Nesta quarta-feira, a partir das 22h, os votos dos sócios vascaínos vão definir a chapa vencedora da qual sairá o novo presidente do Vasco. A eleição - que é indireta, o novo presidente é eleito pelos conselheiros natos e eleitos e toma posse no dia 19 - é uma das mais polêmicas da história do clube de São Januário. Como já aconteceu em 2011, uma chuva de processos na Justiça e irregularidades põem em xeque a corrida eleitoral que pode até não terminar no fim da apuração dos votos - chapas devem contestar o resultado nos tribunais.
O GloboEsporte.com fez uma matéria com cada candidato. Nesta, o personagem é o ex-presidente Eurico Miranda. A entrevista realizada no fim de maio, em seu escritório no centro do Rio - na mesma semana, os candidatos definidos há mais tempo, Roberto Monteiro e Nelson Rocha, também foram entrevistados. Dirigente do Vasco desde o fim dos anos 1960, homem forte do futebol de 1986 até 2008 - foi presidente a partir de 2000 -, ele ganhou força com a decadência da gestão Dinamite, que tem duas quedas para a Segunda Divisão e deixa o clube com dívidas superiores a R$ 500 milhões.
O tema endividamento, aliás, é dos mais polêmicos. Dinamite não se cansa de dizer que paga até hoje dívidas deixadas por Eurico Miranda. Durante seu mandato ficou famosa a expressão herança maldita, que era rebatida pelos defensores e pelo ex-presidente.
- Não havia nada que não estivesse devidamente equacionado. Se eles deixaram de pagar, deixaram de cumprir, isso é outra coisa - responde Eurico.
O ex-presidente é candidato pela chapa “Volta Vasco! Volta Eurico” e é considerado o favorito a voltar ao poder, seis anos depois de ficar de fora da disputa contra Roberto Dinamite. Na ocasião, após o pleito de 2006 ser anulado na Justiça, participou como candidato do seu grupo político o recém-falecido Amadeu Pinto da Rocha, que perdeu para Dinamite nas urnas.
A polêmica adesão em massa de associados em março, abril e maio do ano passado não abala Eurico, que diz não ter qualquer participação sobre a campanha feita pelo seu grupo político e afirma que sequer era candidato à época. Ao seu velho estilo - entre perguntas e respostas, disse que “qualquer pessoa que diz que é contra o Eurico está errada” -, ele promete o retorno do respeito e um resgate das tradições do clube.
- Meu estilo é defender o Vasco como objetivo principal. Acima de muitas coisas. Ou de todas as coisas até. Coisa que é um erro. Esse meu estilo tem esse erro, porque tenho quatro filhos, sou casado com a mesma mulher há 45 anos, dediquei mais tempo ao Vasco que à minha família. Por quê? Talvez até forçado, mas, na verdade, a paixão que me leva a isso. Agora, muitas vezes fui obrigado, aquilo que chamam de truculência, não truculência, eu, pessoalmente, não tenho nada de truculento. Pelo contrário, nunca saí brigando com ninguém. Qualquer confusão que me meti foi sempre pelo Vasco. Nunca me meti em confusão por assunto particular.
Confira abaixo a entrevista com os principais tópicos para o triênio 2014-2017.
Candidatura
- A minha situação é muito clara em relação ao Vasco. A hora que me submeto ao pleito vou exigir e lutar, como tenho feito, para que as eleições se realizem dentro do estatuto do Vasco. Agora se ao final os sócios do Vasco entenderem que não devo voltar, tudo bem, pô. Já fui tudo no Vasco, tudo! Volto ao Vasco hoje por necessidade do Vasco. Se os vascaínos entenderem isso, se os sócios entenderem que eu posso resgatar o Vasco. Se eles entenderem isso, tudo bem. Se não, também tudo bem. Tenho sete netos, vou me divertir com eles. Antes, eu me candidatei, apoiei candidatura, participei de movimentos, com finalidade clara: de assumir o poder do Vasco. Hoje, a candidatura é no sentido de resgatar o Vasco.
Esportes olímpicos
- O nome do Vasco é Club de Regatas Vasco da Gama. Viável ou não viável, o nome é Club de Regatas Vasco da Gama. Se eu pensasse nisso (em acabar com esportes amadores), tinha que propor então mudar o nome do Vasco para Vasco da Gama Futebol Clube no estatuto. Vasco tinha a hegemonia no remo, vai voltar a ter. Vasco atingiu no basquete a posição que compete ao administrador buscar condições para que o Vasco volte a ter. Vasco não pode ter basquete para recreação. A tradição do Vasco é de time de basquete altamente competitivo. Não é participativo não, é de competir para ganhar. A outra: Vasco não pode ter Parque Aquático daquele para tomar banho de sol. As pessoas confundem. Você tem que buscar meios, incentivos, para retornar essas coisas. Qualquer pessoa que diz que é contra o Eurico está errada.
