Apesar da eliminação precoce no Campeonato Carioca, Ramon Menezes mostrou logo de cara que pretende dar ao Vasco uma nova identidade dentro de campo, deixando para trás o baixo rendimento até a paralisação do futebol devido à pandemia do novo Coronavírus. Vale lembrar que, antes da interrupção das atividades esportivas, o Cruz-Maltino tinha o pior ataque entre os 20 clubes da Série A, com apenas oito gols marcados em 14 jogos, média de apenas 0,57 gol por partida.
Nos dois primeiros duelos sob o comando do treinador, contra Macaé e Madureira, foram duas vitórias e quatro gols marcados. A principal mudança observada está na concentração de jogadas pelo lado direito do campo. No primeiro semestre, 62,5% dos gols marcados pelo Vasco vieram de jogadas pelo setor esquerdo. No retorno às atividades, diante do Macaé, apenas 36,3% das investidas vascaínas foram pela esquerda; contra o Tricolor Suburbano, 41,1%.
Apostando na dobradinha entre o jovem Vinícius e Yago Pikachu, Ramon deu mais liberdade aos dois e conteve os avanços do lateral-esquerdo Henrique, o que vem surtindo efeito nos números do time. Após a volta do futebol, todos os gols surgiram de ações pelo lado direito - antes, esse número era de 37,5% -, além da jogada que resultou no pênalti sofrido por Pikachu contra o Macaé. Além disso, 17 das 28 (60,7%) chegadas de perigo nos dois jogos foram pelo setor.
Outro reflexo do trabalho de Ramon no estilo de jogo do Vasco é a diminuição do expediente de alçar bolas na área. Com Abel Braga no comando, quatro dos oito gols marcados (50%) saíram de cruzamentos, sendo três de cabeça (37,5%). Nas duas últimas partidas pelo Carioca, o Vasco valorizou mais a bola no chão, tendo marcado todos os gols a partir de passes rasteiros - excluindo da conta o pênalti que Cano converteu.
Somado a isso, vale destacar a maior participação dos volantes na conclusão das jogadas. Os jogos diante de Macaé e Madureira tiveram as primeiras assistências de jogadores dessa posição em 2020 - os autores foram Fellipe Bastos e Raul, respectivamente. Anteriormente, atacantes e laterais - quase sempre através de cobranças de escanteio - eram dominantes em passes para gol. Foram 11 assistências nessa temporada - os líderes são Pikachu e Talles Magno, com duas cada.
Com a saída de Marrony, Ramon aposta suas fichas em Talles Magno e Vinícius, dois jovens com personalidade e que não têm medo de chamar a responsabilidade. Contra o Madureira, por exemplo, apesar da forte marcação, a dupla, que foi substituída na etapa final, esteve presente em nove das 17 (53%) tentativas perigosas da equipe no ataque. Ao todo, o Vasco teve média de 18 finalizações nos dois jogos sob o comando do novo técnico.
Porém, diante de todos os números, algo que não mudou foi o principal nome da equipe em 2020. Contratado no início da temporada, Germán Cano segue conquistando a torcida vascaína. Artilheiro absoluto, o argentino marcou nove dos 12 gols do time na temporada, o que representa 75% das bolas na redes do time. O camisa 14 também é líder na estatística de finalizações, com 53 arremates, o que equivale a 21,2% do total da equipe de São Januário, de 249 em 15 jogos (o duelo contra o Flamengo, pela Taça Guanabara, não entra na conta em função de a partida não ter sido transmitida).
Nos dois jogos com Ramon, Cano finalizou oito vezes e marcou quatro gols, um aproveitamento de 50%. O desempenho no Vasco mostra que o argentino tem potencial de sobra para repetir a grande temporada que teve em 2019, quando marcou 37 gols em 39 partidas pelo Independiente Medellín, da Colômbia - 0,94 gol por jogo.
Após dar adeus ao estadual, os comandados por Ramon terão um mês para trabalhar e fortalecer suas estratégias e cartas na manga para a estreia no Campeonato Brasileiro, contra o Palmeiras, na Arena Palmeiras. Esse será o primeiro grande desafio do treinador, que poderá dar sequência ao bom início de trabalho e, quem sabe, garantir um ano mais tranquilo ao torcedor vascaíno.