É difícil imaginar que, no meio do ano passado, o agora valorizado Nenê sofreu para encontrar um clube no Brasil. Após anos no exterior, com passagens por Espanha, França, Inglaterra e Oriente Médio, o atacante havia perdido espaço no país natal. O Vasco resolveu apostar no jogador, que, em dezembro, mesmo com o rebaixamento cruz-maltino, tornou-se dos mais cobiçados no futebol tupiniquim. E justamente por causa do apoio no momento difícil que o Gigante da Colina assegurou a permanência de seu novo ídolo, apesar da chuva de ofertas – e tentações - recebidas na virada para 2016.
Empresário de Nenê, Gilvan Costa lembra que a situação mudara completamente em dezembro. Quando oferecera o jogador a diversos clubes no meio do ano, não sentiu empolgação. Santos e Corinthians fizeram propostas abaixo do esperado. Flamengo e Atlético-MG não se interessaram, estavam satisfeitos com o elenco. Após o Campeonato Brasileiro, a história era outra.
- Quando era para voltar para o Brasil, ofereci o Nenê em alguns clubes, e falavam que não precisavam de jogador. Todos enrolaram. Os mesmos que enrolaram foram os que procuraram no fim do ano. O Flamengo disse que já tinha jogador na posição; no Atlético-MG, o Levir (Culpi, então técnico do Galo) achou que o grupo estava bom. Foi o Vasco que apostou, disse: “Vem aqui que você vai ser o cara”. (No fim do ano), dos 12 grandes, só Corinthians, Santos, Inter e Botafogo não fizeram consulta pelo Nenê – contou Gilvan.
De todos os que procuraram Nenê, o Atlético-MG chegou mais longe. Tentou conversar com a diretoria cruz-maltina e ofereceu atletas em troca, mas o Vasco não se interessou, pois sempre tratou o jogador como inegociável. O atacante balançou com a possibilidade de disputar a Libertadores. No fim, Eurico Miranda entrou em cena, e a gratidão ao clube carioca pesou.
- No Atlético, o treinador (Diego Aguirre) o conhecia, porque já tinha trabalhado com ele no Catar. O clube está bem estruturado, disputando competição que ele tinha ambição de disputar novamente. Mas o negócio só era bom para o Atlético. Houve propostas de muitos clubes, o jogador começa a pensar, todo mundo balança. Mas pesou muito a maneira como o presidente tratou ele, os torcedores... O Eurico bancou o Nenê. O clube o abraçou. O Nenê tem muita gratidão por isso.
Eurico em ação
Antes mesmo de o Campeonato Brasileiro terminar, a boa fase de Nenê rendia sondagens de outras equipes. O atacante foi eleito o Craque da Galera e finalizou sua participação com nove gols e quatro assistências. O rebaixamento do Vasco, porém, deixava o futuro do craque em dúvida: com orçamento reduzido, o clube poderia mantê-lo?
A resposta veio rapidamente. Antes mesmo do Natal, Eurico Miranda se reuniu com o jogador e fez simples pergunta:
- Você quer ficar?
O aceno positivo de Nenê acelerou as tratativas. Afinal, procurado por outras equipes, Gilvan dizia que tudo dependia do Vasco. Não havia garantia de que o clube iria mantê-lo. A postura do presidente cruz-maltino surpreendeu o empresário, que citou o bom relacionamento entre o jogador e o dirigente.
- Todo mundo dizia para tomar cuidado com o Eurico, para mim, principalmente, porque eu tratava com ele. Para mim, ele foi firme, tranquilo. De poucas palavras, produtivo, bem direto. Não tenho nada que reclamar dele. Tudo que se comprometeu a fazer, ele fez. Por isso, nós ficamos. Bateu o gênio dele com o do Nenê. Só quem estava na hora percebeu isso.
Um episódio anterior à renovação mostra como se estabeleceu relação de confiança entre as partes. Quando estava para fechar com o Vasco, Nenê assinaria contrato, a princípio, até dezembro de 2015. Sabia que voltava sob desconfiança e precisava mostrar serviço. Eurico, porém, bancou o compromisso até o fim de 2016.
Apoio da torcida
A participação do presidente vascaíno não foi o único fator que pesou na permanência de Nenê. O técnico Jorginho, ao definir permanência para 2016, logo procurou o atacante para ressaltar que contava com ele.
- Eu conversei com ele, já estava de férias. Trocamos ideias, falamos sobre a importância da permanência dele. É muito bom contar com o Nenê aqui. É bom ele entender o quanto representa hoje para o Vasco e para o futebol brasileiro - contou Jorginho em entrevista coletiva no início do ano.
O carinho da torcida também teve papel importante. Rapidamente identificado, o jogador recebeu inúmeras mensagens nas redes sociais pedindo que ficasse no clube. A resposta, não à toa, veio na última terça-feira, quando, através de seu perfil, o craque escreveu uma carta aos fãs e finalizou garantindo:
- A Cruz de Malta estará sempre nas minhas veias. Eu sou Vasco.
Para chegarem ao novo acordo com o Vasco, Nenê e Gilvan precisaram de poucas reuniões (“Duas ou três”, contou o empresário) com a diretoria. O contrato prevê extensão até dezembro de 2018, uma forma de incluir o craque no projeto de retomada do clube. Mas também houve reajuste salarial de cerca de 20%.
Ainda assim, a questão financeira não foi determinante. Segundo Gilvan, Nenê recebeu oferta de um clube do Catar, mais vantajosa economicamente, mas não se empolgou no momento. A intenção é retribuir o carinho do Vasco. O futuro, porém, não está totalmente garantido.
- Ele pegou amor pelo clube, pela torcida. Não estava se sentindo à vontade de sair do clube e deixar o clube nesta situação. Seria bom para ele, mas para o clube não adiantaria nada. Isso pesou muito. Nada mais justo que ele passe essa temporada, bote o Vasco onde tem que colocar, e, aí, o destino é Deus quem vai guiar. Não tem como dizer o futuro – completou Gilvan.