Dívidas, acordos e renegociações
- O Vasco teve que fazer acordo sobre dívida constituída por essa administração. Só dessa. Só rigorosamente dessa. O que tinha anterior estava toda na Timemania. As certidões todas estavam em poder do Vasco. Só que tem uma coisa simples. As certidões têm validade de seis meses. Se eles não tivessem as certidões não faziam o contrato com a Eletrobras (em 2009). Só que a certidão tem essa validade. Desde que entraram não pagaram, não recolheram, um centavo. Nem do Fundo de Garantia, nem do INSS, do imposto de renda, nada. Então teve essa dívida, constituíram essa dívida. Só dessa gestão. A outra estava toda lá (na Timemania). Aí fizeram essa composição, que só foi feita porque comprometeu as cotas de TV que recebe. Senão a Receita não faria.
- Todos acordos estavam sendo cumpridos. Toda hora essa coisa da herança maldita. O Dener, um exemplo, eles nunca mais pagaram um centavo. E essas dívidas, todos acordos, têm multa contratual, multa do acordo que é feito. No final, ficam muito maiores por esse fato, deles não terem cumprido. Vamos supor, "ah, eles fizeram todo o resto e não cumpriram isso". Não, eles não cumpriram nada. Ninguém está preocupado com a quantidade de ações que estão sendo movidas em cima deles. Só agora recente tem Carlos Alberto, Alecsandro, Fernando Prass, Renato Silva… Isso é o que? Herança bendita? Já disse e vou repetir: a situação do Vasco não é grave não, é gravíssima. Mas para ter solução na situação do Vasco a primeira coisa é resgatar o Vasco. Passar a ter representatividade, aí cuidar das coisas. Mas a força do Vasco existe. Se visse alguém que tivesse condições realmente… Acho que as pessoas ainda não entenderam esse negócio da minha volta para o Vasco, numa função efetivamente executiva. Eu me sinto em condições de resgatar o Vasco e se não solucionar, pelo menos minimizar toda essa quantidade de problemas que está enfrentando. Tenho capacidade para isso. Não vejo ninguém que se apresente com essa mesma capacidade e disposição.
Planos para o futebol
- Tudo se resume em administração, gestão. Se arrecadou R$ 150 milhões por ano, isso tudo é problema de gestão. Vou dar só um exemplo, você não pode contratar um jogador como o Nei e pagar R$ 200 mil por mês e fazer um contrato de três anos, ele está lá. Quem paga? A tia? Isso tudo é problema de gestão. Tudo isso você vai enfileirar uma série de casos, isso é problema de gestão. Se um tem capacidade de gestão, outro não tem, aí é outra conversa.
Modelo de gestão
- Nunca fui crítico de profissionalização, nunca fui contra. Comigo sempre trabalharam profissionais de alto gabarito. Só que eu sou do tempo de que acima do profissional tem que ter o dirigente amador. É simples: eu te contrato, você é o executivo, mas você não pode ter poderes maiores que o dirigente que tem o mandato. O executivo hoje está aqui, amanhã está ali. E a responsabilidade fica naquele dirigente. Agora, quando você tem dirigente amador fraco, aí permite que o profissional que pode ser da maior competência extrapole das suas funções. Isso que é o problema. Agora o executivo é normal. O cara fala em profissionalização, porque eles botam na cabeça que todo dirigente amador é imbecil. Não é. Como um clube como o meu, que chegou a 116 anos, agora, chegou aonde chegou? Foi dirigido por incompetentes, por incapazes? Agora, houve vários profissionais que trabalharam, mas sob a responsabilidade do dirigente amador. “Ah, o dirigente amador não pode estar lá todo dia”, está bem. Mas tem que saber. Um clube como o Vasco não se dirige por e-mail, não se dirige à distância. Isso não existe. E tem outra coisa elementar em administração. Você acha que tem que ter o executivo que trate do macro e esquece do micro. O somatório do micro leva à situação que a gente se encontra hoje. O executivo não está preocupado se não vai ter água, se o pessoal da grama vai cortar a grama, não está preocupado se vai ter a roupa na lavanderia. Compete ao amador ir em cima dessas pessoas e dizer: "E isso aqui, tem alguma justificativa que eu tenha um administrador que não paga a conta da luz, que não paga a conta da água?" Isso é administrador. Desculpa, né. Na casa dele ele sabe que tem que pagar a conta da água.
- São vergonhas e mais vergonhas. Um somatório de vergonhas. Isso aí me atinge diretamente. Eu não tenho nenhum discurso, de "sentimento não pode parar", sentimento disso, daquilo. Eu sinto! Como sente o torcedor, que se envergonha dessas coisas quando toma conhecimento. Quando se fala em resgatar o Vasco, principalmente, que esse tipo de coisa não aconteça. Se erros foram cometidos, a intenção era fazer o melhor, acertar, mas nem sempre acerta. O sentido de amor pela coisa, quem não administra com amor, não pode querer administrar. Uma instituição como o Vasco tem que ser administrada com amor.