Mais difícil que voltar a disputar a principal competição continental é prosseguir em suas fases. O Vasco sabe muito bem da primeira dificuldade, foram doze anos de espera pelo direito de voltar a disputar a Taça Libertadores. E agora, com o direito conquistado, o time se depara com o segundo desafio, o mais difícil, prosseguir na competição rumo às suas finais.
Na primeira fase, o time carioca enfrentou certas dificuldades. Na estreia, a derrota em casa serviu para assustar o time e apresentar as dificuldades que viriam pela frente. A classificação vascaína, porém, mesmo que em segundo lugar, mostrou que quem é grande sempre agirá como tal.
Classificado, o gigante da colina se deparou com um time argentino. Para avançar seria necessário vencer o Lanús. Com uma vitória em casa, uma derrota na Argentina, e uma vitória nos penais, o Vasco assegurou a sua vaga nas quartas de finais da competição. Nada mal para quem estava doze anos sem disputa-la. Mas totalmente comum, quando se tem a noção da grandeza do clube.
Nas quartas de finais, o time vascaíno enfrentará o seu primeiro adversário brasileiro na competição. E, coincidentemente, o maior rival na disputa do último título nacional, o Corinthians.
Com o duelo se aproximando, algumas dúvidas se tornam iminentes. A principal delas: o que pode fazer o Vasco para bater o último campeão brasileiro e avançar de fase? Como vão jogar as equipes? O que fazer para dessa vez o time cruzmaltino triunfar sobre os paulistas?
É nesse sentido, que a equipe do A Prancheta prepara este pré-jogo especial ao SuperVasco. Como vencer o Corinthians?
Como vencer o Corinthians?
Inicialmente, antes de sugerir coisas e aperfeiçoar estratégias, é preciso analisar como as duas equipes deverão jogar. A primeira parte do duelo terá como palco o estádio de São Januário. Sendo assim, o Vasco deve tomar a iniciativa do jogo para tentar criar uma vantagem para o segundo confronto.
É extremamente importante que se tenha em mente, porém, que a maior necessidade do time vascaíno é a de não tomar gol. Gols tomados em casa prejudicam muito os resultados gerais. Diante do Lanús, por exemplo, a situação poderia ter sido bem mais tranquila caso o gol tomado em casa não tivesse acontecido.
Não tomar gol não é, no entanto, o único objetivo. O fato de jogar em casa dá ao time a responsabilidade de colocar a bola na rede adversária, pelo menos uma vez. Por isso, os resultados que se devem objetivar são as vitórias sem gols sofridos. O que faz, portanto, com que o time jogue com um esquema que seja suficientemente equilibrado. Coeso defensivamente e eficiente ofensivamente.
A tendência é que o time de Cristóvão Borges inicie a partida em um 4-2-3-1. Mesmo esquema da segunda partida das oitavas de final, na Argentina, quando o time saiu derrotado de campo, mas vitorioso nos pênaltis. A única provável diferença é a troca de Juninho Pernambucano por Felipe no papel de trequartista (principal meia de criação, o central na linha de três armadores em um 4-2-3-1).
A mudança é parte de um procedimento que Cristóvão Borges vem utilizando para ter pelo menos um dos dois jogadores em todas as partidas. A alteração, porém, não deixa o estilo de jogo da equipe intacto. Felipe é muito mais criativo e técnico que Juninho, que, por sua vez, é mais dinâmico, participativo e tático que o maestro. Por isso, o revezamento dos dois jogadores mais experientes do elenco significa sim em uma mudança quase que diária de estilo de jogo.
Poderia, de fato, o Vasco reutilizar o esquema da primeira partida diante do Lanús, em São Januário, com Felipe e Juninho juntos. Essa, porém, não é a tendência, uma vez que na cabeça de Cristóvão Borges isso deixa o time vulnerável perante a um rival tão forte, como é o Corinthians. Tendo em vista, também, a forte necessidade em não tomar gols em casa.
