. Já era esperado. Já estou desde 2004 nas seleções de base, e comecei em 2006 na principal. Quando estou bem de saúde, sempre sou convocado. Mas a ansiedade para disputar o torneio é enorme. É uma sensação boa. A cada competição, a Croácia vem demonstrando que é uma seleção forte. Há anos que não saímos do top 10 da Fifa.
Quais são as seleções favoritas na Euro na sua opinião?
São sempre as mesmas. Espanha, Holanda e Alemanha. Sempre tem uma zebra. Espero que seja a gente. Hoje em dia o futebol está muito diferente. Um time que ninguém espera pode chegar lá e ganhar.
Fez algum cálculo para a Croácia avançar de fase?
Nosso calendário está exatamente como a gente queria. O último jogo é contra a Espanha, e o primeiro é contra a Irlanda. Acho que dá para classificar com quatro pontos. Uma vitória contra a Irlanda e um empate com a Itália vão ser importantes.
Você vê uma vitória certa contra a Irlanda?
Não. Temos o grupo mais difícil da Euro. Acho que o mais difícil para nós vai ser avançar de fase. Se conseguirmos isso, vai facilitar e vamos ficar mais fortes. A Irlanda tem um treinador experiente, o Trapattoni, com jogadores que, na maioria, atuam no Campeonato Inglês. A gente já sabe que não vai ter vida fácil.
O atacante com a camisa do Shakhtar. Sucesso na Ucrânia também (Foto: Getty Images)
Contra a Itália, na segunda rodada, é jogo mais importante então?
Sim, é o jogo decisivo. A gente vê a Espanha como a favorita. Temos que ter muita sorte para vencer a Espanha. Nosso goleiro vai ter que estar em um dia fenomenal, e os atacantes deles não vão poder acertar nada. Nosso chute vai ter que entrar na primeira oportunidade.
Com quem você se dá melhor na seleção da Croácia?
Tem o Corluka (Leverkusen) e o Ognjen Vukojevic (Dínamo de Kiev), com quem eu joguei junto no sub-21 da Croácia e no Dínamo Zagreb. Somos companheiros de quarto. É um grande amigo.
Como é o treinador Slaven Bilic?
Ele é super legal, amigo, dentro e fora de campo. Uma pessoa que gosta de conversar com os jogadores pessoalmente. Ele se aposentou dos gramados há pouco tempo, então entende bem os jogadores. Ele é um treinador moderno, sem querer desmerecer os outros. Mas ele treina, brinca, cria uma atmosfera diferente. Ele muda o esquema tático de jogo para jogo.
Como você está no Shakhtar? Tem vontade de voltar à Inglaterra?
Foi uma temporada tranquila, minha segunda na Ucrânia. E fomos campeões novamente. Estou muito bem adaptado aqui, é uma estrutura fantástica no clube. No momento, estou tranquilo aqui. Não sei, sinceramente, sobre o meu futuro. Se eu estou aqui, um dia posso voltar. Você é o quarto jornalista que me pergunta isso, o primeiro brasileiro. Claro que jogar na Premier League é diferente de tudo: estádio e torcida são fenomenais.
Como é o relacionamento com os brasileiros do Shakhtar? O que vocês fazem para se divertirem?
São muitos brasileiros no time. O futebol na Ucrânia está crescendo muito. O Shakhtar tem muitos brasileiros, deve ser o clube estrangeiro que mais tem brasileiros. Quando está frio, não tem como, a gente se esconde. Mas quando está calor, como agora, a gente sai para jantar.
E a fama do Neymar já chegou na Ucrânia e Croácia?
Ele é mundialmente conhecido, no mesmo nível que Messi e Cristiano Ronaldo. A dúvida que existe em relação a ele na Europa é se ele vai render o mesmo por aqui. Se ele quiser ser o melhor do mundo mesmo, vai ter que jogar na Europa.
Eduardo da Silva vai disputar a primeira competição importante com a camisa da Croácia (Foto: AP)