Em agosto de 2020, a morte de Valentino Blas Correas chocou a Argentina. O adolescente, de 17 anos, foi assassinado por policiais, o que acarretou na campanha "Justiça por Blas" em todo o país. A causa tocou um personagem que está em alta no Vasco: o centroavante Pablo Vegetti se uniu à família do garoto e, desde então, destaca a luta em todos os jogos que atua.
A cena, que se repete desde os tempos de Belgrano, também se faz presente no Vasco. No vestiário, perto do uniforme de jogo, Vegetti coloca outras duas camisas: uma personalizada por Valentino Blass em homenagem ao atacante e outra em que pede justiça pelo garoto.
O ge conversou com a mãe de Blas, Soledad Laciar, para entender a luta por justiça que move Vegetti.
- É ele (Vegetti) quem me conecta com Blas - disse a mãe.
O caso
No dia 6 de agosto de 2020, Blas voltava de um bar com quatro amigos no carro. Após uma tentativa de assalto, os jovens se assustaram, aceleraram o carro e não pararam em uma blitz policial. A atitude foi respondida pela polícia com vários disparos de arma de fogo, um dos quais entrou pelo vidro traseiro e atingiu as costas de Blas.
Os amigos levaram Blas a um hospital de Córdoba, o Sanatorio Aconcagua, onde se recusaram a tratá-lo. Enquanto isso, a polícia "plantou" uma arma no local do crime para simular um confronto que nunca aconteceu.
- O que quero é que não haja outra família chorando nos cantos porque não tem mais a sua cara-metade, que não tenha que haver outro Pablo Vegetti pedindo justiça. Do meu humilde lugar de mãe eu quero que haja justiça e farei o impossível para que assim seja - afirmou Sole, que frisou:
- A polícia de Córdoba deveria estar lá para cuidar de nós, não para nos matar.
Três anos depois, em abril deste ano, 13 policiais foram condenados pelo assassinato de Blas, e a pena para os responsáveis pelos disparos foi prisão perpétua. Mas a luta da família de Blas segue em busca da responsabilização dos políticos envolvidos no caso.
- Não trataram Blas numa clínica, negaram-lhe isso. Eu também luto por isso, tem aí uma brecha legal importante, busco que as coisas melhorem. Não me interesso por política partidária e por isso é mais difícil. Mas também não quero me filiar a nenhum partido. Não me sinto identificada com nenhum - destacou a mãe de Blass, que seguiu:
- A parte difícil já terminou, com os culpados presos. Agora estamos na segunda parte, que é a parte política. Continuamos lutando, estamos num momento especial na Argentina, por causa das eleições, que são a única coisa que importa. Decidimos aproveitar todo esse tempo para continuar lutando para que haja justiça.
O envolvimento de Vegetti
Alguns meses após o ocorrido, Vegetti descobriu que Blas era seu fã por meio da mãe. O centroavante do Vasco recebeu uma mensagem de Sole nas redes sociais, ficou tocado pela história e se comprometeu a dar voz à luta da família por justiça.
- Vegetti era o ídolo do meu filho, meu filho sempre foi fanático pelo Belgrano. A vida toda. Quando Pablo chegou ao clube, alguns torcedores não gostaram da contratação. Meu filho o defendia. Ele usou o nome dele na sua camisa do primeiro ao último dia. Quando faleceu, os seus amigos vieram aqui em casa. Eu disse que eles poderiam levar tudo dele, não quis ficar com nada. Não me fazia falta. A única coisa que fiquei foi com essa camisa e uma mochila, que ele usava naquela noite - contou Sole.
A camisa que Sole guardou com tanto afinco é o uniforme do colégio do filho. Mas com um toque especial do garoto. Blas personalizou a vestimenta escrevendo "Vegetti te amo" bem grande na parte da frente. E é essa uma das camisetas que o centroavante leva aos jogos. A outra é uma que a família mandou fazer com a frase "Justiça por Blas".
- Nunca entendi o motivo de ter guardado a camisa, mas guardei e após alguns meses mandei ao Pablo uma foto do Blas usando a camisa. Ele me respondeu um tempo depois, e eu disse que achava que a camisa deveria ficar com ele. Ele me convidou para ir na sua casa e me disse que sempre levaria a camisa para os jogos. Inicialmente, não acreditei, achei que tinha falado para ficar bem. Ele não tinha nenhum motivo para fazer isso - declarou Sole, que completou:
- Blas, desde esse dia até hoje, acompanha o Pablo. Eu não tenho palavras para agradecer a ele, um ser incrível. Nestes três anos, ele me acompanhou em tudo que fiz, desde tentar dar visibilidade ao caso a ajudar em outras causas que pedi ajuda. Conheci a sua família, o seu pai, irmã, sobrinhos, esposa, o seu filho. Eu amo o Pablo com toda a minha alma.
- É ele quem me conecta com Blas. Toda vez que o Pablo entra em campo estou conectada com Blas e não com o pedido de justiça - concluiu a mãe de Blas.
Em 2022, Vegetti falou sobre o assunto em entrevista ao jornal "Perfil", de Córdoba:
- Peço que seja encontrado o responsável, cada pessoa deve assumir a responsabilidade pelos erros que cometeu. Foi o assassinato de um garoto que não fazia nada de errado, que se divertia com os amigos. Mataram-no e tem que haver culpados, tudo tem que ser esclarecido - declarou o centroavante do Vasco na ocasião.
Blas e o Belgrano
A paixão de Blas pelo Belgrano se acentuou com a chegada de Vegetti ao clube, em 2020. O adolescente se identificou de cara com o atacante e teve menos de cinco meses para acompanhar seu ídolo (entre 15 de março e 6 de agosto) até ser assassinado.
O clube une a história dos dois não só pela relação de fã e ídolo. Blas é neto de Miguel Laciar, histórico jogador e dirigente do Belgrano. Laciar, assim como Vegetti, foi goleador no time de Córdoba: com 91 gols, marcados entre 1970 e 1977, é o nono maior artilheiro da história do Belgrano.
Em menos de dois meses no Vasco, Vegetti se tornou personagem principal na retomada do time no Campeonato Brasileiro e já conquistou o carinho de milhares de torcedores, como aconteceu com Blas. O atacante tem seis gols em sete jogos pelo clube carioca.