Dessa forma, eis o provável esquema vascaíno:
O esquema tático vascaíno
Como qualquer outro esquema de jogo, o 4-2-3-1, mais provável esquema a ser utilizado, exibe prós e contras. O que se precisa analisar é se o esquema tem ou não boa identificação com as características do time e se ele cumpre o papel de encaixar as marcações no esquema rival.
No primeiro aspecto, tem-se a escalação vascaína: Fernando Prass; Fágner, Renato Silva, Rodolfo e Thiago Feltri; Rômulo e Nílton; Felipe, Diego Souza e Éder Luís; Alecsandro.
O que se precisa ter em um 4-2-3-1 é um meio de campo que faça muito bem a transição volantes-meias. Por esse aspecto, deve-se utilizar volantes que possuam boa capacidade de condução de bola entrelinhas. A Alemanha da última copa do mundo se caracterizou por um uso formidável de um 4-2-3-1 justamente porque possuía pelo menos um de seus dois volantes com boa saída de bola e aproximação dos meias, no caso Schweisteiger.
No Vasco não há muito bem a noção de quem possa fazer tal papel. Por mais que tente, Nílton avança linha com baixíssima qualidade. Rômulo até pode exercer esse papel, no entanto, também não tem características ideais e deixa a desejar.
É justamente por esse fator que o 4-2-3-1 nunca foi bem utilizado em São Januário. No ano passado o time se encaixou em um 4-3-2-1/4-3-3 planejado por Ricardo Gomes e otimizado por Cristóvão Borges. No entanto, em algumas partidas o time tentou se organizar no 4-2-3-1 e, na maioria das vezes obteve insucesso.
Outra característica importante para o sucesso de 4-2-3-1 é o papel dos dois extremos laterais da linha de 3. Esses devem obrigatoriamente, devido à disposição ofensiva do esquema, marcar. E marcar muito. Não existe 4-2-3-1 vitorioso quando os ponteiros não marcam.
No caso vascaíno, esse problema é pela metade. Enquanto o lado direito tem Éder Luís, que é especialista na posição, e preenche muito bem os espaços, voltando para marcar. Do outro lado, o esquerdo, tem Diego Souza que além de não ser especialista não é um jogador conhecido pela entrega na marcação.
Por essas duas problemáticas o 4-2-3-1 nunca deu certo nesse time do Vasco. Pode ser que isso mude. Pode ser que essa mudança ocorra justamente nesse duelo frente ao Corinthians. Mas que esses dois pontos se constituem em dificultantes, não há a menor dúvida.
TITEBILIDADE O CORINTHIANS
Se o 4-2-3-1, esquema que será utilizado no cruzmaltino, não é sucesso em São Januário, no Parque São Jorge a história não se repete. Desde que Tite chegou ao clube, o esquema é um dos pilares mais fortes do trabalho, inclusive sendo o esquema base do título nacional do último ano.
Sobre os fatores que dificultam a implantação de um 4-2-3-1 e que foram preponderantes para que o esquema não fosse eficiente no Vasco, o Corinthians os domina.
Primeiro quanto à transição volantes-meias. Nessa o timão possui Paulinho, um volante que chega muito bem a frente e consegue carregar a bola com eficiência para o trio de criação.
Segundo, sobre a marcação dos pontas. Nisso o Corinthians de Tite também domina. Desde que o treinador conseguiu implantar o seu estilo, a maior marca desse Corinthians passou a ser a marcação. Mas não uma marcação do sistema defensivo, somente. Mas a marcação de toda a equipe. Chega a ser impressionante, mas todos os jogadores costumam marcar com muita aplicação. E isso, logicamente, inclui os pontas, tornando mais um pré-requisito de sucesso do 4-2-3-1 atendido.
/ A equipe corinthiana exerce o que chamamos de marcação pressão, que ficou famosa com a filosofia desenvolvida por Jack Reynolds no Ajax, da Holanda, na primeira metade do século XX, e posteriormente aprimorada por Rinus Michels, aprendiz de Jack, juntamente com Johan Cruyff, nas décadas de 60 e 70, também no Ajax, e no selecionado holandês, formando um dos maiores times da história do futebol, que ficouconhecido como Laranja Mecânica, ou Carrossel Holandês, fazendo uso do Futebol Total.
No duelo frente ao Vasco, o time paulista utilizará do esquema já falado. A diferença da escalação do último jogo do Corinthians se dará pela troca de Willian por Jorge Henrique. A mudança contemplará o time de maior mobilidade, e exigirá maior atenção da zaga vascaína, uma vez que trocas e variações serão ainda mais constantes.
No novo modelo, o Corinthians deve se organizar da seguinte forma, com Alex, Danilo e Emerson variando bastante:
Sugestões: o que fazer para vencer o Corinthians?
Vencer o Corinthians de hoje, o Corinthians do ano passado, o Corinthians de Tite não é uma tarefa fácil. Além da escolha de uma estratégia ideal, deve-se ter a consciência de que haverá de ter uma disciplina tática sem igual. Uma marcação eficaz e de todos os jogadores é indispensável. É preciso anular as movimentações constantes e perigosas.
Ofensivamente, devido à marcação forte do rival, já dita aqui, é necessária muita velocidade. Velocidade nos passes, nos dribles, nas jogadas, na movimentação. Só a velocidade é capaz de burlar o bloqueio rival.
Perante isso, estrategicamente seria indicado o uso de um esquema um pouco mais maleável e menos arriscado que o 4-2-3-1. Dessa forma, seria indicado o uso de jogadores mais dinâmicos e voluntariosos.
No artigo Como vencer o Corinthians?, o A Prancheta prepara, então, um modelo de jogo considerado ideal para tal.
VASCO
- Esquema de jogo: 4-3-2-1. Por quê?
1º É o esquema que a equipe se mostra mais adaptada;
2º Fortifica o meio de campo e suas transições;
3º Minimiza os prejuízos de ter Diego Souza deslocado de sua posição preferida;
4º Consegue agrupar o maior número de jogadores de qualidade;
5º Favorece nas coberturas aos laterais.
- Escalação: Fernando Prass; Fágner, Renato Silva, Rodolfo e Thiago Feltri; Rômulo, Juninho e Felipe; Diego Souza e Éder Luís; Alecsandro. Por quê?
Pelo simples motivo de conseguir juntar o maior número de jogadores de qualidade, conseguindo aliar a técnica com um preenchimento espacial otimizado, que tem tudo para gerar solidez defensiva e eficiência ofensiva. Obtendo muita capacidade criativa no meio.
A advertência fica no modo de jogo, quando se tem convicção de que será necessária uma rápida troca de passes, acompanhado de uma movimentação efetiva, principalmente de Juninho e Felipe.
Fatos
Apesar de apresentar uma sugestão de esquema e escalação diferentes das de uso provável e discorrer sobre o mau retrospecto do 4-2-3-1, para triunfar na Libertadores, o Vasco de Cristóvão conta com armas poderosas.
Além de possuir um grupo homogêneo, entrosado e de qualidade, o time conta com um excelente comando técnico. Cristóvão Borges, embora erre bastante, é absoluto dentro de seu grupo de trabalho, conhece muito bem seu elenco, consegue estruturar o time de maneira equilibrada e organizada. Tem o que chamamos de controle da situação.
Entretanto, a maior arma cruzmaltina não vem de dentro de campo, nem banco de reservas. Mas das arquibancadas. Com apoio irrestrito de sua torcida, tudo tenderá a ser mais fácil. Tudo tenderá a ser otimizado.
Só com o apoio das arquibancadas, só com ele, a maior tática não será propriamente a tática utilizada, mas a tática necessária: a tática de jogar com o coração. Libertadores é assim. Tenha uma estratégia em mente mas, principalmente, um coração cheio de vontade de lutar. E de vencer.
Por Igor Rufini (Colaborou Arthur Barcelos) / Equipe A Prancheta
www.a-prancheta.com
Ilustrações: TacticalPad www.tacticalpad.com